terça-feira, julho 01, 2008

A desertificação da Gândara

Não estou a afirmar que a Gândara deixou de ser verde! O que quero dizer é que está a ficar deserta em termos agrícolas, ao abandono, sem população activa e em exclusão rural. A Gândara, a velha Gândara agrícola que se afirmou como tal, definha e morre. Foi excluída, tal como a maioria do país rural, da Política Agrícola Comum desenhada para a agricultura de alguns países. Entre estes, temos a França como exemplo. Foi o então primeiro-ministro Cavaco Silva, o primeiro-ministro que mais votos teve do mundo rural, o que mais esqueceu a Agricultura abandonada por Bruxelas, levando à transformação dos agricultores em serventes das obras que agora entulham as cidades. Depois vieram outros que se limitaram a gerir ajudas e subsídios comunitários, faltando uma política que seja activa na promoção da sustentabilidade agrícola e ambiental. Depois do deserto cheio de eucaliptos do Sr. Cavaco Silva, os primeiros ministro que lhe seguiram até parecem julgar que a dita árvore australiana de origem passou a ser autóctone, enquanto o tecido social agrícola da Gândara está degradado, onde o mato e as silvas tomam conta das terras.

7 comentários:

Arsenio Mota disse...

Consta-me que mais de 60% do que os portugueses comem hoje é comprado ao estrangeiro. Oiço dizer que só temos excedentes para vender «para fora» leite e vinho, dois produtos de que a União Europeia está cheia a deitar por fora. Então que situação é esta? Como nos governam os governantes, que vêem de olhos abertos os nossos pequenos produtores a guardarem em casa o que ninguém lhes quer comprar, porque isso MANDAM as grandes distribuidoras que operam no país e que metem cá dentro os legumes da Andaluzia ou de Marrocos, as batatas francesas, as pêras chilenas, as bananas guatemaltecas, as mangas da Venezuela (são meros exemplos), bens tantas vezes exportados com apoio de enormes subsídios dos respectivos governos? Portugal, país bem governado?! Sim, por políticos ceguinhos perante um povo embalado por futebóis e a caminhar para o abismo.
E o mundo rural desaparece com a nossa agricultura arruinada.
Amigo Manel, um abraço!

Manel disse...

Caro Arsénio,

Uma política activa em que dê mérito aos produtos da terra, entra em conflito directo com a actual política do subsídio em que compensa não produzir.
Com o aumento dos custos de distribuição devido ao alto preço do petróleo, estar próximo é mais valia.
Como o consumir produtos locais se torma mais ecológico, uma política activa deve começar pelos entreposstos locais de recolha e distribuição.
Faço notar que a maioria dos dirigentes da agricultura que temos actualmente, só olham para a teta do subsídio.
A mudança necessária que se quer não passará pela maioria deles.
Estão obsoleteos de ideias.

Arsenio Mota disse...

Amigo Manel:
Sem querer estabelecer diálogo (mas esta matéria é vital para o país!), ou monopolizá-lo, quero registar o que julgo saber. E é: que o nosso país, parceiro da União Europeia, paga mais, em sede da política agrícola comum, do que todos os subsídios somados que recebe também a tal título. Ou seja, estamos, nós, os portugueses, a subsidiar há anos, na realidade, as agriculturas comunitárias, essas sim, altamente subsidiadas pelos respectivos governos! Só assim podem chegar a invadir o nosso mercado. Não será a verdade verdadinha?
Fica um abraço.

Manel disse...

Caro Arsénio,
Já que dialogamos, o que é necessário é a colocação de um pauzinho na engrenagem.
Ouvi o então Presidente Sampaio afirmar umas baboseiras acerca da limpeza de floresta privada, alguma ideia peregrina de um ignorante assessor.
Ora o Presidente Sampaio não é proprietário de floresta e ignorava a razão da não limpeza da floresta privada. É só o facto de não existir agricultura, mais nada.
Agora eu também sou proprietário de floresta, pouca coisa herdada, que limpo e a que preço, mas que rentabilizo em aquecimento central dado o investimento de raiz que fiz na minha casa, como o meu amigo conhece.
A floresta é uma fatia importante na nossa agricultura, e é também por aí que devemos ir.
Políticas activas na floresta, também, são urgentes. Não me refiro à praga eucalipto, que tão bem arde no meu recuperador de calor.

Na verdade, se fizer bem as contas, nós estamos a financiar a agricultura Francesa. Eles não são parvos nenhuns! Enquanto os agricultores do sul deixavam secar campos de girassol e os pequenitos do Norte se guerreavam por um apoio a um vitelo, eles garantiam a renovação tecnológica para a agricultura, que no momento nos falta.

Um abraço
Manel

Anónimo disse...

Algumas curiosidades...
Segundo li, no caso do Japão, a política seguida é de que pelo menos 1/3 do arroz consumido no país, seja produzido lá (produção subsidiada pelo estado), apesar de ficar muito mais barata a sua importação de países do Sudoeste Asiático! Assim, mantém-se os terrenos, o conhecimento/ know how permanece nos agricultores e acautela-se o futuro... com base em dissabores históricos do passado!
Também li que o Governo Chinês pondera adquirir enormes extensões de terrenos agrícolas no exterior, sobretudo em África, para produzir bens alimentares; uma vez que a terra arável na China (país imenso, mas com muita área de montanhas e deserto), é escassa para satisfazer as necessidades crescentes da população!
Curiosidades...

Manel disse...

Em Angola, os chinos casam a torto e direito para ter direito à posse de terra.
Em França e sul de Espanha, a mão de obra sabemos de onde vem e é sazonal.
Assim com custos directos baixos e trabalho intensivo, apresentam um produto de baixo custo, além de se actualizarem tecnológicamente.

O retorno à agricultura na Gândara, terá que ser tecnológico e com conhecimento técnico , pois os poucos que restam na agricultura não estão preparados para a mudança.
E depois temos a subsiadite endémica, que atacou a agricultura em Portugal.

Carlos Rebola disse...

Estão-se a criar desertos e "selvas" (a Gândara não será excepção) atravessados por muitas e grandes vias de comunicação, terrestres e aéreas, para, parece, trazer para o país aquilo que o mesmo país deixou de produzir.
Segundo hoje é frequente ouvir, os contribuintes não devem subsidiar a agricultura, as pescas, a industria, não devem subsidiar os "factores de produção" no fundo, nesta lógica, porque carga de água os contribuintes, que subsídiariaram em tempos a não produção e a destruição de grande parte da agricultura, são chamados, sob um pertenço desígnio nacional, a subsidiar TGV´s, mega aeroportos e outras megalomanias como foi o caso o CCB, uma obra de estado (regime) que provavelmente contribuiu para o estado em que estamos? Assim penso.
A proposta recente (dos ecologistas) do consumo de proximidade é uma boa proposta a meu ver, mas é necessária a modernização tecnológica da nossa agricultura com a criação de sistemas integrados de produção e distribuição que reduzam os custos dos mesmos com o apoio do estado porque a agricultura como outros sectores produtivos são vitais à economia do país.
Não se compreende que os factores de produção aumentem constantemente e os produtos sejam comercializados sem grandes proventos para os produtores como é o caso do leite, a Gândara já foi uma região de grande produção de leite, antes das cotas e dos subsídios para a morte das vacas.

Um abraço
Carlos Rebola