quarta-feira, março 11, 2015

O fenómeno e a sua observação


O fenómeno e a sua observação
Há 40 anos a Figueira da Foz era uma cidade com um nevoeiro matinal muito semelhante ao de hoje, mas tinha um outro cheiro garantidamente, e outros ruídos no meio dele. Não circulavam muitos automóveis e os autocarros do Farreca cheiravam a peixe nos aventais das peixeiras de Buarcos ao chegarem ao Mercado Municipal, ali ao lado do Jardim. A cidade dominada pela torre do Grande Hotel, ainda ouviria, mas por pouco tempo mais, os ruídos dos carros de cavalo dos distribuidores da mercadoria chegada à estação do Caminho-de-ferro, via linha do Oeste e Ramal de Alfarelos. Os cavalos estavam a deixar de ser rentáveis e o som dos seus cascos estava perto de deixar de ser ouvido nas ruas da cidade Rainha da Praias de Portugal. Com os sons dos cascos dos muares do carreto iriam os Festivais da Canção e de Cinema, perdendo a cidade e a praia a Claridade, e o Grande Hotel o tamanho. O comboio seguiu-lhes os passos. A nova ponte tardava na sua construção e os camiões estavam cada vez mais impacientes.
Os rádios transístores portáteis, os mais avançados meios de disseminação da notícia, eram tão sofisticados que até cabiam num bolso do casaco, no bolso das calças não cabiam pois nesses nada cabia dada a moda da sua justeza junto ao corpo e larga em boca-de-sino abaixo do joelho, e só usavam, isto para os topos de gama, duas pequeníssimas pilhas de dois centímetros e meio de comprimento.
Pela primeira vez, em Portugal, a televisão fez a cobertura em directo, ao vivo e a cores preto e branco, de um acontecimento. Alguém terá comentado que tudo aquilo seria encenado, pois até a televisão lá estava.


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