quinta-feira, outubro 27, 2022

Poema cozinhado em lume brando

 


Lancem-se as palavras no tanque de lavagem.

As palavras terão que estar claras, lavadinhas para serem cozinhadas.

Os advérbios de modo terão, obrigatoriamente, de ser apartados das restantes palavras, trabalho que não é assim tão penoso e difícil  no crivar, dado o seu peso impactante na conversação diária, notando-se de sobre maneira no vozeado.

Mas como em toda a escolha com reparações e correções, haverá, mesmo assim, algum que passará à peneira da triagem auditiva.

Depois de crivadas, polidas e lavadas, uma a uma, lançam-se ao panelão.

As proporções, que só os entendidos conhecem, não são para aqui chamadas. Estamos na nouvelle cousine.

Aqui só para nós, qualquer proporção serve, mesmo a ordem de juntar os ingredientes é-nos indiferente.

O recipiente da cozedura da amálgama vozeada deverá estar em lume brando.

O banho- Maria é o mais indicado, mas não é obrigatório nem necessário o seu uso.

É mexer continuamente, sempre no mesmo sentido, para não entoldar as palavras na cozedura.

Quando estiver a ponto, vaza-se  o misturado na travessa da exposição.

Et voilà!

Eis o poema cozinhado em lume brando.


Sem comentários: