O fenómeno e a sua observação
Há 40 anos a Figueira da Foz era uma cidade com um
nevoeiro matinal muito semelhante ao de hoje, mas tinha um outro cheiro
garantidamente, e outros ruídos no meio dele. Não circulavam muitos automóveis
e os autocarros do Farreca cheiravam a peixe nos aventais das peixeiras de
Buarcos ao chegarem ao Mercado Municipal, ali ao lado do Jardim. A cidade dominada
pela torre do Grande Hotel, ainda ouviria, mas por pouco tempo mais, os ruídos
dos carros de cavalo dos distribuidores da mercadoria chegada à estação do Caminho-de-ferro,
via linha do Oeste e Ramal de Alfarelos. Os cavalos estavam a deixar de ser
rentáveis e o som dos seus cascos estava perto de deixar de ser ouvido nas ruas
da cidade Rainha da Praias de Portugal. Com os sons dos cascos dos muares do
carreto iriam os Festivais da Canção e de Cinema, perdendo a cidade e a praia a
Claridade, e o Grande Hotel o tamanho. O comboio seguiu-lhes os passos. A nova
ponte tardava na sua construção e os camiões estavam cada vez mais
impacientes.
Os rádios transístores portáteis, os mais avançados meios
de disseminação da notícia, eram tão sofisticados que até cabiam num bolso do
casaco, no bolso das calças não cabiam pois nesses nada cabia dada a moda da
sua justeza junto ao corpo e larga em boca-de-sino abaixo do joelho, e só
usavam, isto para os topos de gama, duas pequeníssimas pilhas de dois centímetros
e meio de comprimento.
Pela primeira vez, em Portugal, a televisão fez a
cobertura em directo, ao vivo e a cores preto e branco, de um acontecimento.
Alguém terá comentado que tudo aquilo seria encenado, pois até a televisão lá
estava.
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