Fila de cegos.
Blog do Manel
«Sabes o que me lembra este céu? Mais ou menos: a guerra dos astros. Tal e qual. A guerra dos mundos. Um sol maléfico, que tenta destruir a maquete, e sete planetas menores que tentam defendê-la.» [Finisterra, Carlos de Oliveira]
quinta-feira, outubro 03, 2024
Fila de cegos
segunda-feira, setembro 23, 2024
Não há fumo sem fogo
De há 50 anos para cá os fogos nas manchas de pinheiro bravo serviram para substituir esta árvore pelo eucalipto. O pinheiro bravo foi resultado das políticas dos baldios e Junta de Colonização Interna nos finais do seculo XIX e nos inícios do século passado respetivamente.
quarta-feira, setembro 18, 2024
O plutocrata
quinta-feira, agosto 29, 2024
A Termodinâmica e o meu Sistema
À medida que regredimos no tempo da nossa
memória, mais intenso foi o tempo vivido.
Hoje o tempo é mais líquido,
apresentando-se a diluir nele mesmo. O tempo não é o que está para vir, mas sim
o que está a deixar de ser, ou seja, não há futuro.
Há sempre perdas da passagem da desordem
para a ordem. O círculo não é vicioso, e não será um círculo mas algo mais
espiralado, porque há operações irreversíveis.
Sentimos na vida que o espaço é função do
tempo, mas o tempo é função do próprio tempo, ou seja, o tempo no fim de si
mesmo, isto é, não há eternidade.
Se, por acaso, houvesse uma previsão estatística
anterior ao “nascimento do universo”, seria um nascimento impossível.
Na nossa vida, na nossa evolução social,
tudo o que foi criador e fundador, foi sempre estatisticamente improvável.
terça-feira, agosto 27, 2024
Uma colher de moralina
A realidade é teimosa, conspira contra os desejos.
sexta-feira, agosto 02, 2024
Política por parábolas.
Política por parábolas.
O político
ganhou as eleições prometendo a mudança.
“Temos que
mudar” era o seu slogan de campanha.
No governo, um
alto funcionário apresentou-lhe evidências de corrupção dentro
da sua organização: havia um desvio, é assim que se diz, de fundos destinados a
obras sociais
O político
ouviu, nada disse, e demite o denunciante.
Os outros, os
mais próximos, entenderam a mensagem.
segunda-feira, julho 29, 2024
A verdade, o erro e a mentira.
Sendo a verdade um discurso sobre a coisa, em que a dita coisa corresponde, efetivamente, ao discurso, e no caso contrário, quando o discurso não corresponde à coisa, é o erro.
Sabendo do erro no discurso sobre a coisa, e continuando a afirmar que ele é a verdade, estamos, agora, na mentira.
Os mitos são umas histórias fantásticas, pouco racionais, que têm como objetivo em apontar ideias numa forma sugestiva, e não pelo racional, mas por meio de metáforas, alegorias e simbolismos. Assim sendo, o mito não corresponde à definição de verdade atrás exposta. Afirmar que o mito que eu quero que seja verdade, e que os outros sejam efetivamente mitos, é um apelo ao sistema ditatorial, se é assim que lhe posso chamar.
Neste caso é a ditadura do pretenso monoteísmo.
quinta-feira, julho 18, 2024
Aprender a desaprender as tralhas que aprendi
O que andas a
fazer?
Ando a aprender a
desaprender.
Largar borda fora
as tralhas que me foram impingidas.
Eles falam,
falam, conversa e mais conversa, à laia de Gato Fedorento.
“ Que uma estrelinha
os ilumine e um caralhinho os foda na graça de Deus, que é quem pode!”
Ámen!
quarta-feira, julho 03, 2024
Já nada me surpreende!
Já nada me surpreende!
Imaginem as coisas que eu lia!
Proposição tão evidente que não precisa ser demonstrada.
Porque hoje dei uso a vocábulo, lembrei o título do livro que li nos idos 82 e 83. O axioma de Linder.
Eram o tempo do
Serviço militar obrigatório, e das terríveis viagens de comboio ao fim de
semana.
Recordo que o
autor classificava as sociedades em dois tipos: as que tinham excesso de tempo e
as com escassez de tempo. As menos evoluídas teriam excesso de tempo. Daí comerem
devagar, terem refeições longas e com muita conversa, enquanto as avançadas ingeriam
refeições rápidas, enfim, como tinham escassez de tempo compravam tudo feito.
