quinta-feira, outubro 03, 2024

Fila de cegos

 Fila de cegos.

Bruegel, o Velho, 1568.
O Chefe da fila era o que dava música aos outros cegos, isto pela sanfona que transportava.
Estão todos bem vestidos para a época, pois tinham capas e sapatos, enquanto são puxados para o buraco.
Note-se a confiança do último aderente à causa, enquanto o que segue o chefe tem aspeto de lhe terem arrancado os olhos.
Podemos ir buscar suportes literários ao evangelho de Mateus, ou aos escritos orientais muito anteriores a este último




segunda-feira, setembro 23, 2024

Não há fumo sem fogo

  De há 50 anos para cá os fogos nas manchas de pinheiro bravo serviram para substituir esta árvore pelo eucalipto. O pinheiro bravo foi resultado das políticas dos baldios e Junta de Colonização Interna nos finais do seculo XIX e nos inícios do século passado respetivamente.

A substituição, o interesse de matéria prima para o novo produto de procura emergente, o papel, pelo eucalipto foi lenta até à entrada de Portugal na CEE. A partir daí, a substituição teve um incremento ajudada pelas políticas de abandono da terra e acelerada pelos incêndios.
Atualmente há outros interesses além da madeira barata, e outros possíveis pequenos e grandes negócios.
É que o processo inverso ao ocorrido há mais de 100 anos já está em marcha .

quarta-feira, setembro 18, 2024

O plutocrata


 

O plutocrata não rouba o nosso dinheiro , mas sim os nossos créditos, que são o supra sumo do neoliberalismo vigente .
É assim que se destrói a democracia por dentro, desacreditando as instituições.
Esta desordem planetária.
O plutocrata financia esse ataque em curso.
Claro que se encontrará uma saída, só que corremos o risco, se não agirmos, não ser airosa, muito menos do nosso agrado.

quinta-feira, agosto 29, 2024

A Termodinâmica e o meu Sistema


 

À medida que regredimos no tempo da nossa memória, mais intenso foi o tempo vivido.

Hoje o tempo é mais líquido, apresentando-se a diluir nele mesmo. O tempo não é o que está para vir, mas sim o que está a deixar de ser, ou seja, não há futuro.

Há sempre perdas da passagem da desordem para a ordem. O círculo não é vicioso, e não será um círculo mas algo mais espiralado, porque há operações irreversíveis.

Sentimos na vida que o espaço é função do tempo, mas o tempo é função do próprio tempo, ou seja, o tempo no fim de si mesmo, isto é, não há eternidade.

Se, por acaso, houvesse uma previsão estatística anterior ao “nascimento do universo”, seria um nascimento impossível.

Na nossa vida, na nossa evolução social, tudo o que foi criador e fundador, foi sempre estatisticamente improvável.

 

 


terça-feira, agosto 27, 2024

Uma colher de moralina

A realidade é teimosa, conspira contra os desejos.

Há quem se recusa a ler determinadas obras, a ouvir determinadas verdades, isto é , quando o discurso corresponde à coisa ou objeto, aceitando cegamente o absoluto, que sabe que o não é, rejeitando o que contraria o desejado.
A vida é complexa e contraditória. Toda a simplificação é um erro.
Não vou mentir para mim mesmo.
Não vou ali à esquina comprar a moralina de tomar à colherada.

sexta-feira, agosto 02, 2024

Política por parábolas.

 

 


Política por parábolas.

O político ganhou as eleições prometendo a mudança.

“Temos que mudar” era o seu slogan de campanha.

No governo, um alto funcionário apresentou-lhe evidências de corrupção dentro da sua organização: havia um desvio, é assim que se diz, de fundos destinados a obras sociais

O político ouviu, nada disse, e demite o denunciante.

Os outros, os mais próximos, entenderam a mensagem.

 

segunda-feira, julho 29, 2024

A verdade, o erro e a mentira.


  • Sendo a verdade um discurso sobre a coisa, em que a dita coisa corresponde, efetivamente, ao discurso, e no caso contrário, quando o discurso não corresponde à coisa, é o erro.

    Sabendo do erro no discurso sobre a coisa, e continuando a afirmar que ele é a verdade, estamos, agora, na mentira.

