terça-feira, julho 08, 2014

Tanta é a fartura que já não apetece comer.

Tanta é a fartura que já não apetece comer.
Depois do enxameamento das associações e colectividades de ranchos e grupos folclóricos, temos o último fenómeno de materialização de fadistas, a torto e a direito.
Terminada a época das noites de fados, eis que os festivais de folclore aparecem em força, passada que foi a época das marchas dos santos populares. Até do desfile de Carnaval mais famoso do mundo, que é o do Rio, já me informaram que teve influência das marchas de Lisboa. Imaginem as coisas que eu ouço! Isto para não falar dos fins-de-semana gastronómicos, vinhos e petiscos, onde um qualquer vereador municipal da cultura, além de munido do discurso chapa cinco, deve também estar municiado, geneticamente, de um bom gancho de fígado e sucos estomacais de reserva.
Cultura a quanto obrigas neste tempo de espelhos, onde o buraco do BES não tem reflexo possível, logo não existe.

2 comentários:

Bruno E. Santos disse...

Há folclores e folclores!

Segundo me contou uma vez o meu falecido avô, por volta das décadas de 20-30 existiriam 2 ranchos folclóricos na Tocha. E em cada um havia muitas dezenas de adultos e jovens a competir para o representar, mais outros tantos para lá conseguir entrar.

Se a maioria dos ranchos actuais conseguir reunir 20 a 30 pessoas entre músicos, cantores, dançarinos e dirigentes associativos, já se podem considerar um previlegiados!

Manel disse...

Caro Bruo,
Nos anos 30 do século passado os ranchos não eram folclóricos, mas sim, um tipo mais regional ou com alguns tipicismos.
Os trajes eram inventados para o efeito, assim como as músicas e as danças,eram baseadas no tradicional, não mais do que isso. O mesmo se passou com as marchas populares.
Temos os Esticadinhos de Cantanhede, como o exemplo de tentativa de manter essa origem do rancho regional. Daí até ao aparecimento de ranchos federados na Federação de Folclore há uma história que se sabe, mas a meu ver é pouco conhecida, ou aparentemente pouco divulgada.
Os tempos mudaram, e a memória agrícola, a base do folclore, das nossas origens já não faz parte da geração jovem. Daí o definhar das tradições e das pseudo tradições.
Há o recente fenómeno fado, onde nem tudo o é, e as marchas que dos santos populares, essas sim, as herdeiras dos iniciais ranchos dos anos 30.