quarta-feira, maio 30, 2018

Um espaço virtual



Este espaço já não é, se é que alguma vez o foi, o mais indicado para uma discussão serena de troca de ideias sobre temas que nos tocam ou virão a tocar em futuros próximos.
Para tal, eu tenho outros espaços bem mais reais que virtuais, e aí ouço e participo quando bem entender e julgar, dentro da minha liberdade.
Talvez por isso os meus escravinhanços se apresentem, às vezes, um pouco encriptados enroupados e até travestidos, dado que opinar é uma constante construção suportada no que se vai adquirindo da vida, e eu estou a aprender que isso pode chocar algumas pessoas que se acostam e ancoram a verdades e certezas que, para elas, assumem como absolutas.


quinta-feira, maio 17, 2018

Horas apertadas



   O homem entra pátio adentro pela cancela feita de trandeiras que estava entreaberta, disse algo ininteligível à mulher que deu a entender que percebeu enquanto se apoia no cabo do engaço como que para descansar um pouco, desloca-se a passos largos enquanto, atabalhoadamente, se liberta dos atilhos que prendem as remendadas e sujas calças de pano-cru à cintura, dirige-se ao lado esquerdo do pátio, aquele que dá para a cerca das galinhas de portinhola de tábuas costaneiras e raras e fecha-se à pressa no escuro onde tudo vê de dentro para fora. As galinhas correm para debaixo da tosca palafita na ânsia de aproveitar aquela borla do cagaçal.


segunda-feira, maio 14, 2018

Bailarico



Domingo, 10 de Abril de 1932
   A pequena sala está iluminada por uma luz limpa saída do candeeiro de vidro, novinho em folha, comprado na feira de propósito para o evento que vai enregar esta safra de bailaricos. Sempre dará uns tostões disponibilizar a casa. As moças precisam e com tanta luz todos se darão ao respeito, não que ele falte por estas bandas, pois a gente da nossa terra não é como a das outras donde só se sabe poucas vergonhas. E não são só as solteiras que depois acabam por não casar, mas até casadas que teimam ir aos bailes e outras coisas piores. 

quinta-feira, maio 10, 2018

Santa Preguiça



Loriot, 1965: "Segundo descobertas científicas, mulheres demoram mais para pegar no sono do que homens."

Sinto uma sonolência que nada me passa pela mente. Agora, se tal fosse possível, dormiria uma sesta e não mais queixaria da vida por hoje. Não tenho vida para este tipo de vida e só lamento que a preguiça  não tenha sido, ainda,  canonizada, essa santa.
Santa Preguiça - rogai por nós!

O mundo está cada vez mais velho



Uma calma invadia-o a ponto de se sentir como parte integrante da Natureza de onde ele tinha vindo e da qual foi feito e assim se ia desfazendo sem custos notados, como os astros se vão dando pouco a pouco e assim se fazem uns em outros de outras formas e maneiras. Sentia-se como feito da matéria que ao ser fabricada por uma força enormíssima, ainda guardava energia e força desse pontapé inicial, vindas da eternidade do começo, que a eternidade tem um começo e um fim que será ela própria, não existindo.
Sente-se bem com todas as suas forças a reorganizarem-se de uma outra forma de estar, como a ser, ele próprio, o fio de novelo de sediela no guiamento de um risco a outras enosilhadas e atadilhos, para onde cada parte segue o caminho lógico traçado desde este coice inicial que vem do fundo de tudo.
O pensamento voa pela Natureza e esfuma-se como poeira de estrelas.
Estava a constatar que o mundo está cada vez mais velho

terça-feira, maio 08, 2018

Maio

Maia ou Maia Maiestas conhecida também como, Bona Dea a “Boa Deusa”, uma deusa romana da terra e da fertilidade.
Maio, o mês da fertilidade, que o cristianismo apropriou do paganismo da deusa Primavera (primeira verdade), e o catolicismo transformou no mês da deusa (Fátima).
O ciclo, à escala curta da Humanidade, é como se fosse eterno, contínuo como os fios brancos embutidos da lágrima das minhas guitarras.

A peça única



Uma vez, tendo eu à mão uma enchó, comecei a escavar um pedaço de tronco de madeira com o objectivo de fazer um instrumento musical que ressoasse aquele som mavioso que me enlevasse do ruído mundano.
E lá comecei eu a retirar o material que estaria a mais daquele pedaço de madeira, com aquele meu jeito que vocês desconhecem e que eu nem sabia que tinha.
Trabalhei com a alegria da descoberta, fibra após fibra da madeira arrancada em cada apara, e a obra lá foi evoluindo mais a jeito dos veios da madeira onde se guardavam as memórias de estios, invernos, ventos e geadas tardias vividas por aquele tronco enquanto árvore.
Quando já não tinha mais madeira para arrancar ao pedaço, quando as aparas e lascas já cobriam todo o chão daquele estaleiro de construção, parei um pouco e afastei-me, olhei a obra de largo e, assim afastado conclui que não tinha mais nada a fazer.
Como imaginam o resultado final de tão laborioso trabalho esforçado não foi efectivamente uma cítara, nem algo parecido. Também não chegou a ser sequer um pequeno barco de brincadeira de menino para navegar na pequena lagoa lá da aldeia.
Eu tinha, ali na minha frente, nem mais nem menos que um cocho de madeira onde poderia dar de comer ao porco.
É um cocho único como não há mais nenhum.
Foi assim que eu fiz uma peça única, moldada pelas intempéries dos anos que fustigaram um tronco de uma árvore.

sexta-feira, maio 04, 2018

Formosa como a Lua


Capela (Quinta do Bom Nome)


Nunca negues os fantásticos poderes da Lua.
As mulheres de virtudes sabem disso como ninguém, pois as outras nunca o saberão destrinçar nem depois da passagem pelos seus terríveis efeitos secundários, e nem assim estão em condições de dar conselhos como as primeiras, que apesar de apontarem um sentido ou o seu contrário, sempre apontam um sentido.
Vamos nós lá entender tais poderes!

quinta-feira, maio 03, 2018