    Os mitos são umas histórias fantásticas, pouco racionais, que têm como objetivo em apontar ideias numa forma sugestiva, e não pelo racional, mas por meio de metáforas, alegorias e simbolismos. Assim sendo, o mito não corresponde à definição de verdade atrás exposta. Afirmar que o mito que eu quero que seja verdade, e que os outros sejam efetivamente mitos, é um apelo ao sistema ditatorial, se é assim que lhe posso chamar.

    Neste caso é a ditadura do pretenso monoteísmo.

quinta-feira, julho 18, 2024

Aprender a desaprender as tralhas que aprendi

 

 

O que andas a fazer?

Ando a aprender a desaprender.

Largar borda fora as tralhas que me foram impingidas.

Eles falam, falam, conversa e mais conversa, à laia de Gato Fedorento.

“ Que uma estrelinha os ilumine e um caralhinho os foda na graça de Deus, que é quem pode!”

Ámen!

 


quarta-feira, julho 03, 2024

Já nada me surpreende!

 Já nada me surpreende!

O desmoronar da Europa em que os impérios não correspondem aos países nem às nações, apesar de os maiores exércitos serem os nacionais, mas ao serviço dos impérios.

Imaginem as coisas que eu lia!


 



"Axioma", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024, https://dicionario.priberam.org/axioma.

Proposição tão evidente que não precisa ser demonstrada.

 

Porque hoje dei uso a vocábulo, lembrei o título do livro que li nos idos 82 e 83. O axioma de Linder.

Eram o tempo do Serviço militar obrigatório, e das terríveis viagens de comboio ao fim de semana.

Recordo que o autor classificava as sociedades em dois tipos: as que tinham excesso de tempo e as com escassez de tempo. As menos evoluídas teriam excesso de tempo. Daí comerem devagar, terem refeições longas e com muita conversa, enquanto as avançadas ingeriam refeições rápidas, enfim, como tinham escassez de tempo compravam tudo feito.

Se o crescimento económico é constante, se as dificuldades materiais diminuem, porque não estamos culturalmente melhores?

Porque é que a sociedade, apesar dos benefícios que nos prometiam uma vida tranquila e harmoniosa, está numa correria louca e desenfreada?

As coisas que eu lia quando militar miliciano!

segunda-feira, julho 01, 2024

Hoje em dia


O mundo num caminho de neoliberalismo, um processo cruel e absurdo.

Eu não sou e não quero ser político, mas quero ter um papel político.

quinta-feira, junho 20, 2024

Declaração.

 



Declaração.
A luz do Solstício de verão.
O Sol nasce e tem o seu ocaso a Norte, do lado donde sopra o vento mareiro no inverno.
Como o Solstício astronómico é quase ao lusco-fusco, declaro o Solstício para amanhã ao meio-dia.

sexta-feira, junho 07, 2024

Obesidade.


 A obesidade é um problema mundial.

sexta-feira, maio 31, 2024

66 + 7/12

 


66 + 7/12

Ler na capa de um semanário que a idade de reforma sobe para os 66 anos e 7 meses, quando tenho 65 anos e 7 meses vividos, não me entusiasma nem me stressa neste momento.

A velhice é um esforço que só os anos nos habituam.

Saber sair de cena não é nenhuma virtude. É saber que se é empurrado borda fora. Primeiro com elogios e depois com o esquecimento.

Desfazemo-nos, esboroamo-nos a caminho da não existência.

É fodido? É!

Chateia-me e deixa-me triste, só isso!


quarta-feira, maio 29, 2024

"one man show"


 Este tipo de slogans são propositados: visam rebaixar o nível de discussão para que esta não o seja, e assim entram com as frases feitas, encasulando qualquer raciocínio mais lúcido.

Às frases feitas, ditadas pela central global que usa métodos propagandistas, chamam os apoiantes "contraditório ".
Porque a gente só conhece o que temos cognição para ver, eu evito, pois não tenho como discutir com uma pessoa, cuja a sua visão do mundo, a sua percepção como cosmovisão , só lhe permite enxergar o que ela ja tem escrito na sua cognição: a realidade recortada .
Como a central sabe disso, os lideres uns sabem e outros têm o mesmo recorte de realidade que os apoiantes, é escusado debater em tal ring encaixotado.
Exemplo é a atual campanha do Chega às europeias. Depois das falas do candidato principal, viraram-se para o slogan interno do "one man show".

sexta-feira, maio 24, 2024

O equívoco




 

À medida que as taxas de natalidade descem, muitos políticos querem investir dinheiro em políticas que possam levar as mulheres a ter mais bebés. Donald Trump prometeu distribuir bônus se retornar à Casa Branca. Em França, onde o Estado já gasta 3,5-4% do PIB em políticas familiares todos os anos, Emmanuel Macron quer “rearmar demograficamente” o seu país. A Coreia do Sul está a considerar doações no valor de espantosos 70 mil dólares para cada bebé.

