quinta-feira, setembro 27, 2018

Vaidosas pancinhas




Sente-se como observado por si mesmo na sua juventude. Aqueles ali nada devem fazer, pois não mexem uma palheira do chão. Assim pensou a quando da sua mirada observativa dos velhos a conversar na mesa do restaurante, sem pressas e ele sempre de um lado para o outro, na tentativa de perceber um pouco, um pouco sequer seria muito bom, da confusão que o rodeava. Será que aqueles ali sentados na frente dos seus petiscos de cheiro e aspecto apetitosos, de um jarro de vinho a que um deles se refere como uma pinga de estalo, estarão assim tão seguros com o dia de amanhã? Claro que estavam cheios de certeza, só pode assim ser, pois se assim não fosse, eles assim não estariam. E lá continuam eles na sua conversa só deles, sobre coisas que para quem está de fora serão banais, e mesmo assim pareciam abordar nela assuntos que ele nem sonhara, sequer, existirem. Estão certos do que afirmavam nas suas posturas doutorais. Talvez porque teriam uma gaveta com dinheiro, ou então não, talvez fosse do tempo que tinham para si que seria mesmo assim calmo e usado com parcimónia de quem o saboreia, tal qual o vinho jorrava pelas goelas em redor daquela mesa.
O tempo passou. Os velhos passaram. Já nem se recorda dos nomes que foram deles, muito menos das caras, das feições, mas na memória está marcada as mãos de unhas limpas, e que dois deles usavam sempre gravata e a mesma camisa de mangas arregaçadas, pois era o tempo da gravata mesmo no pino do Verão, e das redondas e vaidosas pancinhas que exibiam.

Sem comentários: