Os Cultos ancestrais originais do Mediterrâneo à Senhora da Conceição
A Humanidade cedo se apercebeu do calendário e dos ciclos da Natureza, com
a noite a alternar com o dia, e os movimentos dos astros a repetirem-se
ciclicamente.
O primeiro calendário a ser usado foi o calendário lunar, regendo o astro
errante as marés e influenciando as plantas e os animais.
A esta observação sistemática, os Humanos associaram os movimentos
relativos do Sol em conjugação com a observação estrelar do céu nocturno em
cada época do ano.
Foi assim que a Humanidade começou a encontrar justificações para a
constante renovação da Natureza no livro aberto que é a abóbada celeste que nos
envolve a visão.
Cedo o Homem começou a levantar o olhar para o céu e de lá buscar o
entendimento das coisas terrenas, coisa que hoje em dia não acontece dada a
poluição luminosa existente que a todos vai cegando.
Perante o nosso olhar para a visão nocturna da abóbada celeste, esta apresenta
uma rotação anual completa, fechado o círculo e iniciando outro de renovação.
Assim se dividiu a faixa zodiacal em doze, que deu origem aos doze signos do Zodíaco,
doze meses do ano, doze horas do dia e as mesmas doze horas da noite. O nome Zodíaco
deriva do facto de a humanidade reconhecer desenhos de animais nas estrelas,
tal a importância deles nas suas vidas.
No entanto observava-se a olho nu que certos “astros” não cumpriam a
rotação perfeita da esfera celeste.
Sendo assim, estes
corpos celestes teriam cada um espaço próprio além do elemento ar, e daí
influenciariam toda a vida das pessoas, animais, plantas e mar. Algo de importante
teriam e seriam. Daí merecerem um tratamento especial, ou seja a sua
divinização.
Eles são sete, a
saber pela ordem dos luzeiros celestes principais até então conhecidos: Sol,
Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vénus e Saturno, e segundo nossa observação da Terra, temos: Lua,
Mercúrio, Vénus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno.
Dos sete “divinos
celestiais astros” temos os sete dias da semana.
Segundo o relato
bíblico, Deus fez o mundo em seis dias e descansou ao sétimo dia
O número sete é
usado como suporte de certas regras e rituais humanos.
Até 7 horas depois de
nascido, não se sabia se o novo ser é apto para a vida.
Aos 14 dias (2 vezes sete) os olhos da
criatura podem seguir a luz.
Aos 21 dias (3 vezes sete) volta a cabeça
impelido pela curiosidade.
Aos 7 meses saem-lhe os primeiros dentes.
Aos 14 meses (2 vezes 7), anda.
Aos 21 meses (3 vezes 7)
exprime seu pensamento por meio da voz e do gesto.
Aos 7 anos rompem-lhe os segundos dentes.
Aos 14 anos desperta-se nele
a energia sexual.
Aos 21 anos (3 vezes 7) chega
à maior idade e está fisicamente formado.
Aos 28 anos (4 vezes sete) cessa o
desenvolvimento físico e começa o espiritual.
Aos 35 anos (5 vezes sete) chega ao máximo de
força e actividade.
Aos 42 anos (6 vezes sete) chega ao máximo da
aspiração ambiciosa
Aos 49 anos (7 vezes 7) chega ao máximo de
discrição e começa a decadência física.
Aos 56 anos (8 vezes 7) atinge a plenitude do
intelecto.
Aos 63 (9 vezes 7) prevalece a espiritualidade
sobre a matéria.
Aos 70 anos (10 vezes 7) inicia-se a inversão
mental e sexual.
Isto não é regra rígida, mas
todos nós sabemos com que idade se inicia a escola, e até qual a idade mínima
para ser, em Portugal, candidato a presidente da República.
Na ancestral filosofia de vida do ser humano presumia-se a vida do dia-a-dia
integrada e fazendo parte de toda esta transcendente engrenagem.
Os seres divinos governam a esfera com funções específicas, em que seus
ditames ampliam os efeitos positivos ou
os negativos, todos eles conjugados e sobrepostos uns aos outros, resultando em
benefícios ou não para os humanos que vivendo integrados com a Natureza, tinham
como principal objectivo, tal qual hoje, a sobrevivência.
Como animais sociais que somos, cedo se compreendeu que a sobrevivência individual
está interligada com a garantida segurança do grupo e na sua renovação
geracional.
Assim, as crianças deixavam de pertencer à mãe, para lentamente pertencer à
tribo. A tribo, por sua vez, defendia em primeiro lugar as crianças e as mães.
Nos primórdios da sociedade a vida estava intimamente associada aos ciclos
naturais, e a necessidade de crianças para o grupo estava ligado às divindades
supremas, nomeadamente à Lua.
Tal foi assim tão vincado até aos nossos dias que, quando uma criança é
bem-nascida, se diz que ela nasceu de rabo virado para a Lua.
Depois, a Lua com os seus efeitos de maré no mar e na atmosfera, arrasta
fenómenos meteorológicos importantes para a sobrevivência humana, que as
antigas práticas agrícolas com os seus adágios que às vezes nós ainda a eles
recorremos.
A primeira Lua Cheia depois do equinócio de Março, início da Primavera,
sempre foi um marco extraordinário para a Humanidade fustigada pelas agruras do
Inverno,
A Lua no seu esplendor arrastava a esperança num novo provir trazido nos
efeitos de maré atmosférica, e associado aos raios criadores do Sol. Estas
festas cíclicas, que seguem o calendário Lunar associado
ao calendário solar, Equinócio, são de tempos imemoriáveis encontros de conciliação para a abundância
desejada.
São interessantes
as associações que os nossos antepassados faziam entre a chuva da Páscoa, ou a
sua ausência e a previsão da fartura agrícola para o ano vindouro. Temos os
exemplos de “Páscoa molhada, chuva abençoada”, “ não há Entrudo sem Lua Nova nem Páscoa sem Lua Cheia” e “a
festa do Natal é em casa, a da Páscoa na praça, a do Espírito Santo no campo”.
No caso deste último rifão popular, são vincadas as festas Lunar móveis Páscoa
e Espirito Santo em relação à festa fixa solar, que é o Natal.
Natal e São João são efectivamente festas solares.
É de notar que na
antiguidade o ano começava pela Primavera, e daí o mês sete fosse Setembro, o
oitavo Outubro, o nono Novembro e o décimo Dezembro, isto como reminiscência
latinista do império romano.
Temos aqui uma
importância dada à Lua, a sua relação com o equinócio de Março, a Páscoa, a
chuva da Páscoa, a renovação e o renascimento da Natureza.
Certos animais
como a cobra, da observação da muda de sua pele pela Primavera, aos olhos das
pessoas é um simbólico renascer enigmático.
Para a
compreensão da vida integrada no seu universo, a Humanidade recorre ao
simbólico do Sol que tudo cria, das estrelas que formam a abóboda Zodiacal, da
Lua que dá a renovação da vida e da cobra que é a prova disso.
Assim a Senhora
que concebe, a Senhora da Conceição, terá ao colo e num dos braços seu filho
vingado e escorreito, na outra mão um símbolo de fartura, desde uma fruta,
flor, espiga, ou uma luz (círio), a sua coroa zodiacal de doze estrelas, a Lua
em Quarto Crescente que dá a renovação e a cobra a comprová-la.