No entanto, todas estas tentativas provavelmente fracassarão, porque se baseiam num equívoco.

As economias, isto é, a sociedade das empresas às pessoas, não se devem preparar para viver com para a nova situação?

Nota: Com a taxa de substituição de 2,1, a população é estável sem imigração. O declínio na última década foi mais rápido do que os demógrafos esperavam.

https://www.economist.com/leaders/2024/05/23/why-paying-women-to-have-more-babies-wont-work



Gosto de mapas


 Mapa do concelho da Figueira da Foz e seus limites.

Chamo a atenção que o executivo da Câmara Municipal de Cantanhede não está a zelar nem a defender o seu, e nosso, território municipal.
Os limites aqui mostrados no mapa não são os que se mostram hoje em dia.

Todas as reaçõe


quinta-feira, maio 09, 2024

Dia da Espiga.

 


Dia da Espiga.
Culto da Fertilidade.
40 dias depois da Páscoa da Lua Cheia de Març do Equinócio da Primavera.
A terra inicia os trabalhos de parto depois de fecundada pelo Sol do início de Maio, que incide os seus raios , ao nascer, bem de frente ao Santuário da N. S. D'Atocha.

quarta-feira, maio 08, 2024

Tás cá c´uma fé!!


 

Tás cá c´uma fé!!

 

Não é uma questão de fé.

A realidade é muito teimosa.

As pessoas só lêem, ouve e vêem   o que lhes interessa, o que deverá ser elogioso para elas.

Se a leitura os levar a pensar no primeiro parágrafo, então ficam por aí.

   Na espera que o dia acabe ele voltou a olhar para o reflexo branco e luminoso que vem por cima das nuvens quietas. Não há vento que se veja nelas para os lados das Baleiras. O tempo vai-se escoando. Não o que há de vir, mas o único que há, que passa correndo para trás de si mesmo e que se esvai na luz do sol mirrado a afundar-se no mar. “

  Se conseguirem ler, com algum entendimento, o primeiro capítulo, talvez sigam.

Depois há três tipos de abordagem ao texto a quando da leitura.

- Estética

- Política

- Heurística.

A primeira depende só do leitor.

A segunda depende do leitor e do grupo ideológico a que pertence. Ele irá ler de acordo com o seu pensamento político, seja de direita ou de esquerda, e o que ele quer ler  lá estará. É como os religiosos a ler a Bíblia.

A terceira é uma leitura indiciária de busca. Aqui está envolvido o leitor e o autor. Aqui o leitor terá  um trabalho que se aproxima ao do autor. O que o autor quis dizer ao escrever? Questionar, buscar, voltar a questionar e assim sucessivamente.

 

Três pessoas já leram o livro antes de ele ir para a tipografia. Duas são aminha Maria, e a minha filha para fazer a aguarela da capa.

Eu não conto como leitor.

Terei mais quantos leitores?   

Podes arriscar um número?

E já agora, distribui  os leitores pelos 3 tipos de leitura.

És capaz?

Abraço

Manuel Ribeiro

 

segunda-feira, maio 06, 2024

Divina Comédia

 




O Inferno de Dante - Divina Comédia

O “Inferno” é a primeira parte da “Divina Comédia” de Dante Alighiere

A viagem de Dante é uma alegoria através do conceito medieval de Inferno, guiada pelo poeta romano Virgílio.

O Inferno, o Purgatório e o Paraíso.

A obra está dividida em trinta e três cantos, sendo que um deles serve de introdução ao poema.

No poema, o Inferno é descrito com nove círculos de sofrimento localizados dentro da Terra.

A organização do inferno foi baseada na teoria medieval de que o universo era formado por círculos concêntricos.

O inferno torna-se mais profundo a cada círculo, pois os pecados são mais graves.

