quarta-feira, julho 18, 2012

O corvo de Triberg

O corvo de Triberg
Um tempo de Verão que percorre os nossos Março, Abril e Maio, alterando entre chuva, nublado e sol, isto tudo num só dia e várias vezes ao dia. O ruído da cascata embrulha todo o espaço envolvente como o do Mar da Tocha a...o longe, em dias de temporal. Uma chuva miúda de céu forrado como no romance Mazurca para dois mortos do Nobel Cela, como se fosse em plena Galiza. Por aí acima, a montanha neste Verão alemão vem uma luz do céu, uma claridade difusa de sol já posto no vale e ainda a incidir a sua luz em mais de meia montanha. Os terrenos empapados parecem querer escorregar montanha abaixo.
O corvo em voo planado desce cascata e pousa no inclinado telhado, aquele que foi copiado pelo emigrante da região de Fátima, o telhado da casa comercial SCHIKENSTRASSE, Schwarzwälder Spezialitäten, já encerrada ao público, encerrou as 18 horas em ponto, e sabe ao que vem. É naquele espaço que os turistas comem, à alemã, a bucha do meio-dia. São na sua maioria turistas nacionais e os de outras latitudes seguem a regra de em Roma ser romano. O corvo sabe que aquele local está cheio de iguarias. É a hora de começar o seu turno de limpeza.
A funcionária do estabelecimento, de aspecto italiano, tinha acabado de correr os taipais depois de recolher num ápice todos os expositores quando o corvo do voo planado descendente pelas Wasswefälle, saindo dos centenários pinhos, os espruces, que muitos e bons tampos harmónicos de cordofones dariam, como deram e darão outros seus irmãos, altos e de largos diâmetros, destas altas e negras florestas.
Viram passar junto às suas raízes e troncos, mais do que uma vez botas cardadas. Sentiram o trepidar ritmado das marciais andanças e o cheiro dos fumos da pólvora, e lá estão no alto, direitos como mísseis a apontar os céus mais altos que a mãe montanha, elegantes e mais esbeltos que o maior eucalipto do Escoural, aquele enorme eucalipto ao fundo do meu pinhal da minha casa, aquele que era do meu pai.
O corvo, no seu planado voo, desceu o vê que sai da montanha, em centena de metros de cascatas, uma vagina a mijar vida daqui até ao Mar do Norte e a alagar o Reno de tantas lutas e pelejas entre povos e interesses de alguns que os usavam e usam.
O corvo, pousado no telhado, maneia a cabeça, aquele movimento cauteloso e inteligente que só ele sabe, não vá o diabo tecê-las, mesmo com toda protecção que goza na pequena cidade. Na terra dos construtores de relógios de cuco, ele sabe pelo soar das badaladas da torre a que hora a praça está vaga, a que hora janta. O corvo janta às 18 horas em ponto, a hora exacta em que a funcionária de aspecto latino encerra a SCHIKENSTRASSE, Schwarzwälder Spezialitäten.

6 comentários:

Anónimo disse...

Floresta Negra!

Anónimo disse...

Texto Muito Bom. Gosto!

Escaravelho Obscuro disse...

Esta história de extrema pontualidade no mundo animal fez-me recordar um outro caso que conheci.

Tratava-se de um velho gato vadio, cujo nome mudava ao sabor do contexto do país. Na época em que o conheci era denominado de "O Guterres", o qual destronara recentemente "o Cavaco" do poleiro!

Esse gato ia sempre almoçar e jantar a uma cantina, onde era não só tolerado, como acarinhado e protegido por todos. Era a mascote do local!

Todos os dias úteis às 11h59m, lá chegava ele vagaroso e altivo, de cauda no ar a roçar por entre uma multidão de pernas humanas, deitando-se de seguida à frente da porta, onde alguns segundos depois era sempre o primeiro "freguês" a entrar na cantina! Um preciso "relógio biológico" que tinha "este Guterres"!

Anónimo disse...

Que rico banho!

joey disse...

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