Se o crescimento
económico é constante, se as dificuldades materiais diminuem, porque não
estamos culturalmente melhores?
Porque é que a sociedade,
apesar dos benefícios que nos prometiam uma vida tranquila e harmoniosa, está numa
correria louca e desenfreada?
As coisas que eu
lia quando militar miliciano!
segunda-feira, julho 01, 2024
Hoje em dia
O mundo num caminho de neoliberalismo, um processo cruel e absurdo.
Eu não sou e não quero ser político, mas quero ter um papel político.
quinta-feira, junho 20, 2024
Declaração.
sexta-feira, junho 07, 2024
sexta-feira, maio 31, 2024
66 + 7/12
66 + 7/12
Ler na capa de um
semanário que a idade de reforma sobe para os 66 anos e 7 meses, quando tenho
65 anos e 7 meses vividos, não me entusiasma nem me stressa neste momento.
A velhice é um
esforço que só os anos nos habituam.
Saber sair de
cena não é nenhuma virtude. É saber que se é empurrado borda fora. Primeiro com
elogios e depois com o esquecimento.
Desfazemo-nos,
esboroamo-nos a caminho da não existência.
É fodido? É!
Chateia-me e
deixa-me triste, só isso!
quarta-feira, maio 29, 2024
"one man show"
Este tipo de slogans são propositados: visam rebaixar o nível de discussão para que esta não o seja, e assim entram com as frases feitas, encasulando qualquer raciocínio mais lúcido.
sexta-feira, maio 24, 2024
O equívoco
À medida
que as taxas de natalidade descem, muitos políticos querem investir dinheiro em políticas que
possam levar as mulheres a ter mais bebés. Donald Trump prometeu distribuir
bônus se retornar à Casa Branca. Em França, onde o Estado já gasta 3,5-4% do PIB em
políticas familiares todos os anos, Emmanuel Macron quer “rearmar
demograficamente” o seu país. A Coreia do Sul está a considerar doações no
valor de espantosos 70 mil dólares para cada bebé.
No entanto,
todas estas tentativas provavelmente fracassarão, porque se baseiam num equívoco.
As economias,
isto é, a sociedade das empresas às pessoas, não se devem preparar para viver
com para a nova situação?
Nota: Com a taxa de substituição de 2,1, a população é
estável sem imigração. O declínio na última década foi mais rápido do que os
demógrafos esperavam.
https://www.economist.com/leaders/2024/05/23/why-paying-women-to-have-more-babies-wont-work
Gosto de mapas
Mapa do concelho da Figueira da Foz e seus limites.
quinta-feira, maio 09, 2024
Dia da Espiga.
quarta-feira, maio 08, 2024
Tás cá c´uma fé!!
Tás cá c´uma fé!!
Não é uma questão de fé.
A realidade é muito teimosa.
As pessoas só lêem, ouve e vêem
o que lhes interessa, o que deverá ser elogioso para elas.
Se a leitura os levar a pensar no primeiro
parágrafo, então ficam por aí.
“ Na espera que o dia acabe ele voltou a olhar para o reflexo
branco e luminoso que vem por cima das nuvens quietas. Não há vento que se veja
nelas para os lados das Baleiras. O tempo vai-se escoando. Não o que há de vir,
mas o único que há, que passa correndo para trás de si mesmo e que se esvai na
luz do sol mirrado a afundar-se no mar. “
Se conseguirem ler, com algum
entendimento, o primeiro capítulo, talvez sigam.
Depois há três tipos de abordagem ao texto
a quando da leitura.
- Estética
- Política
- Heurística.
A primeira depende só do leitor.
A segunda depende do leitor e do grupo
ideológico a que pertence. Ele irá ler de acordo com o seu pensamento político,
seja de direita ou de esquerda, e o que ele quer ler lá estará. É como os
religiosos a ler a Bíblia.
A terceira é uma leitura indiciária de
busca. Aqui está envolvido o leitor e o autor. Aqui o leitor terá um
trabalho que se aproxima ao do autor. O que o autor quis dizer ao escrever?
Questionar, buscar, voltar a questionar e assim sucessivamente.
Três pessoas já leram o livro antes de ele
ir para a tipografia. Duas são aminha Maria, e a minha filha para fazer a
aguarela da capa.