Os nove círculos do Inferno de Dante :

Limbo (virtuosos pagãos)

Vale dos Ventos (luxúria)

Lago de Lama (gula)

Colinas de Rocha (ganância)

Rio Estige (ira)

Cemitério de Fogo (heresia)

Vale do Flegetonte (violência)

Malebolge (fraude)

Lago Cócite (traição)

A justiça do inferno debatida no canto 11, está de acordo com a ideia de Aristóteles que relata, na obra Ética a Nicômaco:

Deve ser observado que há três aspectos das coisas que devem ser evitados nos modos:

a) a malícia,

b) a incontinência e

c) a bestialidade.

Portanto, os pecados menos graves estão logo no início, e os mais graves no final.

Dante encontra vários pecadores famosos na sua jornada pelo Inferno. . . . .

NO LIMBO - Dante encontra várias figuras clássicas, como Homero, Hesíodo, Platão, Sócrates, Aristóteles, Ovídio e o próprio Virgílio.

Encontra também personagens bíblicos também foram enviados para o Limbo, como Adão, Abel, Noé, Abraão, David ...

NA LUXURIA - Dante encontra Aquiles, Paris, Tristão, Cleópatra e Dido . . . .

NA GULA - Dante encontra pessoas comuns, não personagens de poemas épicos ou deuses da mitologia.

NA GANÂNCIA - Dante encontra mais pessoas comuns, mas também o guardião do círculo, Plutão, o rei mitológico do submundo.

NA HERESIA - Dante encontra Farinata degli Uberti, um líder militar e aristocrata que tentou conquistar o trono italiano e foi condenado postumamente por heresia em 1283. Dante também conhece Epicuro, o papa Anastácio II e o imperador Frederico II.

NA VIOLÊNCIA - Dante encontra Átila, o Huno, no Anel Externo, os que foram violentos com pessoas e propriedades.

 

Na “Divina Comédia” o Diabo, ou Lúcifer, é retratado no nono e último círculo do Inferno, conhecido como o Lago Cócite, é reservado para os TRAIDORES, que para Dante são os piores pecadores.

Lúcifer é descrito como um gigante aterrorizante preso no gelo até a cintura.

Ele tem três faces, cada uma de uma cor diferente: uma vermelha, uma pálida e uma preta.

Cada uma das bocas de Lúcifer mastiga um dos três maiores traidores da história, de acordo com Dante.

OS MAIORES TRAIDORES são Judas Iscariotes, que traiu Jesus Cristo, e Brutus e Cassius, que traíram Júlio César.

Curiosamente, embora o conceito geral de Inferno seja de um lugar quente, o espaço imaginado por Dante nem sempre era feito de chamas.

Na verdade, o círculo mais profundo punia os traidores numa forma de lago congelado, que é constantemente resfriado pelo vento produzido pelo bater de asas de Lúcifer.

Na “Divina Comédia” de Dante, Deus é retratado como a personificação da perfeição e do bem supremo.

Ele é o criador do universo e o juiz final de todas as almas.

Deus não aparece diretamente na maior parte da obra, mas a sua presença é sentida em todo lugar e todas as coisas.

No Inferno, Deus é visto como um juiz justo que pune os pecadores de acordo com a gravidade de seus pecados.

No Purgatório, Deus é retratado como misericordioso, dando às almas a oportunidade de se purificarem dos pecados para ascender ao Paraíso.

No Paraíso, a última parte da jornada de Dante, Deus é retratado em toda a sua glória.

Dante descreve Deus como uma luz brilhante, tão intensa que é difícil para os olhos humanos olharem diretamente.

A visão de Deus é o ponto culminante da jornada espiritual de Dante, representando a união final da alma humana com o divino.

Deus é retratado como a fonte de toda a justiça, bondade e amor na “Divina Comédia” de Dante.

Ele é o objetivo final da jornada espiritual de Dante e o padrão pelo qual todas as coisas são julgadas.

 

 


segunda-feira, abril 15, 2024

Os Filhos da Areia (1)


 

Hoje, as nuvens altas vão desgarradas e com a cor de trovoada. Coam a luz do Sol, mortiço, que se deixa levar, ele também, no arrasto do vento fraco. Tudo parado. Tudo está quieto na esperança de que o ar venha a ser lavado. Esta noite, a Lua fugirá para as Bandas do Mar a uma velocidade vertiginosa e arrepiante, enquanto a memória vai ficando espalhada, a esmo, entre os grãos da areia.

O Gabinete do Ódio está montado

 O Gabinete do Ódio está montado, e trabalha na normalização da linguagem do elementos do rebanho.

