quinta-feira, novembro 15, 2012

A A17 obrigou-me a ficar onde estou


A A17 obrigou-me a ficar onde estou

….” Devo estar enganado, cuido eu, a orientara-me. Devo estar enganado. Olho e reolho em toda a volta, mas não vejo nem a casa, nem as figueiras, nem o retalho das leiras que eu conhecia como a palma das mãos. O sol já vai alto e é bem capaz de me ter embrulhado o juízo. Mas penso que sei onde estou. Daqui, vejo o pinhal alto do cabeção, a casa do Porlico, as terras do Curto e a aba dos pinheiros da Lagoa do Porco. Não, eu não posso estar enganado. O estradalhão é que me fez perder o juízo, se é que o perdi, não foi o sol a arder-me no moleirinha e a dar comigo em tolo. Eu tinha pegado um ramalzito que vinha da porta do Zé das Sementes e entroncava depois na estrada do Brejo, bem perto já da casa do Moléstia. Dantes, lembro-me bem, este ramal era caminho-de-carro que seguia sempre, após cruzar-se com a estrada, virado ao Cabeção e ao Pousio. Depois, perdia-se pelos atalhos e serventias do Arneiro Meão. Sei bem o que estou a dizer. Mas, porém. Enquanto estive no Ribeiro da Horta, passaram-se coisas que nem lembram ao mais pintado dos diabos. A A17 obrigou-me a parar aqui onde estou, porque a estradita por onde eu vinha ficou-lhe por debaixo, abacelada, de fora do mapa. Esse ramalzito ficou desexistido. E fizeram uma ponte com duas saídas lá em cima.….”
[Idalécio Cação]

(Texto subversivo e inédito)

1 comentário:

Anónimo disse...

Hello. And Bye.