terça-feira, maio 26, 2009

Anónimo disse...

Anónimo disse... A criancinha quer Playstation. A gente dá. A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa. A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate. A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas. Coca-Colas, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha. A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente. A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando. A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua. Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher. Desperta. É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares. A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada. A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira. A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca». Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal. Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu». A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias». Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha? Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos. 11 Março, 2007

21 comentários:

POLITICO DE KAKA disse...

Eng. Manel, é inadmissível que se tenha chegado a esta situação. Houve nos últimos anos todas as condições para, no mínimo, não se ter deixado chegar as coisas a este ponto. Pergunto: o que é preciso que eu faça para alterar isto? Digam-me e eu farei.

káká (milan) disse...

Isto sucede porque a escola de hoje extrapola as suas obrigações e deixa os créditos por mãos alheias: é o caso de por tudo e por nada recorrer a psicólogos. A consumação do ensino e aluno planificado, até devem ter o retrato robot do aluno ideal. Resultado: a escola não mete as mãos no fogo por nada, porque é tudo fictício.

Bruno E. Santos disse...

Para que servem as notas altas ou boas, já agora?
Para ser chamado de marrão e ser enxovalhado impunemente por alguns alunos e professores?
Para ir em adulto tentar a sua sorte no mundo laboral "tuga", onde quase tudo funciona por cunhas, padrinhos e partidos políticos; quer no público, quer no privado?
Para ir a um concurso público, tirar 20 na prova escrita e chegar a uma entrevista onde a primeira coisa que ouve de um político canalha, é que está fora e só lá foi para cumprir formalidades legais burocráticas?

Anónimo disse...

Hoje, lamentamos o falecimento de um amigo muito caro que se nomeava “Bom Senso” e que viveu entre nós durante longos anos. Ninguém conhece exactamente a sua idade porque os registos de nascimento foram perdidos há bem muito tempo nos meandros da burocracia. Recorda-se dele para lições de vida como “o dia pertence ao que se levanta cedo”
“o que acontece é talvez da MINHA culpa”.
” Bom Senso” vivia com regras simples e práticas, como: “não gastar mais do que tinha”, e dos princípios educativos claros, como “São os pais, e não as crianças, que decidem “.
” Bom Senso” perdeu pé quando pais atacaram professores por ter feito o seu trabalho querendo aprender às crianças as boas maneiras e o respeito. Um professor despedido, por ter repreendido um aluno demasiado excitado, ainda agravou o estado de saúde de "Bom Senso”. Ainda mais se deteriorou o "Bom Senso" quando as escolas tiveram que pedir e obter uma autorização parental para pôr um penso sobre uma pequena ferida de um aluno. ”
A morte “de Bom Senso” foi precedida da dos seus pais: Verdade e Confiança, da sua mulher Discrição, a da sua rapariga Responsabilidade bem como a do seu filho Razão. Dá todo o lugar aos seus três falsos irmãos: “Conheço os meus direitos”, “é a culpa do outro” e “sou uma vítima”.

Não, não sou o autor......
Traduzido de um e-mail recebido.

António disse...

Nós Pais temos a obrigação de, com a educação que tivemos e um pedaço de bom senso, direccionar os nossos filhos. Equilibrá-los de modo a que estudem a lição e vivam a vida, pois a vida também nos faz. Eu faço por isso. As minhas filhas têm horários para net´s e chegam a casa e poisam os telemóveis! Não é fácil mas acredito que o esforço valerá a pena.

Abraços

Denise Fiuza disse...

Antigamente...a mãe só olhava com aqueles olhos que só um filho de antigamente é conhecedor!Não saía, se quer, uma sílaba de sua boca e já entendíamos que estávamos errados.
Manel, há poucos dias atrás eu usava uma frase: " Falta de uma pedagogia portuguesa para educar essa criança..." pois é, lendo seu texto observo que terei que abolir essa frase de meu vocabulário, vejo que as crianças estão sendo educadas sem limites no mundo inteiro.
E assim serão os futuros adultos donos do amanhã...
Abraços

olho atento disse...

bruno e. santos:
para quê poupar dinheiro se depois podemos ser roubados? - além disso o saber não ocupa lugar e ninguém no-lo pode tirar !
ou o então o desespero é o sinal destes novos ventos .

Aspirante a tacho disse...

