terça-feira, novembro 06, 2012

Sol, o deus da Gândara.


 
Sol, o deus da Gândara.
Lembro-me bem: tão vizinhos que nós éramos todos. E sempre saudando a manhã, e olhando-a de frente, com muita confiança e fé. Morávamos perto uns dos outros, casas com casas, pinhais com pinhais, searas de pão com searas de pão, no Brejo, em volta do nosso casal. O sol, ao abrir os olhos da manhã, clareava de luz as nossas searas, e fazia-as medrar. E era o milho a espipar, e o pão-macho, até aloirarem no tempo da colheita. O centeio não se ficava atrás e botava a espiga, onde a gente em cachopos ia apanhar o dente-de-cão para vendermos depois na loja do Zé Gadelheira. E amadureciam as uvas num tom de mel: ou na cor de uva diagalves, ou da vale-de-alicante ou da moscatel. Um deus tão muito bom e amigo das searas, o sol. Esse deus antigo, o sol que tudo criava, parece ter-se esquecido de nós para sempre. Que já não tem o calor nem o brilho desse tempo. O sol que tudo criava.
[Idalécio Cação]
(Texto subversivo e inédito)

 

1 comentário:

Anónimo disse...

Hello. And Bye.