quinta-feira, setembro 27, 2018

Vaidosas pancinhas




Sente-se como observado por si mesmo na sua juventude. Aqueles ali nada devem fazer, pois não mexem uma palheira do chão. Assim pensou a quando da sua mirada observativa dos velhos a conversar na mesa do restaurante, sem pressas e ele sempre de um lado para o outro, na tentativa de perceber um pouco, um pouco sequer seria muito bom, da confusão que o rodeava. Será que aqueles ali sentados na frente dos seus petiscos de cheiro e aspecto apetitosos, de um jarro de vinho a que um deles se refere como uma pinga de estalo, estarão assim tão seguros com o dia de amanhã? Claro que estavam cheios de certeza, só pode assim ser, pois se assim não fosse, eles assim não estariam. E lá continuam eles na sua conversa só deles, sobre coisas que para quem está de fora serão banais, e mesmo assim pareciam abordar nela assuntos que ele nem sonhara, sequer, existirem. Estão certos do que afirmavam nas suas posturas doutorais. Talvez porque teriam uma gaveta com dinheiro, ou então não, talvez fosse do tempo que tinham para si que seria mesmo assim calmo e usado com parcimónia de quem o saboreia, tal qual o vinho jorrava pelas goelas em redor daquela mesa.
O tempo passou. Os velhos passaram. Já nem se recorda dos nomes que foram deles, muito menos das caras, das feições, mas na memória está marcada as mãos de unhas limpas, e que dois deles usavam sempre gravata e a mesma camisa de mangas arregaçadas, pois era o tempo da gravata mesmo no pino do Verão, e das redondas e vaidosas pancinhas que exibiam.

segunda-feira, setembro 24, 2018

Murmurai murmuradeiras


(Foto de Rocha Pato)

O que iriam dizer as murmuradeiras ao soalheiro se ela não fosse  lá? Seria mais um marmuradoiro das covelheiras  de vida alheia ainda mais do que por aí falam, isto que ela sabe, mais aquilo que nem imagina. Lembrou-se da cantiga de antigamente.

Marmurai marmuradeiras
Grande é o vosso marmurar
O Inferno já está cheio
Mas pra vós inda há lugar.

quinta-feira, setembro 20, 2018

A Origem do Mundo, pintura de Gustave Courbet, 1866.





A Origem do Mundo, pintura de Gustave Courbet, 1866.

quarta-feira, setembro 19, 2018

A noite foge do dia



O sol rompeu pelo lado da serra enquanto a enorme parede de nevoeiro continua erguida do lado do mar, negra, quase medonha, absorvendo os raios da luz pela frente e largando o negro escuro por trás, para o lado da noite que foge do dia, mar adentro.


terça-feira, setembro 18, 2018

Coisas a evitar




Ultimamente tem-me custado ver e ouvir certas coisas.
Talvez por isso as evito e ignoro, pois pouco me tem vindo a surpreender, nem a estupidez humana.

sexta-feira, setembro 14, 2018

É disto que o povo gosta



É disto que o povo gosta, gritava o adepto do clube de futebol a quando da marcação do golo que lhe daria o título almejado.
E resto? O resto não interessa. O que interessa é que ganhámos, somos campeões!
Afinal o que interessa são umas bifanas de porco assado no pão numa mão e uma bejeca na outra, ao som do Pimba-pimba que o Malhão-malhão já passou de moda, e que o partido daquele senhor ganhe as eleições outra vez cá na terra para que se possa manter o recibozito verde a funcionar.

Ando farto de Malhão
O Pimba é que está a dar
Um pouco de pornografia
É que vem mesmo a calhar

quinta-feira, setembro 13, 2018

Alguém tem cinquenta cêntimos de entusiasmo que me possa dispensar?




A mente humana é um universo insondável.
O que se passará na mente de uma pessoa que durante o seu tempo de trabalho efectua tarefas curtas, rotineiras e repetitivas? Deverá pensar nas actividades curtas que faz. Sim, pensará, mas será como um autómato, como tantos outros em outras tantas actividades, sendo algumas consideradas como mais nobres. Mais nobres só porque ao momento estão a preencher uma necessidade especial do momento, pois de nobre pouco terá na prática, mas como sendo apresentada de outra maneira, é neste momento a mais desejada, sendo só uma questão de tempo para se banalizar, passando logo a ser mais do mesmo.
Os pensamentos que se desenvolvem em paralelo com o automatismo humano serão simples, isto é, digo eu: comida, conforto, sexo, pequenos e grandes desejos sonhados, planeamento de actividades curtas e aquisições imediatas e longo prazo e futebol. Talvez muito futebol e novelas. 
Talvez pense em ganhar o totoloto! Este desejo é o que mais, talvez, active as dopaminas e a felicidade sonhada deverá escorrer a rodos pelos neurónios.
Depois, quer em viajem, quer em casa, há o bombardeamento constante de promessas de felicidade nas constantes ofertas publicitárias ao consumo. 
O que mais se pode desejar?
Alguém tem cinquenta cêntimos de entusiasmo que me possa dispensar? É que eu tenho o reservatório do entusiasmo completamente vazio.

quinta-feira, setembro 06, 2018

Eppur si muove








Imagens recolhidas da Net de um terramoto de magnitude 6,7 que atingiu esta quinta-feira a ilha de Hokkaido, no Japão.


terça-feira, setembro 04, 2018

A Terra continua o seu trabalho de formação.



Segundo notícias lidas a quando da minha chegada à Fábrica, um sismo de magnitude 4,6 na escala de Richter foi registado às 07.12, tendo sido sentido no centro e norte de Portugal. Nesse momento eu estava em condução na A17, e pela hora indicada estaria já a norte de Mira, talvez a passar Vagos, e não senti os tais tremores que as pessoas testemunharam sentir.
Numa consulta rápida recolhi que foi um sismo ligeiro de efeitos significativos, mas com danos importantes improváveis.
A Terra continua o seu trabalho de formação.

segunda-feira, setembro 03, 2018

Expectativas



Na frente o velho e recorrente projecto que não surpreende.
Se fosse há dez anos seria um mergulho imediato, e de cabeça. Hoje assim não é, pois não entusiasma.
Já não corro a foguetes.