«Sabes o que me lembra este céu? Mais ou menos: a guerra dos astros. Tal e qual. A guerra dos mundos. Um sol maléfico, que tenta destruir a maquete, e sete planetas menores que tentam defendê-la.» [Finisterra, Carlos de Oliveira]
terça-feira, novembro 27, 2012
segunda-feira, novembro 26, 2012
Mais do mesmo
“No contexto económico criado pela União
Económica e Monetária não é aceitável que a política fiscal quase não tenha
eficácia enquanto instrumento de política económica; como aceitar que a taxa do
IVA passe de 17 para 19% e as receitas não acompanhem o aumento?”
sábado, novembro 24, 2012
Em equipa que ganha, mexe-se
Em equipa que ganha, mexe-se
Não há nada de mais errado do que este ditado popular que diz que “em equipa que ganha não se mexe”. Sempre achei esta ideia muito curiosa, porque penso que é muito perversa e excessivamente conservadora. No fundo o que este ditado diz é que se uma equipa ganha, ou seja, apresenta bons resultados, então é porque é uma boa equipa e não se deve mexer nela. Mas então quando é que se deve mexer? Se não se mexe enquanto ganha, então esperamos que perca para poder mexer. É por isso uma estratégia perdedora, a curto-médio prazo, e muito deficiente.
sexta-feira, novembro 23, 2012
Ecce Gratum* - Carmina Burana (5) - Carl Orff
Ecce Gratum
Ecce gratum
et optatum
ver reducit gaudia,
purpuratum
floret pratum,
Sol serenat omnia.
Iam am cedant tristia!
Estas redit,
nunc recedit
Hyemis sevitia.
Iam liquescit
et decrescit
grando, nix et cetera,
bruma fugit,
et iam sugit
Ver estatis ubera;
illi mens est misera,
qui nec vivit,
nec lascivit
sub Estatis dextera.
Gloriantur
te letantur
in melle dulcedinis,
qui conantur,
ut utantur
premio Cupidinis:
simus jussu Cypridis
gloriantes
et letantes
pares esse Paridis.
Ecce Gratum (Tradução)
Eis a cara Primavera
Eis a cara
e desejada
primavera que traz de volta a alegria:
flores púrpuras
cobrem os prados
o sola tudo ilumina.
Já se dissipam as tristezas!
Retorna o verão,
agora fogem os rigores do inverno. Ah!
Já se liquefazem
e desaparecem
o gelo, neve, etc.
A bruma foge,
a a primavera suga
o seio do verão;
É de lamentar-se
aquele que não vive
nem se entrega
à doce lei do verão. Ah!
Que provem glória
felicidade
doce como o mel,
aqueles que ousam
aspirar
ao prêmio do Cupido;
Sob o comando de Vênus
glorifiquemos
e rejubilemo-nos
a exemplo de Páris. Ah!
quinta-feira, novembro 15, 2012
A A17 obrigou-me a ficar onde estou
A A17 obrigou-me a ficar onde estou
….” Devo estar enganado, cuido eu, a orientara-me. Devo
estar enganado. Olho e reolho em toda a volta, mas não vejo nem a casa, nem as
figueiras, nem o retalho das leiras que eu conhecia como a palma das mãos. O
sol já vai alto e é bem capaz de me ter embrulhado o juízo. Mas penso que sei
onde estou. Daqui, vejo o pinhal alto do cabeção, a casa do Porlico, as terras
do Curto e a aba dos pinheiros da Lagoa do Porco. Não, eu não posso estar enganado.
O estradalhão é que me fez perder o juízo, se é que o perdi, não foi o sol a
arder-me no moleirinha e a dar comigo em tolo. Eu tinha pegado um ramalzito que
vinha da porta do Zé das Sementes e entroncava depois na estrada do Brejo, bem
perto já da casa do Moléstia. Dantes, lembro-me bem, este ramal era
caminho-de-carro que seguia sempre, após cruzar-se com a estrada, virado ao Cabeção
e ao Pousio. Depois, perdia-se pelos atalhos e serventias do Arneiro Meão. Sei
bem o que estou a dizer. Mas, porém. Enquanto estive no Ribeiro da Horta, passaram-se
coisas que nem lembram ao mais pintado dos diabos. A A17 obrigou-me a parar
aqui onde estou, porque a estradita por onde eu vinha ficou-lhe por debaixo,
abacelada, de fora do mapa. Esse ramalzito ficou desexistido. E fizeram uma
ponte com duas saídas lá em cima.….”
[Idalécio Cação]
(Texto subversivo e inédito)
quarta-feira, novembro 14, 2012
A muralha da China
A muralha da China
….” O que eu quero é deixar contadas aqui as horas em que
todos vivíamos felizes, sem nada a impedir-nos de falarmos uns com os outros. Principalmente
os vizinhos de porta com porta, como sucedia comigo e o meu amigo compadre
Luzio. Mesmo assim, sabe-me bem voltar ao estribilho. Entoá-lo um pouco mais ou
menos é o meu desvelo, eis a questão. Ou o meu calvário, conforme. Lembro-me
bem, tão vizinhos que nós éramos todos, eu que o diga, que é difícil esquecer
esses pontos de verdade. Casas com casas, pinhais com pinhais, searas de pão
com searas de pão. O sol nascia sempre do mesmo lado, das bandas do castelo,
lembro-me como se fosse hoje, entre a casa da Maria Ferrita e o pinheiro do
Arménio. E o astro, a erguer-se na sua glória, floreava sobre as searas,
bafejava-as nas crescenças, poisava a sua luz nas folhas e nas espigas, até
aloirarem no tempo das colheitas.….”
