segunda-feira, agosto 05, 2013

Para trás mija a burra

 Ana Ana Quelhas.

 Desculpem, mas hoje estou curta, grossa, amarga e acre!
Nestas navegações no ciber espaço há coisas que têm o poder de me irritar até aos cornos... da lua. O branqueamento do mal, o colocar nódoas no bem, a opacidade da verdade, a verdade paralela, a não transparência, o deturpamento da verdade, a demagogia barata e a ignorância de quem embarca em silogismos errados e em prosápia de mesa de café.
Quando me deparo com posts a branquear a acção de Adolf Hitler, tal como: se não tivesse levado uma reprovação na entrada da escola de artes, se calhar….. tal e tal,
….passo-me e aconselho que vão passar a noite na cozinha, fechem bem as janelas e as portas e liguem o gás do fogão.
Quando se branqueia a inquisição apetece-me chamar-lhes bruxos e aquecer-lhes os pés com um fósforo!
Quando se branqueia a pedofilia, aconselho a porem-se a jeito.
Quando se pensa na crise actual e se branqueia Salazar e o Estado Novo e o antes é que era bom, sinto que as pessoas têm memoria bem curta ou não viveram no mesmo país que eu. Por vezes é necessário recordar detalhes que fazem toda a diferença.
Eu vivi numa aldeia de Tras-os-Montes apenas durante 5 anos da minha infância, em metade da década de 60, rodeada de mimo, mas atenta às casas dos vizinhos, e passo a descrever para ver se nos entendemos:
- A refeição normal de peixe era constituída por chicharro frito ou sardinha com broa. A mãe normalmente escolhia a cabeça e repartia o resto em pequenas porções que distribuía por uma bando de filhos famintos. (no coments)
- Quando pretendiam ir à cidade mais próxima, que era mesmo próxima, 17km, tratar de algo urgente, iam e voltavam a pé, pelo meio da serra, por meio de atalhos e trabalhos, cruzando-se por vezes com lobos. 17+17=34 . No bolso levavam o lanche: uma côdea de pão. (no coments)
- As ruas da aldeia eram o deposito sanitário para onde escorriam os dejectos de algumas casas. Cobriam-se com caruma dos pinheiros e viravam estrume que ai ficava a curtir diversos meses. Febre tifoide, hepatites , gastroenterites não existiam. Morria-se e pronto! (no coments)
- Hospital havia de empréstimo de uma misericórdia, que funcionava mal. Quem necessitava de um médico, pagava. Não havia comparticipações nos medicamentos, nem serviço nacional de saúde, nem genéricos, nem, nem, nem…(no coments)
- Leite para as crianças? Onde? Quem tivesse possibilidade tinha uma cabra para dar leite. O leite das vacas destinava-se à alimentação dos bezerros para trabalhar na lavoura. (no coments)
- Brigava-se e matava-se na disputa das águas para regar os campos. (no coments)
- A maioria dos homens tinha a 3ª classe e as mulheres nem isso. (no coments)
- Cozinhava-se no chão e pedia-se o lume ao vizinho para não gastar um fósforo. (no coments)
- O aquecimento central era feito pelas vacas que moravam no piso inferior da habitação e fazia-se com a fermentação dos dejectos dos animais. Urina quente, fezes quentes, e vapores do respirar, infiltravam-se através das juntas do soalho e aqueciam as habitações. (no coments)
- A maioria das casas não tinha quarto de banho. Tinha um buraco a imitar uma sanita turca com uma tampa e um lavatório de ferro e esmalte. Banho não existia. (no coments)
- Duas vezes por dia as mulheres carregavam na cabeça o caneco da água. Eu não escrevi cântaro. Escrevi CANECO. Não sei bem, mas um caneco deveria levar para ai 25l de água. Iam buscar a agua à fonte e carregavam para casa, para poder cozinhar, lavar etc.(no coments)
- Não havia papel higiénico e jornal também não. (no coments)
