segunda-feira, novembro 26, 2012

Mais do mesmo


“No contexto económico criado pela União Económica e Monetária não é aceitável que a política fiscal quase não tenha eficácia enquanto instrumento de política económica; como aceitar que a taxa do IVA passe de 17 para 19% e as receitas não acompanhem o aumento?”

In http://jumento.blogspot.pt/ Thursday, February 10, 2005

 

Ainda a afinação da banza, tipo de "Lisboa" feita no Escoural.

Ainda a afinação da banza, tipo de "Lisboa" feita no Escoural.




sábado, novembro 24, 2012

Em equipa que ganha, mexe-se


Em equipa que ganha, mexe-se

 

Não há nada de mais errado do que este ditado popular que diz que “em equipa que ganha não se mexe”. Sempre achei esta ideia muito curiosa, porque penso que é muito perversa e excessivamente conservadora. No fundo o que este ditado diz é que se uma equipa ganha, ou seja, apresenta bons resultados, então é porque é uma boa equipa e não se deve mexer nela. Mas então quando é que se deve mexer? Se não se mexe enquanto ganha, então esperamos que perca para poder mexer. É por isso uma estratégia perdedora, a curto-médio prazo, e muito deficiente.

sexta-feira, novembro 23, 2012

Ecce Gratum* - Carmina Burana (5) - Carl Orff


Ecce Gratum

Ecce gratum
et optatum
ver reducit gaudia,
purpuratum
floret pratum,
Sol serenat omnia.
Iam am cedant tristia!
Estas redit,
nunc recedit
Hyemis sevitia.
Iam liquescit
et decrescit
grando, nix et cetera,
bruma fugit,
et iam sugit
Ver estatis ubera;
illi mens est misera,
qui nec vivit,
nec lascivit
sub Estatis dextera.
Gloriantur
te letantur
in melle dulcedinis,
qui conantur,
ut utantur
premio Cupidinis:
simus jussu Cypridis
gloriantes
et letantes
pares esse Paridis.



Ecce Gratum (Tradução)

Eis a cara Primavera

Eis a cara
e desejada
primavera que traz de volta a alegria:
flores púrpuras
cobrem os prados
o sola tudo ilumina.
Já se dissipam as tristezas!
Retorna o verão,
agora fogem os rigores do inverno. Ah!

Já se liquefazem
e desaparecem
o gelo, neve, etc.
A bruma foge,
a a primavera suga
o seio do verão;
É de lamentar-se
aquele que não vive
nem se entrega
à doce lei do verão. Ah!

Que provem glória
felicidade
doce como o mel,
aqueles que ousam
aspirar
ao prêmio do Cupido;
Sob o comando de Vênus
glorifiquemos
e rejubilemo-nos
a exemplo de Páris. Ah!

quinta-feira, novembro 15, 2012

A A17 obrigou-me a ficar onde estou


A A17 obrigou-me a ficar onde estou

….” Devo estar enganado, cuido eu, a orientara-me. Devo estar enganado. Olho e reolho em toda a volta, mas não vejo nem a casa, nem as figueiras, nem o retalho das leiras que eu conhecia como a palma das mãos. O sol já vai alto e é bem capaz de me ter embrulhado o juízo. Mas penso que sei onde estou. Daqui, vejo o pinhal alto do cabeção, a casa do Porlico, as terras do Curto e a aba dos pinheiros da Lagoa do Porco. Não, eu não posso estar enganado. O estradalhão é que me fez perder o juízo, se é que o perdi, não foi o sol a arder-me no moleirinha e a dar comigo em tolo. Eu tinha pegado um ramalzito que vinha da porta do Zé das Sementes e entroncava depois na estrada do Brejo, bem perto já da casa do Moléstia. Dantes, lembro-me bem, este ramal era caminho-de-carro que seguia sempre, após cruzar-se com a estrada, virado ao Cabeção e ao Pousio. Depois, perdia-se pelos atalhos e serventias do Arneiro Meão. Sei bem o que estou a dizer. Mas, porém. Enquanto estive no Ribeiro da Horta, passaram-se coisas que nem lembram ao mais pintado dos diabos. A A17 obrigou-me a parar aqui onde estou, porque a estradita por onde eu vinha ficou-lhe por debaixo, abacelada, de fora do mapa. Esse ramalzito ficou desexistido. E fizeram uma ponte com duas saídas lá em cima.….”
[Idalécio Cação]

(Texto subversivo e inédito)

quarta-feira, novembro 14, 2012

A muralha da China


A muralha da China
 
….” O que eu quero é deixar contadas aqui as horas em que todos vivíamos felizes, sem nada a impedir-nos de falarmos uns com os outros. Principalmente os vizinhos de porta com porta, como sucedia comigo e o meu amigo compadre Luzio. Mesmo assim, sabe-me bem voltar ao estribilho. Entoá-lo um pouco mais ou menos é o meu desvelo, eis a questão. Ou o meu calvário, conforme. Lembro-me bem, tão vizinhos que nós éramos todos, eu que o diga, que é difícil esquecer esses pontos de verdade. Casas com casas, pinhais com pinhais, searas de pão com searas de pão. O sol nascia sempre do mesmo lado, das bandas do castelo, lembro-me como se fosse hoje, entre a casa da Maria Ferrita e o pinheiro do Arménio. E o astro, a erguer-se na sua glória, floreava sobre as searas, bafejava-as nas crescenças, poisava a sua luz nas folhas e nas espigas, até aloirarem no tempo das colheitas.….”
[Idalécio Cação]
 