[Idalécio Cação]
(Texto subversivo e inédito)
Ler é sempre uma coisa de respeito
….”Ler é sempre uma coisa de respeito, e tem de haver muito
silêncio para um homem não se perder na leitura e dar o tom mais conveniente às
notícias. Ler é como apanhar fruta numa árvore, colhê-la, e dá-la a comer a
quem não pode chegar lá acima. Agente recebe as palavras ouvidas, sempre com as
orelhas guiadas, não vá perder-se nem um grãozinho da leitura, nem o seu tom…….”
[Idalécio Cação]
(Texto subversivo e inédito)terça-feira, novembro 13, 2012
Omnia Sol Temperat - Carmina Burana (4) - Carl Orff
Omnia Sol Temperat
Omnia sol temperat
purus et subtilis,
novo mundo reserat
faciem Aprilis,
ad amorem properat
animus herilis
et iocundis imperat
deus puerilis.
Rerum tanta novitas
in solemni vere
et veris auctoritas
jubet nos gaudere;
vias prebet solitas,
et in tuo vere
fides est et probitas
tuum retinere.
Ama me fideliter,
fidem meam noto:
de corde totaliter
et ex mente tota
sum presentialiter
absens in remota,
quisquis amat taliter,
volvitur in rota.
Omnia Sol Temperat (tradução)
O sol aquece a tudo
puro e sutil,
Abril de novo revela
sua face ao mundo,
ao amor incita
a alma do homem,
e o deus pueril governa
sobre os prazeres.
Todo esse renascer
na festividade da primavera
e seu poder
nos convida a alegrar-nos,
mostra caminhos conhecidos,
e na tua primavera
é justo e leal
reteres teu amante.
Ama-me fielmente,
percebe a minha fidelidade
totalmente de coração
e de toda a mente,
estou presente
mesmo quando estou longe:
quem ama de tal modo
é torturado na roda.
segunda-feira, novembro 12, 2012
Deus, o ser imperfeito
Deus, o ser imperfeito
“”…. Segundo o missal que o padre
nos lê, Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Sou ignorante e pouco ou
nada entendo destas coisas. Mas ainda assim, penso que Deus é um ser
imperfeito, tal qual o bicho criado por ele, que mata e rouba o seu semelhante,
que ateia a guerra e se vende por dinheiro, que é capaz das maiores tropelias.
Sabe-se, e já o ouvi dizer a gentes de muitas letras, que o homem é o lobo do
homem, e olhai que é bem verdade, penso eu, embora não saiba nada do mundo. Se
eu estou errado, e se desconheço certos porquês, que Deus me perdoe. ……”
[Idalécio Cação]
(Texto subversivo e inédito)
sexta-feira, novembro 09, 2012
quinta-feira, novembro 08, 2012
Sinais reveladores
O deus da finança que ninguém vê,
com os seus santos representantes sentados no alto do trono infalível e papal,
decreta destes as suas doutrinas e dogmas, exige penitências e persignações
através dos seus missionários, num proselitismo doutrinal constante, neste
actual maximizar das culpas dos servos e nobilizando os senhores da sua graça
divina. O novo cavaleiro do apocalipse revelador que aqui se mostra montado no
seu cavalo de cascos silenciosos, entrando pela porta dos fundos da casa,
paciente na espera no galgar dos nossos muros.
O medo invadiu os pinhais contaminados
de eucaliptos, tojos, silvas e matagais da Gândara, entra quintais adentro,
substituindo a invasão das areias dunares que em tempos idos, todoo os cultivos
abafavam, paulatinamente, ao sabor e capricho do vento mareiro.
Sinais demasiado reveladores.
terça-feira, novembro 06, 2012
Sol, o deus da Gândara.
Sol, o deus da Gândara.
Lembro-me bem: tão vizinhos que nós éramos todos. E sempre
saudando a manhã, e olhando-a de frente, com muita confiança e fé. Morávamos
perto uns dos outros, casas com casas, pinhais com pinhais, searas de pão com
searas de pão, no Brejo, em volta do nosso casal. O sol, ao abrir os olhos da
manhã, clareava de luz as nossas searas, e fazia-as medrar. E era o milho a
espipar, e o pão-macho, até aloirarem no tempo da colheita. O centeio não se ficava
atrás e botava a espiga, onde a gente em cachopos ia apanhar o dente-de-cão
para vendermos depois na loja do Zé Gadelheira. E amadureciam as uvas num tom
de mel: ou na cor de uva diagalves, ou da vale-de-alicante ou da moscatel. Um
deus tão muito bom e amigo das searas, o sol. Esse deus antigo, o sol que tudo
criava, parece ter-se esquecido de nós para sempre. Que já não tem o calor nem
o brilho desse tempo. O sol que tudo criava.
[Idalécio Cação]
(Texto subversivo e inédito)
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