TER OPINIÃO - UM RISCO ASSUMIDO (por
alguns ...)
Ter opinião foi, desde sempre, um risco. E ter opinião em
matéria política foi e continua a ser um risco elevado. Nas ditaduras tal risco
pode ser mortal, em sentido próprio. Mas mesmo nas democracias formais, ter
opinião constitui uma opção arriscada.
Uma estrutura social engendra sempre posições de domínio e de vigilância. As
hierarquias, quaisquer que elas sejam, defendem os seus estatutos pessoais ou
grupais. E, consoante os interesses em jogo, podem defendê-los com violência.
Esta violência é exercida sobre quem tem opiniões contrárias.
Houve sempre quem tivesse considerado a opinião
desassombrada como uma imprudência. Os jesuítas, por exemplo, costumam ser
mestres na "reserva mental". Esta consiste em guardar a opinião
própria só para si ou para um círculo restrito de "fiéis",
respondendo às opiniões adversas com uma palavra ou expressão evasiva ou até
com uma concordância postiça.
A consciência destas realidades empurraram muitas
pessoas para a zona cinzenta e neutra das reticências e do silêncio
sistemático. Há quem construa carreiras bem sucedidas desta forma.
É certo que a sabedoria popular declara que
"com o teu amo não jogues as pêras". Mas também não é menos
verdadeiro que as organizações sociais deixaram de ter amos, a partir do
momento em que o mando por direito ou imposição divina, um mando autoritário,
foi substituído pelo mando procedente do Contrato Social, ou seja, por um mando
de consenso.
Por isso se operou a conversão do súbdito no
cidadão. Isto não retirou totalmente aos dirigentes uma posição de hegemonia e
de superioridade sobre os dirigidos. E quem manda, ainda que mande por
delegação, mantém instrumentos de favorecimento e de desfavorecimento que pode
utilizar com arbitrariedade.
O famoso humorista brasileiro Jô Soares construiu,
em tempos, a figura hilariante do "cinzentão" que todas as vezes que
era instado a pronunciar-se sobre um qualquer assunto público melindroso,
declarava : "Não me comprometa ! Não me comprometa ! ".
Tudo isto pode ser verdade. Mas existe uma verdade
mais forte, pelo menos para alguns : é que o timorato, o tímido ou o simples
manhoso nunca deram um contributo efectivo para que o Mundo melhorasse o rosto
da Justiça e do Progresso ético e social.
Professor Amadeu Homem
http://www.uc.pt/imprensa_uc/Autores/galeriaautores/amadeuhomem
https://www.facebook.com/amadeu.homem?fref=nf
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