Quando constataram que o rebanho existia em número intetessante de efetivos, uns senhores estão na
as tvs a bolsar trampa. A linguagem dos patri otários , dos esqueletos no armário e dos assuntos sexuais mal resolvidos, traumas da realidade paralela , é a mesma.
Já há pastores a chegarem-se à frente em tvs, em livrarias, pelos grupos whatsaap e redes sociais. O método Bolsonaro em marcha.

Alguém afirmou que nas guerras a primeira vítima é a verdade.


 Alguém afirmou que nas guerras a primeira vítima é a verdade.

Como a verdade não é a coisa, mas sim o discurso sobre a coisa que corresponde à coisa, e quando tal não corresponde podemos afirmar que há um erro.
Quando este erro é manipulado e apresentado como o discurso sobre a coisa, temos a mentira.
Hoje temos muitas mentiras sobre as guerras que vivemos, embrulhadas em embalagens apelativas, certificadas pelos altos organismos como verdade, palha que nos dão a comer, nos emborcam goela abaixo.
Tudo isto é apresentado simplificado na narrativa, de modo a que a realidade paralela se sobreponha, e mantenha o grupo sob o efeito de manada.
Tudo isto é tratado cientificamente.
Há que manter a fogueira da praça sempre acessa.
Este post já vai longo. Poucos o irão ler, mesmo que eu coloque um foto , que nada tenha a ver com ele, para chamar a atenção.
As coisas são assim.
Na foto o Hijab Católico de uso obrigatório nos cultos em Portugal até aos anos 1970.

segunda-feira, abril 08, 2024

25 De abril de 1974,


 

25 De abril de 1974,

um ponto marcante na minha juventude.

 1. Declaração

 Nenhuma leitura figurada do passado o altera, e que só uma pessoa alienada e ignorante vive em função da sua crença.

   Mais acrescento que a realidade de cada momento é a circunstância provisória dos opostos necessários, e que tudo o que eu aqui escrevo ou digo, é feito por uma boa razão: é o começar de novo.

   Há muita coisa que eu não sei, mas gostaria de saber.

   Quero deixar claro que esta apresentação é o mais fiel possível à minha memória, onde me esforcei, quanto pude, a eliminar retroprojeções ou revisionismos temporais.

 

   2. 1973, Setembro, 14 anos, quase a completar 15 no mês seguinte.

   Matriculado na Escola Industrial e Comercial da Figueira da Foz, no 1º ano do Curso Complementar de Mecanotecnia, tendo completado o Curso Geral de Mecânica na Escola Industrial de Cantanhede.

   Saí do Escoural da Tocha, aldeia perdida entre pinhais, no fim do mundo, sem estradas onde pudesse transitar com facilidade um carro de praça, sem luz elétrica, água canalizada, claro que sem televisão, mas com um rádio a pilhas de marca Siera, e rumei à cidade da Figueira da Foz das ruas pavimentadas, das torneiras com água, dos automóveis, dos carros de cavalos a transportar mercadorias chegadas à estação do comboio, da luz a rodos e do cheiro a maresia que emanava as docas do porto das traineiras e dos barcos da pesca, em frente das praças Velha e Fernandes Thomaz.

   O meu pequeno quarto era na Rua S. João de Deus, no Sobe-e-desce, em frente ao Hospital Velho, o hospital da Gala aguardava inauguração, entre dois quartéis militares: O C.I.C.A. 2, ao lado da Escola Industrial, onde se formavam todos os militares condutores auto para a guerra do Ultramar, e o Regimento de Artilharia, hoje Quartel da GNR.

   No Sobe-e-desce funcionava um café que tinha só empregadas de servir à mesa. O outro, mais famoso com empregadas a servir os clientes, era na rua da República, a famosa Vimar. Chamo a atenção que a prostituição não existia, pois o seu exercício tinha sido proibido pelo decreto-lei Nº 44579, que entrou em vigor a 1 de janeiro de 1963.

   Antes de rumar à Figueira da Foz, as músicas que eu ouvia eram as do rádio a pilhas: as dos festivais da canção, e os muitos fados debitados, tais como os do António Mourão e Aida de Castro, que me recorde neste momento, e outros.