- As camas tinham uma estrutura de ferro e eram pequenas. Normalmente numa cama dormiam sempre mais de 2 pessoas. Havia os que dormiam para cima e os que dormiam para baixo, aquecendo-se e também porque não havia outras camas.(no coments)
- Os colchões não eram ortopédicos, eram enchidos com palha… duros…. A palha tinha que ser removida periodicamente. E as almofadas eram cheias também de uma fibra, que já não lembro o nome. (no coments)i
- Fraldas descartáveis não havia. Havia uns panos onde se embrulhava o rabo dos miúdos. Mijavam-se e quando os adultos tinham tempo, trocavam o pano, e secavam-no num enxugador, para poupar uns gramas de sabão. Quando as crianças começavam a andar, tiravam-lhes as fraldas e vestiam-lhes umas calças abertas no rabo para as fezes saírem, fizesse frio ou calor ou estivesse a nevar. (no coments)
- Calçavam-se sapatos no dia de festa. Normalmente andava-se descalço ou calçava-se umas socas que deveriam ser poupadas durante meses e até anos. (no coments)
- Azeite era para temperar a sopa nas casas mais abastadas. As batatas regavam-se com um pouco da água da sopa.(no coments)
- Para passar a ferro era necessário fazer brasas e colocar dentro do ferro de passar. (no coments)
- Electricidade não havia. Havia candeias, petromax, candeeiro de petróleo…. Frigorifico???? Naaaaa. Existia uma salgadeira para conservar carne, e as bebidas colocavam-se em lugar fresco. (no coments)
- Era preciso ir comprar sal ao Porto ou a outro sitio mais perto. Junguia-se os bois e faziam-se ao caminho. Demoravam-se dias até completar essa tarefa. (no coments)
- O vinho fazia-se em casa com inúmeras tarefas a realizar até o liquido sair da pipa. Alguém já viu a lavagem de um tunél???? Sabem o que é claustrofobia? (no coments)
- Os velhos sem famila, eram vehos sem família, eram velhos sozinhos até morrer. Não havia lares, nem assistência domiciliária.. (no coments)
- Extraiam-se dentes no barbeiro, não se tratavm dentes. (no coments)
- Quando se enloucava, enloucava-se de vez. (no coments)
- As roupas passavam de ricos para pobres e depois de um para o outro ate não servir ou ate se romper. (no coments)
- Quando as dores de parto apertavam, a epidural era um ou dois cálices de aguardente.
Paria-se de manhã e já se trabalhava à tarde, as mais mimadas tinham uma vizinha que lhe fazia um chá ou uma canja de galinha. (no coments)
-O filho que tivesse uma mãe que não pudesse amamentar tinha os dias contados para o corredor dos anjinhos. E havia muitos anjinhos. Acompanhei muitos ao cemitério e segurei em alguns. (no coments)
- Os mancebos quando chegavam à idade que tinham força e vigor de homens, iam lutar para outro continente. (no coments)
- A fruta roubava-se. Existiam pouquíssimas árvores de fruta e quem as tinha que as guardasse. (no coments)
- Na escola não havia cadernos. Havia uma palmatória, lousas meio partidas e bons puxões de orelhas. Apagava-se a lousa, cuspindo-lhe e passando a manga sebenta da camisola. Aquecimento não havia, nos anos áureos dos 60, cada aluno em cada dia, levava uma braseira para aquecer a professora. Lá não havia instalação sanitária, as crianças iam ao monte. (no coments)
- Durante o inverno as mãos das crianças eram chagas de cieiro. (no coments)
- Ninguém tinha férias., muito menos subsídios (no coments)
- Havia mendigos a pedir de casa a casa. Pediam uma tijela de caldo. (no coments)
- As crianças começavam a trabalhar mal começavam a andar.(no coments)
- Quando caia uma tromba de água ou uma trovoada que estragava a gricultura não se vinha para a televisão reclamar com o IFADAP. Rezava-se a Sta Bárbara e queimava-se um ramo de oliveira. (no coments)
- Cozia-se o pão num forno de lenha com porta betumada com cáca de boi. (no coments)

Há mais, mas fico por aqui. Este era o tempo do Salazar e já na recta final.