Eu não conto como leitor.
Terei mais quantos leitores?
Podes arriscar um número?
E já agora, distribui os leitores pelos
3 tipos de leitura.
És capaz?
Abraço
Manuel Ribeiro
segunda-feira, maio 06, 2024
Divina Comédia
O Inferno de Dante - Divina Comédia
O “Inferno” é a primeira parte da “Divina Comédia” de
Dante Alighiere
A viagem de Dante é uma alegoria através do conceito
medieval de Inferno, guiada pelo poeta romano Virgílio.
O Inferno, o Purgatório e o Paraíso.
A obra está dividida em trinta e três cantos, sendo que
um deles serve de introdução ao poema.
No poema, o Inferno é descrito com nove círculos de
sofrimento localizados dentro da Terra.
A organização do inferno foi baseada na teoria medieval
de que o universo era formado por círculos concêntricos.
O inferno torna-se mais profundo a cada círculo, pois os
pecados são mais graves.
Os nove círculos do Inferno de Dante :
Limbo (virtuosos pagãos)
Vale dos Ventos (luxúria)
Lago de Lama (gula)
Colinas de Rocha (ganância)
Rio Estige (ira)
Cemitério de Fogo (heresia)
Vale do Flegetonte (violência)
Malebolge (fraude)
Lago Cócite (traição)
A justiça do inferno debatida no canto 11, está de acordo
com a ideia de Aristóteles que relata, na obra Ética a Nicômaco:
Deve ser observado que há três aspectos das coisas que
devem ser evitados nos modos:
a) a malícia,
b) a incontinência e
c) a bestialidade.
Portanto, os pecados menos graves estão logo no início, e
os mais graves no final.
Dante encontra vários pecadores famosos na sua jornada
pelo Inferno. . . . .
NO LIMBO - Dante encontra várias figuras clássicas, como
Homero, Hesíodo, Platão, Sócrates, Aristóteles, Ovídio e o próprio Virgílio.
Encontra também personagens bíblicos também foram
enviados para o Limbo, como Adão, Abel, Noé, Abraão, David ...
NA LUXURIA - Dante encontra Aquiles, Paris, Tristão,
Cleópatra e Dido . . . .
NA GULA - Dante encontra pessoas comuns, não personagens
de poemas épicos ou deuses da mitologia.
NA GANÂNCIA - Dante encontra mais pessoas comuns, mas
também o guardião do círculo, Plutão, o rei mitológico do submundo.
NA HERESIA - Dante encontra Farinata degli Uberti, um
líder militar e aristocrata que tentou conquistar o trono italiano e foi
condenado postumamente por heresia em 1283. Dante também conhece Epicuro, o
papa Anastácio II e o imperador Frederico II.
NA VIOLÊNCIA - Dante encontra Átila, o Huno, no Anel
Externo, os que foram violentos com pessoas e propriedades.
Na “Divina Comédia” o Diabo, ou Lúcifer, é retratado no
nono e último círculo do Inferno, conhecido como o Lago Cócite, é reservado
para os TRAIDORES, que para Dante são os piores pecadores.
Lúcifer é descrito como um gigante aterrorizante preso no
gelo até a cintura.
Ele tem três faces, cada uma de uma cor diferente: uma
vermelha, uma pálida e uma preta.
Cada uma das bocas de Lúcifer mastiga um dos três maiores
traidores da história, de acordo com Dante.
OS MAIORES TRAIDORES são Judas Iscariotes, que traiu
Jesus Cristo, e Brutus e Cassius, que traíram Júlio César.
Curiosamente, embora o conceito geral de Inferno seja de
um lugar quente, o espaço imaginado por Dante nem sempre era feito de chamas.
Na verdade, o círculo mais profundo punia os traidores
numa forma de lago congelado, que é constantemente resfriado pelo vento
produzido pelo bater de asas de Lúcifer.
Na “Divina Comédia” de Dante, Deus é retratado como a
personificação da perfeição e do bem supremo.
Ele é o criador do universo e o juiz final de todas as
almas.
Deus não aparece diretamente na maior parte da obra, mas
a sua presença é sentida em todo lugar e todas as coisas.
No Inferno, Deus é visto como um juiz justo que pune os
pecadores de acordo com a gravidade de seus pecados.
No Purgatório, Deus é retratado como misericordioso,
dando às almas a oportunidade de se purificarem dos pecados para ascender ao
Paraíso.
