terça-feira, setembro 03, 2013

Não se fala a ninguém, tal nunca aconteceu.


A noite é no largo toda inundada de luz como um campo de futebol, daqueles do Euro 2004, da primeira divisão. Se estes luzeiros todos existissem quarenta anos atrás, até os treinos do União teriam sido aqui no largo e os miúdos, os tantos que havia na altura, jogariam à bola todas as noites, tal qual o faziam nas noites de luar de Agosto. Tudo vazio, e ela cheirosa convidava-o a entrar com naturalidade. Como não se conta, tal não aconteceu. Depois de um tempo de longas e ofegantes práticas olha o largo vazio, cheio de luz potente e branca a cegar o santuário. Ninguém para usufruir do fruto dos holofotes, fotões ali colocados pelo senhor presidente, a obra feita, enquanto ele olha as fotos de casamento ali colocadas sobre o móvel do quarto. Sai da casa, atravessa o largo iluminado naquela hora de luz que tudo ilumina e que não dá para ver se alguém passa. A fotografia sorridente do ausente marido lá está sobre o móvel a olhar para ela. Não se fala a ninguém, tal nunca aconteceu, nem poderia acontecer ou vir a acontecer, não é?
(Manuel Ribeiro)
Texto inédito e subversivo.

1 comentário:

Bruno E. Santos disse...

Já houve mais luz no largo do que agora, pois há cerca de um ano andaram a substituir as lâmpadas dos holofotes por outras menos potentes. Ainda cheguei a fazer umas experiências fotográficas com as originais:

http://visoesdagandara.blogspot.pt/2012_04_01_archive.html

Mas o contraste com a situação de há 20-30 anos é abismal. Na Tocha e em todo o país.

http://earthobservatory.nasa.gov/IOTD/view.php?id=76777