quarta-feira, outubro 10, 2018

Sol de Outono




O Sol do início de Outono cai pelos pinhais abaixo, direito ao Mar.
Há uma teimosia nas palavras em se manterem e em nos cilindrar: pinhais! Continuamos a dizer pinhais, a chamar pinhais, nós os mais velhos no contacto com o mundo, pois pinheiros já há poucos, cada vez menos.
Dantes o Sol descia no seu caminho da noite por detrás dos grandes pinheiros de serra que cresciam devagar, muito lentamente, naquela pequena elevação, restos de uma duna que o tempo e o uso arredondaram, e a que se chegou a chamar Cabeço. Hoje esse pequeno cabeço de areia já não existe. Teria uns dois metros de altura e duas dúzias de passos de largura e a lonjura de um tiro de caçadeira, ou mais. Os pinheiros foram cortados, dando jus ao seu nome e tamanho, pois estavam mesmo a pedir machado e serra, e a areia, onde as suas raízes se fincavam, carregada em camiões de taipas feitas de metal, vedados e tapados com uma lona, para não se espalhar nenhuma pelos caminhos de estradas de alcatrão, fugindo, dizem, à Guarda pois iriam sem quaisquer guias ou autorização, aquelas coisas que os fiscais tanto desejam ver e justificam o seu trabalho. Hoje o Sol cai pelos enormes eucaliptos abaixo, direito ao Mar.
O rebento grande do enxerto de pereira feito no velho tronco já começou a largar as folhas. Foi assim de repente que deixaram de ser verdes e passaram a amarelecer. A seca antecipa esta mudança, e a planta poupa os alimentos para o Inverno.
O calor aqueceu toda a tarde e o ar até aos astros, mostrando que nos próximos tempos não teremos grande mudança de tempo, talvez até perto do Natal. As formigas andam baralhadas e as ervas secas estalam debaixo das passadas.

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