No Paraíso, a última parte da jornada de Dante, Deus é
retratado em toda a sua glória.
Dante descreve Deus como uma luz brilhante, tão intensa
que é difícil para os olhos humanos olharem diretamente.
A visão de Deus é o ponto culminante da jornada
espiritual de Dante, representando a união final da alma humana com o divino.
Deus é retratado como a fonte de toda a justiça, bondade
e amor na “Divina Comédia” de Dante.
Ele é o objetivo final da jornada espiritual de Dante e o padrão pelo qual
todas as coisas são julgadas.
segunda-feira, abril 15, 2024
Os Filhos da Areia (1)
Hoje, as nuvens altas vão desgarradas e com a cor de
trovoada. Coam a luz do Sol, mortiço, que se deixa levar, ele também, no
arrasto do vento fraco. Tudo parado. Tudo está quieto na esperança de que o ar
venha a ser lavado. Esta noite, a Lua fugirá para as Bandas do Mar a uma
velocidade vertiginosa e arrepiante, enquanto a memória vai ficando espalhada,
a esmo, entre os grãos da areia.
O Gabinete do Ódio está montado
O Gabinete do Ódio está montado, e trabalha na normalização da linguagem do elementos do rebanho.
Alguém afirmou que nas guerras a primeira vítima é a verdade.
Alguém afirmou que nas guerras a primeira vítima é a verdade.
segunda-feira, abril 08, 2024
25 De abril de 1974,
25 De abril de 1974,
um ponto marcante na minha juventude.
1. Declaração
Nenhuma leitura figurada do passado o
altera, e que só uma pessoa alienada e ignorante vive em função da sua crença.
Mais acrescento que a realidade de
cada momento é a circunstância provisória dos opostos necessários, e que tudo o
que eu aqui escrevo ou digo, é feito por uma boa razão: é o começar de novo.
Há muita coisa que eu não sei, mas
gostaria de saber.
Quero deixar claro que esta apresentação
é o mais fiel possível à minha memória, onde me esforcei, quanto pude, a
eliminar retroprojeções ou revisionismos temporais.
2. 1973, Setembro, 14 anos, quase a completar 15 no mês seguinte.
Matriculado na Escola Industrial e
Comercial da Figueira da Foz, no 1º ano do Curso Complementar de Mecanotecnia, tendo
completado o Curso Geral de Mecânica na Escola Industrial de Cantanhede.
Saí do Escoural da Tocha, aldeia
perdida entre pinhais, no fim do mundo, sem estradas onde pudesse transitar com
facilidade um carro de praça, sem luz elétrica, água canalizada, claro que sem
televisão, mas com um rádio a pilhas de marca Siera, e rumei à cidade da Figueira da Foz das ruas pavimentadas,
das torneiras com água, dos automóveis, dos carros de cavalos a transportar
mercadorias chegadas à estação do comboio, da luz a rodos e do cheiro a maresia
que emanava as docas do porto das traineiras e dos barcos da pesca, em frente
das praças Velha e Fernandes Thomaz.
O meu pequeno quarto era na Rua S.
João de Deus, no Sobe-e-desce, em
frente ao Hospital Velho, o hospital da Gala aguardava inauguração, entre dois
quartéis militares: O C.I.C.A. 2, ao lado da Escola Industrial, onde se
formavam todos os militares condutores auto para a guerra do Ultramar, e o
Regimento de Artilharia, hoje Quartel da GNR.
No Sobe-e-desce funcionava um café que tinha só empregadas de servir à
mesa. O outro, mais famoso com empregadas a servir os clientes, era na rua da
República, a famosa Vimar. Chamo a atenção que a prostituição não existia, pois
o seu exercício tinha sido proibido pelo decreto-lei Nº 44579, que entrou em
vigor a 1 de janeiro de 1963.
Antes de rumar à Figueira da Foz,
as músicas que eu ouvia eram as do rádio a pilhas: as dos festivais da canção,
e os muitos fados debitados, tais como os do António Mourão e Aida de Castro,
que me recorde neste momento, e outros.
