quarta-feira, dezembro 10, 2008

Nabos há alguns e não são muitos

(O Silvério, para que todos o reconheçam, é aquele menino envergonhado que está atrás do orador)
“Nós, Nabos e Companhia, celebramos hoje o nosso VII CAPÍTULO. Festa maior de uma confraria cuja significação radica nas assembleias gerais periódicas de uma congregação religiosa onde, no início dos encontros, se procedia à leitura de um capítulo da REGRA MONÁSTICA, conjunto de preceitos destinado a guiar a conduta das comunidades monásticas de que há rasto nos nossos actuais Regulamentos Internos. Da ancestralidade e do contexto onde ocorria o capítulo, emana, pois, ainda hoje, ao ser actualizado neste ritual festivo, uma certa aura de religiosidade.
Porém, se enquanto confraria é relevante que recuperemos esta solene cerimónia monastical, que legitimidade terá uma Confraria Gastronómica para se reclamar herdeira de tão austeros e frugais cerimoniais?
Parece haver uma certa incompatibilidade entre o substantivo confraria e o adjectivo gastronómica que a caracteriza. O conceito de confraria possui algo de esotérico e conquistou já o inconsciente colectivo com foros de sacralidade: é a fraternidade que comporta a ideia de disponibilidade para o outro e através da qual se há-de ascender ao absoluto, enquanto o termo gastronómica, que particulariza a ideia de irmandade, remete para o corpóreo, para a prosaica tarefa do aparelho gástrico. É o conceito, aparentemente antagónico, da espiritualidade de um D. Quixote a vergar-se ao materialismo de um Sancho Pança.
Esgaravatando, há-de pôr-se a descoberto a raiz grega do adjectivo gastronómica cuja etimologia encaminha para a vileza de ingerir e processar alimento, seja para humanos ou para animais. Fazê-lo era, instintivamente, garantir a sobrevivência mas, progressivamente, desfrutar dos prazeres proporcionados pela comida e era, continuando a herança dos imemoriais tempos pagãos, poder manifestar a alegria de estar vivo; era, num mundo politeísta e dedicado ao culto naturalista, celebrar agradecidamente as Divindades da Fartura; era festejar a Natureza. Foi converter o simbolismo litúrgico do trigo e do vinho dos mistérios Eleusinianos no ritual cristão da Última Ceia. É a coabitação do profano e do sagrado.
Neste contexto, o acto primordial que assegura a continuidade da espécie começou a estar para além das necessidades vitais. A abundância trouxe o desejo da novidade, da experimentação, do exotismo. Cada vez mais elaborada, a comida foi-se requintando e a evolução semântica do étimo gastro ganhou estatuto que, pela sua abrangência, a eleva acima do conceito de culinária: é o culto epicurista da mesa.
Enquanto o refinamento dos alimentos vai ganhando peso definha a noção de desavença entre matéria e espírito e ganha consistência a ideia do ser humano enquanto um todo indissociável, de corpo e alma. Nesta perspectiva, o acto de comer não é um acto desgarrado da envolvente cultural e social. Fazê-lo é preservar o património e os valores imateriais da gastronomia tradicional.
O Gandarês lançou mão da dádiva do mar que lhe ronda a porta e dos escassos produtos de um chão areento. Foi desta união do Atlântico com a areia maninha que a cozinha desta região encontrou a sua expressão mais genuína; daqui lhe arrancou manjares que nos confortam o espírito e o estômago e são esses saberes ancestrais que evocam em nós uma infinidade de vivências e sensações. O culto pelos prazeres da mesa regional motivou-nos a fundar uma associação que homenageia a genuinidade de sabores e saberes daquilo que por cá ainda se saboreia.
Conscientes de que quando um punhado de NABOS se senta à mesa é a Gândara toda que para aí é convocada, reconcilia-se o conceito antinómico dos elementos constituintes de confraria gastronómica pois há algo de abençoado e litúrgico em preservar e divulgar a partilha saudável e festiva dos paladares gandareses. Há oito anos que vimos construindo essa mesa com alma.
Justificada a dignidade de um capítulo gastronómico, e porque neste contexto também cabe celebrar a mitologia das colheitas, a nossa escolha para a cerimónia de insigniação dos novos confrades não recai no convento (que não temos) mas num campo de grelos de nabo, alimento rico de aromas, sabores, vitamina c e ácido fólico que optimiza a nossa gastronomia. Espaço pouco acolhedor mas que, para além de arejar o modelo instituído, permite sentir, testemunhar e apreciar o trabalho artesanal da apanha deste vegetal que também tem projectado o nome deste concelho. “
Dircurso de Silvério Manata, Grão-mestre da Confraria Nabos e Companhia, no VII capítulo da Confraria.

5 comentários:

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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Caro confrade Manuel daqui fala o confrade manuel júnior. Aviso que a confraria ja tem á disposição um blogue onde existe informações, datas e textos interessantes!!

Anónimo disse...

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