Lembram-se de um certo politico, há uns bons anos, apelidar de "geração rasca" à massa estudantil da época? - Voilá!!!
Temos os filhos da "geração rasca" - e o que é que se esperava...
Eu por mim, a obrigatoriedade do ensino, veio piorar, e muito, a qualidade deste... Quem não quer estudar... obras com eles... E ao menos deixem estudar quem quer.

Bruno E. Santos disse...

Porventura, o político que disse isso deveria pertencer àquela que para mim é a "Verdadeira Geração Rasca"! Aquela geração que em 74-75, estava no Liceu ou Universidade e que entrou no mundo da política nos finais da década de 70, inícios de 80! É a geração que, depois dos militares retornarem aos quartéis, do Fundo Monetário Internacional e das instruções e directivas para adesão à então CEE, terem estabilizado o país e corrigido os erros do radicalismo de Abril; herdaram o poder e tiveram todas as condições para criar algo de bom e positivo! Em vez disso tivemos oportunidades perdidas, fundos desperdiçados, aumento da injustiça, da corrupção, das disparidades sociais, da descriminação entre cidadãos, do enriquecimento meteórico ilícito, da impunidade total, da criminalidade, irracionalidade e da bandalheira no poder! E acabaram com os resquícios de valores, ética e moral que ainda existiam no país!

E para finalizar, ainda tiveram a "lata" de alcunhar outros de "Geração Rasca"; no tempo em que eu era estudante liceal; termo em que eu não me revejo!

aspirante a tacho disse...

Eu também sou da "geração rasca"... mas tento olhar de fora, para a minha geração... e ... desculpa lá Bruno - é mesmo uma geração rasca. Nem para roubar prestam, como fazia e continua a fazer a tal geração de 74-75. Não são capazes de educar - a maioria por falta de educação - e preferem que os filhos sejam uns bandalhos a darem-lhes uns bons moquencos... Eu por mim, se pensasse sequer em "mijar fora do penico" levava um arraial... Ai quando chegar a minha descendência!!!...

Henrique Monteiro disse...

No meu tempo, no ensino secundário ainda antes de 1974, o "Vitela" com 14 ou 15 anos de idade, filho de um negociante de gado de S. Caetano, já fumava. Um dia o Director da Escola Industrial de Cantanhede, um tal Lobato apanhando o "Vitela" de cigarro na mão quis puxar-lhe as orelhas e fazê-lo apagar o cigarro. Mas o "Vitela" aluno repetente e "matulão" resistiu dizendo ao director que quem mandava nele era o pai e que o autorizava a fumar. O que se passou a seguir já não interessa. A verdade é que nessa época lembro-me de gozar com a maior parte dos professores principalmente as mulheres. Coitada da "Carocha", professora de Inglês que mandou tantas vezes o "Marreta" prá rua por minha causa. Mas o "Marreta" fazia finca-pé e então lá tinha que ir o Sr. Pratas, Contínuo(naquela altura era assim que se chamava) convidar o conterrâneo para sair.

Ora naquela altura também havia problemas. Não havia era mercados de psicólogos, pedopsiquiatras, sociólogos, assistentes sociais, etc., como hoje há.

Manel disse...

Caríssimos frequentadores desta vossa tasca,

Aprender é mudar.

Entre as várias causas da nossa baixa produtividade, a principal é a baixa formação básica das pessoas envolvidas.

Em tempos houve quem afirmasse que era falta de formação profissional. Recordo o famoso FSE e seus cursos e dinheiros para formação, que afinal formaram especialistas em jeeps e jeeposes, um regabofe que muitos já esqueceram e outros se fazem esquecidos, dos finais de 80/ inícios de 90.

Foi asneira sobre asneira o que se fez à época, que herdámos, e não se tem tido coragem actual no arrepiar caminho, pois até o reacionarismo que impera, emperra qualquer tipo de mudança.

Considero que uma exigência de elevação dos mínimos de formação básica (12º ano) é imperativa. Chamo-lhe mínimo e não obrigatório.

Como desalinhado que sou, considero essa obrigatoriedade como uma contradição e um travão à qualidade que se deve ter para a capacidade de mudar, isto é, a capacidade de aprender.

A mudança não se tem feito porque todos os intervenientes no processo sem excepção, e em especial os pais e as mães, não têm tido a capacidade em aprender.

Manel disse...

(continuação)

A mudança não se tem feito porque todos os intervenientes no processo sem excepção, e em especial os pais e as mães, não têm tido a capacidade em aprender.

A cultura do facilitismo e do imediatismo impera na nossa sociedade, onde se bajula os novos ricos ou aqueles que enriquecem depressa.

