quarta-feira, julho 07, 2010

Ir à bosta com um cesto

Rimar trabalho com orvalho será uma saída quando se fala para não dizer nada, enquanto se anda à bosta com cesto neste tempo de vender tudo, até a mãe se derem dinheiro por ela.
Quem irá segurar nas asas do cesto que transporta a moinha serão os mesmos de sempre, pois é à moinha que vamos cantando e rindo, a caminho do céu desse deus mão invisível que acena com crescimentos e ganhos para todos, mas que será só para os eleitos.
Ir à moinha foi prática na Gândara até às décadas de sessenta e setenta do século passado. Constava na recolha manual da bosta largada pelo gado ao longo dos caminhos. Foi um produto valioso para a fertilização das finas e pobres areias gandaresas. Ir à merda com um cesto foi prática que deu proveitos imediatos para a produção de riqueza local.
Na Gândara, bosta foi um símbolo de riqueza. Daí a célebre frase de ter mais dinheiro que merda.

5 comentários:

Bruno E. Santos disse...

Repito aqui um comentário que tinha colocado neste blog, no ano passado:

"Este post lembrou-me aquelas velhas histórias da Gândara, passadas no anos 20, 30 e 40 do século XX; em que o pessoal andava pela floresta, com um grande cesto de vime às costas, a acarretar todos os bocados de bosta que conseguia apanhar do chão! Esta era produzida pelas vacas bravas que aí andavam, sendo utilizada para estrumar as terras! Quanto alguém enchia o cesto, compactava o conteúdo e vazava-o no chão, ficando ali um monte no solo com a forma do cesto! Depois era voltar a encher o cesto e por aí fora! Quando já existiam vários montes, ia-se a casa atrelar a carroça para os vir buscar!

O problema é que por vezes algumas pessoas tinham a tentação de roubar os montes de bosta feitos por outras indivíduos, o que costumava gerar desavenças e podia até culminar em cenas de pancadaria! Alguém hoje, vivendo em pleno século XXI, acredita que seja possível um monte de bosta gerar cenas de traulitada selvagem entre concidadãos? Ficarão incrédulos a apelidar-me de mentiroso ou acreditarão nestas histórias quase inverosímeis, contadas pelos nossos antepassados?"

Manel disse...

É o tempo de ir com um cesto.


Agora, nestes tempos que correm de tudo vender, o nosso bem-estar não deve depender em nada do Estado, mas sim aferido pelo lucro das empresas privadas, dizem por aí uns iluminados que andam à caça de votos de sondagens favoráveis.


Agora nestes tempos de vender a mãe, somos todos muito limpos e cheirosos dos sovacos, com higiene imposta por burocratas de Bruxelas.


Agora neste tempo civilizado já não somos uns brutos ao acabar com as matanças do porco. Temos carrões e boas estradas, compramos pacotes de costeletas de porco espanholas e francesas em embalagem familiar.

Agora sim, não andamos à merda, mas vamos à merda com um cesto ao supermercado onde o prazer é comprar.

MDomingues disse...

As merdas d'agora não são de aproveitar! São tão cáusticas que destroem o ambiente!
...Se fossem de boa qualidade, já havia uma licença (a pagar) para ir à merda!

C.Oliveira disse...

Uma amigo nosso tem a seguinte mensagem no seu messenger: "Se a m...a tivesse valor os pobres não tinham cu", isto claro, nos dias que correm...

Luis Baptista disse...

Essa frase, C. Oliveira, ouvi-a eu da boca da maria de medeiros no filme henry and june, o que a torna à partida belissima. Segundo ela é um provérbio portugues, mas nunca mais tinha ouvido falar dela, até agora.