(Texto subversivo e inédito)

 

Ler é sempre uma coisa de respeito


….”Ler é sempre uma coisa de respeito, e tem de haver muito silêncio para um homem não se perder na leitura e dar o tom mais conveniente às notícias. Ler é como apanhar fruta numa árvore, colhê-la, e dá-la a comer a quem não pode chegar lá acima. Agente recebe as palavras ouvidas, sempre com as orelhas guiadas, não vá perder-se nem um grãozinho da leitura, nem o seu tom…….”

[Idalécio Cação]
(Texto subversivo e inédito)

terça-feira, novembro 13, 2012

Omnia Sol Temperat - Carmina Burana (4) - Carl Orff


Omnia Sol Temperat
Omnia sol temperat
purus et subtilis,
novo mundo reserat
faciem Aprilis,
ad amorem properat
animus herilis
et iocundis imperat
deus puerilis.

Rerum tanta novitas
in solemni vere
et veris auctoritas
jubet nos gaudere;
vias prebet solitas,
et in tuo vere
fides est et probitas
tuum retinere.

Ama me fideliter,
fidem meam noto:
de corde totaliter
et ex mente tota
sum presentialiter
absens in remota,
quisquis amat taliter,
volvitur in rota.
 
Omnia Sol Temperat (tradução)
O sol aquece a tudo
puro e sutil,
Abril de novo revela
sua face ao mundo,
ao amor incita
a alma do homem,
e o deus pueril governa
sobre os prazeres.

Todo esse renascer
na festividade da primavera
e seu poder
nos convida a alegrar-nos,
mostra caminhos conhecidos,
e na tua primavera
é justo e leal
reteres teu amante.

Ama-me fielmente,
percebe a minha fidelidade
totalmente de coração
e de toda a mente,
estou presente
mesmo quando estou longe:
quem ama de tal modo
é torturado na roda.

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segunda-feira, novembro 12, 2012

Deus, o ser imperfeito


Deus, o ser imperfeito

 

“”…. Segundo o missal que o padre nos lê, Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Sou ignorante e pouco ou nada entendo destas coisas. Mas ainda assim, penso que Deus é um ser imperfeito, tal qual o bicho criado por ele, que mata e rouba o seu semelhante, que ateia a guerra e se vende por dinheiro, que é capaz das maiores tropelias. Sabe-se, e já o ouvi dizer a gentes de muitas letras, que o homem é o lobo do homem, e olhai que é bem verdade, penso eu, embora não saiba nada do mundo. Se eu estou errado, e se desconheço certos porquês, que Deus me perdoe. ……”

[Idalécio Cação]

(Texto subversivo e inédito)

sexta-feira, novembro 09, 2012

quinta-feira, novembro 08, 2012

Sinais reveladores


O deus da finança que ninguém vê, com os seus santos representantes sentados no alto do trono infalível e papal, decreta destes as suas doutrinas e dogmas, exige penitências e persignações através dos seus missionários, num proselitismo doutrinal constante, neste actual maximizar das culpas dos servos e nobilizando os senhores da sua graça divina. O novo cavaleiro do apocalipse revelador que aqui se mostra montado no seu cavalo de cascos silenciosos, entrando pela porta dos fundos da casa, paciente na espera no galgar dos nossos muros.

O medo invadiu os pinhais contaminados de eucaliptos, tojos, silvas e matagais da Gândara, entra quintais adentro, substituindo a invasão das areias dunares que em tempos idos, todoo os cultivos abafavam, paulatinamente, ao sabor e capricho do vento mareiro.

Sinais demasiado reveladores.

terça-feira, novembro 06, 2012

Sol, o deus da Gândara.


 
Sol, o deus da Gândara.
Lembro-me bem: tão vizinhos que nós éramos todos. E sempre saudando a manhã, e olhando-a de frente, com muita confiança e fé. Morávamos perto uns dos outros, casas com casas, pinhais com pinhais, searas de pão com searas de pão, no Brejo, em volta do nosso casal. O sol, ao abrir os olhos da manhã, clareava de luz as nossas searas, e fazia-as medrar. E era o milho a espipar, e o pão-macho, até aloirarem no tempo da colheita. O centeio não se ficava atrás e botava a espiga, onde a gente em cachopos ia apanhar o dente-de-cão para vendermos depois na loja do Zé Gadelheira. E amadureciam as uvas num tom de mel: ou na cor de uva diagalves, ou da vale-de-alicante ou da moscatel. Um deus tão muito bom e amigo das searas, o sol. Esse deus antigo, o sol que tudo criava, parece ter-se esquecido de nós para sempre. Que já não tem o calor nem o brilho desse tempo. O sol que tudo criava.
[Idalécio Cação]
(Texto subversivo e inédito)

 

segunda-feira, novembro 05, 2012

Também não nos tentam enganar sempre a falar do passado, como se erros passados justificassem crimes presentes.