E temos muitos exemplos desses ao nosso lado, desde o pequeno negócio que floresceu sem saber ler nem escrever até aos banqueiros que apareceram do dia para a noite a coberto da política dos idos finais de 80 / inícios de 90.
Como temos todos conhecimento, o chico espertismo ainda é ainda aplaudido da praça em vez do mérito e do trabalho.

Claro que estas sumidades querem que a sociedade assim se comporte. Uns para manter os tachos e ontros para conseguirem mais alguns outros de outro formato.

O cair na realidade assusta,pois só se vê o que se quer efectivamente ver.

Para uma parte significativa das pessoas, ouvir o que se quer é a ínica messagem ainda passa.

Experimentem lá dizer o contrário, e depois contem cá ao Manel.


Abraço a todos.
manel

Manel disse...

Caro amigo Henrique Monteiro,

Somos colegas de Escola Industrial.
Colegas do Vitela e do Marreta, amigos rebeldes como se calhar todos nós.

Informo que no Sábado 06 de Junho, teremos o convívio dos antigos alunos da Escola Industrial de Cantanhede.
O convívio será na Pena.
Soube por intermédio do José Jorge das Berlengas da Tocha, mas não tenho o contacto para me inscrever.
Usa, por favor o meu email ou este blog para me informar, por favor.
Aquele abraço
manel

MDomingues disse...

Meu caro Manel!
Isto é recordar!... em 197ium... não me recordo bem que idade tínhamos! ... Pegámos-nos á batatada logo à saída da "camionette de carreira"8h e20 da manhã... veio o Polícia agarrou-me, tu enfiaste-me um seco num olho e fugis-te!
Fui levado para a esquadra, estive lá 1 hora!!! O polícia deu-me um valente puxão de orelhas por ter andado á batatada, e ...perdi a 1ª aula!

Não vamos imaginar uma cena destas agora,pois não?

...A criançada d'agora não está a ser criada... está apenas a ser feita...como os bonecos!!!

Manel, aquele abraço
e ao Henrique também!

Manuel Domingues

Manel disse...

Pois foi mesmo assim amigo Manel Domingues.
Mesmo ali em frente do Roque dos tabacos na rua Jaime Cortesão, em frente da antiga pensão familiar.
Ainda estou para saber a razão daquela luta.

Tive medo do polícia, acredita. Ele era enorme!
Mas ainda bem, para mim, que assim foi, pois o lingrinhas fininho que era, ao acertar com um soco certeiro no atlético Domingues, aquele que colocava em sentido os peneirentos da vila de cantanehde, livrou-me de muitos maus momentos, pois o respeitinho ao Domingues era de manter.
Cresci depressa! Por isso ainda sou menino e recuso-me, cada vez mais, a deixar de o ser.
Abraço amigo do
manel

aspirante a tacho disse...

Era na altura levarem os dois uns bons muquencos do policia... como mandava a lei...

MDomingues disse...

Os motivos da luta também não me recordo... mas lembro-me de haver as claques a incentivá-la!
... Se o polícia tem enfiado uns "muquencos" aos dois,... a recordar..., ainda hoje faria as delícias d'alguns Vampiros! Sim, porque ficaria sempre um nariz a sangrar!

Henrique Monteiro disse...

MDomingues,
tenho lido os teus comentários aqui no blog do Manel e tenho sempre ficado na dúvida se és quem eu penso que conheço... Vou só dar aqui uma dica para saber se és tu mesmo: aquela dentada na orelha do Zé Ferreira da Gesteira, em plena aula de Português ainda no 1º ou 2º ano do ciclo, lembras-te?
Um abração.

MDomingues disse...

É verdade Henrique! A professora tinha-me mudado do lado do Reis, para o fundo da sala ao lado do Zé Ferreira! A escaramuça continuou já não sei porquê! Surge então a respeitável falta a vermelho e a inevitável aula de matemática no gabinete do director! Nem queiram saber a matemática que se aprendia!!!

É admirável como este espaço que o nosso amigo Manel nos tem à disposição encurta o tempo!

Um grande abraço
MDomingues

Henrique Monteiro disse...

Não quero abusar deste espaço do Manel com estas histórias. Só mais uma. Óh Domingues e aquela do "Marreco" fazer despesas no Zé Tostão e mandar pôr na conta do pai do "Dentes"?

Contacta-me por mail. Está n'O Contribuinte.

Um grande abraço para ti Domingues e para ti Manel por cederes a casa.