Thomas More afirma: “A pobreza do povo é a defesa da monarquia... A indigência e a miséria eliminam toda coragem, embrutecem as almas, acomodam-nas ao sofrimento e à escravidão e as oprimem a ponto de tirar-lhes toda a energia e sucumbir ao jugo”. Dessa forma, concluí-se, ter dinheiro, alimento e conforto, permite também que se tenha coragem. Podemos observar que a condição do medroso era mesmo de miséria justamente porque a miséria mesma induzia à fragilidade e à covardia. A miséria humilha, destrói. A bravura e a valentia eram características dos nobres e endinheirados. Assim é fácil. Isso pode ser observado nas fotos e esculturas da época da Renascença. Os homens deixavam-se retratar de peito inflado, rosto altivo e sorriso suave nas faces coradas.
Mas a despeito de todas os esforços para superar e negar o medo, só há uma verdade: “Não há homem acima do medo”. Prova disso é que os homens, mesmo os cavalheiros corajosos, usaram amuletos, criaram imagens de santos, anjos de guarda e templos para deuses que pudessem protegê-los. Nenhuma civilização escapou desse ritual. A necessidade de segurança está na raiz da afectividade e da moral humana. Quem não tem medo está, na melhor das hipóteses, doente. Como o homem é o único animal que sabe que vai morrer e por isto, é o único no reino animal a conhecer o medo num grau tão terrível e duradouro. Entretanto, paradoxalmente, o medo é que nos permite escapar provisoriamente da morte.
6 comentários:
não sei se é medo puro, mas é seguramente instinto de sobrevivencia, coisa que todos os animais têm. nós é que lhe damos mais umas voltas...
beijos
Cristina,
Lhe damos mais umas voltas e que voltas! Daí ser verdade que "quem tem cu tem medo".
O Thomas More escreveu a "Utopia" para acabar com as monarquias, mas o Henrique VIII cortou-lhe a cabeça, porque sendo católico foi temerário o suficiente para não reconhecer o Rei como chefe da nova religião anglicana. Até hoje, porém, os súbditos ingleses ainda não se revoltaram da sua condição miserável e humilhante.
caro Jorge,
É medo que nos governa, o medo de ser livre. Quando livres ( ou um pouco mais livres), colocamos em causa o poder, as religiões e outras formas de ditadura.
Para um esfomeado, Deus só pode aparecer como um prato de comida.
Este More, era o amigo de Erasmo que escreveu o "elogio da loucura".
Como dizia o seu amigo,o nome de More sendo parecido com "Mória", não é de estranhar, que ele tenha vencido o medo com a sua loucura.
O mundo é feito de medos por falta de loucura.
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