O MÉDICO DE BOA-FÉ
Como o outro que curava de um espinho certo cavaleiro, e tinha-lhe
metido em cabeça que era postema. Ausentou-se um dia e deixou um seu filho instruído,
que continuasse com os emplastos do espinho, a que chamavam postema. Mas o
filho na primeira cura, para se mostrar mais dextro, arrancou o espinho:
cessaram as dores, e sarau o doente em menos de vinte e quatro horas. Veio o
pai: pediu-lhe o filho alvissaras, que sarara o doente só com tirar o espinho. Respondeu-lhe
o pai:
- Pois daí comerás,
pura besta. Não vias tu, selvagem, que enquanto se queixava das dores
continuavam as visitas e se acrescentavam as pagas? Secaste o leite à cabra que
ordenhávamos.
(Alexandre de Gusmão, Arte de Furtar)
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