2. No verão do ido de 1973,
no Escoural, comecei a ouvir umas músicas novas que passavam na rádio, umas
em português e outras em francês. Destas últimas pouco ou nada entendia das
palavras, mas gostava muito da melodia: Jacques Brel e Georges Brassens. Este último
toca viola como eu imaginava e queria vir a tocar um dia. Também em Português
um tal José Mário Branco cantava um soneto de Camões Mudam-se os Tempos, Mudam-se as
Vontades e Sérgio Godinho com a cantiga É Entrar Senhorias Para Ver o que
Cá se Passa.
Nesse mesmo verão, li os livros da coleção RTP, Jubiabá de Jorge Amado e
o Suave
Milagre e Outras Páginas de
Eça de Queirós, comprados na Hortícola de Cantanhede.
4. Já
na Figueira da Foz,
fins de Setembro, início de Outubro, via o telejornal no aparelho de
televisão com um napperon em
cima.
Notícias de um Golpe de Estado no
Chile com imagens de um general de bigode fino de nome Pinochet.
A primeira ministra israelita Golda Meir e um senhor americano de
testa longa, chamado Henry Kissinger da
guerra do Yom Kipur. Na RTP única, os israelitas eram os maiores, os bons e os
outros que eu nem sabia quem eram, eram os índios maus dos livros de cowboys.
Das notícias nacionais decorria uma
campanha eleitoral para a Assembleia
Nacional. O slogan era Evolução na Continuidade com os salões
das casas do Povo cheias de homens a baterem muitas palmas a discursos
incompreensíveis para mim.
As eleições de 23 de Outubro de
1973 decorreram com o resultado previsto.
Exemplo: no Distrito de Coimbra a lista A teve 86 380 votos dos 86 384 votantes
e alista B recebeu zero votos. Uma vitória por 99,99%.
Do Ultramar (Angola, Moçambique e Guiné) víamos as
reportagens onde os soldados, um a um, enviavam mensagens de Feliz Natal e um Ano Novo cheio de prosperidades
e algumas vezes mensagens de Feliz
Natal e um Ano Novo cheio de propriedades.
Na frente da Escola Industrial
existia um estabelecimento comercial que tinha uma Jukebox que debitava as
músicas do Festival da Canção, José Cid
e Quarteto 1111.
Os rapazes entravam na Escola por
um portão e as meninas por outro. Os recreios eram separados.
Na espera da paragem da camioneta
da carreira para as Alhadas, Maiorca e Montemor, que se situava na Praça Velha,
existia uma loja de eletrodomésticos que vendia discos. Na montra um aquecedor elétrico
com uma imagem de um toro a arder que imitava labaredas quando ligado. Uma capa
do disco do Good By Yellow Brick Road, com Helton John de óculos coloridos e sapatos de tacão
alto como a querer iniciar o caminho dos tijolos amarelos desenhado numa
parede. As miúdas adoravam a música. O dono da loja colocava o disco a tocar
até à exaustão. Outras vezes tocava Cat Stevens, Bob Dilon e o Angie dos Roling Stones.
Não entendíamos as letras das
canções, mas trocávamos olhares.
No início da Primavera soubemos no
próprio dia, 16 de Março, do Levantamento das Caldas da Rainha.
A visita da Brigada do Reumático
a Marcelo Caetano, presidente do Conselho, e a sua Conversa em Família na
RTP, eram comentadas entre nós e com alguns professores.
5. 25 de Abril de 1974, quinta-feira,
a aula de Matemática tinha começado às 08:00 como habitual. Da chamada só
faltava o Vitor Oliveira.
Estávamos a estudar limites de
funções, quando o Vitor entrou de rompante na sala com um rádio transístor
ligado, aos gritos: professora,
professora, é um golpe de estado.
À minha mente vieram as notícias
do tal Pinochet do Chile. A turma era constituída por rapazes, já perto dos 20
anos com a espada da guerra sobre a cabeça, e o colega João Belo já tinha de lá
vindo. Tinha 27 anos e não falava sobre o assunto.
Ficamos na sala a aguardar, quase
todos a ouvir o rádio transístor, os comunicados das Forças Armadas. No final
da manhã, o Diretor da Escola, o professor Coelho, entrou na sala e disse que
as aulas estavam suspensas, que voltássemos amanhã.
Descemos a rua do posto da PSP, em direção à
Praça Velha. O Borges, que estava à espera de ser chamado para a Tropa, começou
a cantar a Grândola Vila Morena.
Foi a primeira vez que ouvi a cantiga que me
ficou no ouvido.
Escoural, 05 de abril de 2024