Conclusão: lutem sempre por um mundo melhor, onde o Homem esteja acima do capital. Não suspirem pelo Salazar. Para trás mija a burra!!!!
AQ

3 comentários:

Anónimo disse...

História alternativa de Portugal:

Nas últimas décadas da Monarquia e durante a Primeira República, Portugal era um país muito desenvolvido, com Educação, Saúde e Transportes de excelência. Era o país mais desenvolvido da Europa. Não havia fome, não havia pobreza. O país estava muito organizado, com estabilidade política e não existia dívida externa. Não existia emigração para o Brasil e USA.

Depois veio o Salazar e o país regrediu muitos séculos. Voltou a fome, voltou a pobreza, desapareceu a Saúde, desapareceu a Educação e sumiram os Transportes. Não se construiu nenhuma escola, nenhuma estrada, nenhuma barragem. Só então começou a emigração em massa.

Veio o 25 de Abril, vieram os salvadores da pátria rosas e laranjas e tudo ficou perfeito, Portugal ficou um verdadeiro paraíso. Acabou a emigração. Riqueza e prosperidade para todos, sem necessidade de injectar fundos comunitários, americanos e soviéticos na economia nacional, nem de endividamento externo. A Justiça passou a funcionar e a ser igual para todos. Acabou a corrupção generalizada. Equilibraram-se as contas públicas. Os Portugueses nunca foram tão felizes como hoje.

Agora a sério, este texto irónico não pretende ser nenhuma apologia do Salazar. Existiam aspectos maus no Estado Novo (repressão e falta de liberdade de expressão, guerra colonial sem solução política, falta de um SNS e ensino superior só para elites, inexistência de um Estado Social...), mas também não foi tão mau como o pintam, teve aspectos positivos e não foi o culpado de todos os problemas de Portugal.

Manel disse...

Deveria identifica-se, caro anónimo.

Anabela Quelhas disse...

Durante a monarquia era tudo tão bom que até houve um regicídio!
O Portugal rural pós guerra era este que aqui descrevi, e ainda há muito para retratar. O Portugal urbano dava uma imagem mais cosmopolita deste nosso rectangulo, mas havia muita miséria encoberta. Nas cidades do norte, lembra-me ver as pessoas a fazer braseiras nas ruas para depois enganar o frio dentro de casa. As habitações eram do século passado, a maioria sem infraestruturas sanitárias. Cidades pobrezinhas quase medievais, de roupa estendida nas varandas,ruas malcheirosas, onde o “pregão” AGUA VAI, anunciava uma descarga de um penico para a rua. Quando queriam tomar banho tinham que o fazer nos balneários públicos (quando os havia). Os bairros camarários eram localizados e estruturados para conter eventuais revoltas populares, havia muitos mendigos, havia piolhos durante todo o ano nas cabeças das crianças e percevejos nas camas dos hotéis de menor categoria.
As crianças começavam a trabalhar com 10 anos, a sua primeira profissão era de CAIXEIROS. A lei da palmatória era transversal, e a pouca alfabetização também.Dava-se um pequeno almoço na escola, com manteiga e queijo vindo não sei de onde, talvez dos Estados Unidos, nas remessas para o 3º mundo.
No fundo a miséria franciscana adaptava-se às cidades.
Obviamente que a classe média alta já tinha todo o conforto.
Hoje temos uma classe politica corrupta que com a euforia das privatizações mal feitas deu no que deu. Os nossos políticos pensam primeiro nos seus interesses, depois nos seus interesses e dos amigos, e bem no final se sobrar alguma coisa para todos os outros. Mas não suspirem pelo Salazar porque felizmente ele não volta. Nem o D. Sebastião voltou….. que também fez asneira grossa.