   2. No verão do ido de 1973,

no Escoural, comecei a ouvir umas músicas novas que passavam na rádio, umas em português e outras em francês. Destas últimas pouco ou nada entendia das palavras, mas gostava muito da melodia: Jacques Brel e Georges Brassens. Este último toca viola como eu imaginava e queria vir a tocar um dia. Também em Português um tal José Mário Branco cantava um soneto de Camões Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades e Sérgio Godinho com a cantiga É Entrar Senhorias Para Ver o que Cá se Passa.

Nesse mesmo verão, li os livros da coleção RTP, Jubiabá de Jorge Amado e o Suave Milagre e Outras Páginas de Eça de Queirós, comprados na Hortícola de Cantanhede.

    4. Já na Figueira da Foz,

fins de Setembro, início de Outubro, via o telejornal no aparelho de televisão com um napperon em cima. 

   Notícias de um Golpe de Estado no Chile com imagens de um general de bigode fino de nome Pinochet.

   A primeira ministra israelita Golda Meir e um senhor americano de testa longa, chamado Henry Kissinger da guerra do Yom Kipur. Na RTP única, os israelitas eram os maiores, os bons e os outros que eu nem sabia quem eram, eram os índios maus dos livros de cowboys.

  Das notícias nacionais decorria uma campanha eleitoral para a Assembleia Nacional. O slogan era Evolução na Continuidade com os salões das casas do Povo cheias de homens a baterem muitas palmas a discursos incompreensíveis para mim.

   As eleições de 23 de Outubro de 1973 decorreram com o resultado previsto.

   Exemplo: no Distrito de Coimbra a lista A teve 86 380 votos dos 86 384 votantes e alista B recebeu zero votos. Uma vitória por 99,99%.

   Do Ultramar (Angola, Moçambique e Guiné) víamos as reportagens onde os soldados, um a um, enviavam mensagens de Feliz Natal e um Ano Novo cheio de prosperidades e algumas vezes mensagens de Feliz Natal e um Ano Novo cheio de propriedades.

  Na frente da Escola Industrial existia um estabelecimento comercial que tinha uma Jukebox que debitava as músicas do Festival da Canção, José Cid e Quarteto 1111.

   Os rapazes entravam na Escola por um portão e as meninas por outro. Os recreios eram separados.

   Na espera da paragem da camioneta da carreira para as Alhadas, Maiorca e Montemor, que se situava na Praça Velha, existia uma loja de eletrodomésticos que vendia discos. Na montra um aquecedor elétrico com uma imagem de um toro a arder que imitava labaredas quando ligado. Uma capa do disco do Good By Yellow Brick Road, com Helton John de óculos coloridos e sapatos de tacão alto como a querer iniciar o caminho dos tijolos amarelos desenhado numa parede. As miúdas adoravam a música. O dono da loja colocava o disco a tocar até à exaustão. Outras vezes tocava Cat Stevens, Bob Dilon e o Angie dos Roling Stones.

   Não entendíamos as letras das canções, mas trocávamos olhares.

   No início da Primavera soubemos no próprio dia, 16 de Março, do Levantamento das Caldas da Rainha.

   A visita da Brigada do Reumático a Marcelo Caetano, presidente do Conselho, e a sua Conversa em Família na RTP, eram comentadas entre nós e com alguns professores.

 

   5. 25 de Abril de 1974, quinta-feira,

a aula de Matemática tinha começado às 08:00 como habitual. Da chamada só faltava o Vitor Oliveira.

   Estávamos a estudar limites de funções, quando o Vitor entrou de rompante na sala com um rádio transístor ligado, aos gritos: professora, professora, é um golpe de estado.

   À minha mente vieram as notícias do tal Pinochet do Chile. A turma era constituída por rapazes, já perto dos 20 anos com a espada da guerra sobre a cabeça, e o colega João Belo já tinha de lá vindo. Tinha 27 anos e não falava sobre o assunto.

   Ficamos na sala a aguardar, quase todos a ouvir o rádio transístor, os comunicados das Forças Armadas. No final da manhã, o Diretor da Escola, o professor Coelho, entrou na sala e disse que as aulas estavam suspensas, que voltássemos amanhã.

   Descemos a rua do posto da PSP, em direção à Praça Velha. O Borges, que estava à espera de ser chamado para a Tropa, começou a cantar a Grândola Vila Morena.

   Foi a primeira vez que ouvi a cantiga que me ficou no ouvido.

 

   Escoural, 05 de abril de 2024