Uma vez, tendo eu
à mão uma enchó, comecei a escavar um pedaço de tronco de madeira com o
objectivo de fazer um instrumento musical que ressoasse aquele som mavioso que me
enlevasse do ruído mundano.
E lá comecei eu a
retirar o material que estaria a mais daquele pedaço de madeira, com aquele meu
jeito que vocês desconhecem e que eu nem sabia que tinha.
Trabalhei com a
alegria da descoberta, fibra após fibra da madeira arrancada em cada apara, e a
obra lá foi evoluindo mais a jeito dos veios da madeira onde se guardavam as
memórias de estios, invernos, ventos e geadas tardias vividas por aquele tronco
enquanto árvore.
Quando já não
tinha mais madeira para arrancar ao pedaço, quando as aparas e lascas já
cobriam todo o chão daquele estaleiro de construção, parei um pouco e afastei-me,
olhei a obra de largo e, assim afastado conclui que não tinha mais nada a
fazer.
Como imaginam o
resultado final de tão laborioso trabalho esforçado não foi efectivamente uma
cítara, nem algo parecido. Também não chegou a ser sequer um pequeno barco de
brincadeira de menino para navegar na pequena lagoa lá da aldeia.
Eu tinha, ali na
minha frente, nem mais nem menos que um cocho de madeira onde poderia dar de
comer ao porco.
É um cocho único
como não há mais nenhum.
Foi assim que eu
fiz uma peça única, moldada pelas intempéries dos anos que fustigaram um tronco
de uma árvore.
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