quarta-feira, fevereiro 19, 2014

Olhando para o umbigo

Enquanto a população deste maravilhoso cantinho é assaltada e vai regredir para níveis de exploração do século xix, há grupos que escolheram passar o seu tempo a discutir
Nas páginas dos jornais e nos sites das várias formações de esquerda, nomeadamente o Bloco e o Livre, encontram-se atarefados numa animada polémica. O resto da população está mergulhada na destruição do país pela política de direita, mas a nossa extrema-esquerda está concentrada numa disputa fundamental e a praticar o popular desporto de ver quem tem a pilinha maior.
Vamos aterrar no planeta Terra. Vivemos em plena revolução de direita: no fim deste processo todo o trabalho deixará de ter direitos. Toda a gente vai ser precária e mal paga. As reformas serão mais tarde e simbólicas. O Serviço Nacional de Saúde será muito pior e apenas para os indigentes. O ensino superior será um luxo para ricos. Todas as empresas públicas serão entregues, a preço de saldos, a monopólios privados, muitos deles estrangeiros. O pequeno e incipiente Estado social português, em relação aos seus congéneres europeus, não existirá. Os trabalhadores trabalharão ainda mais horas que o resto dos europeus e receberão ainda menos que eles. Daqui a um par de anos os salários reais terão sido reduzidos mais de 30%. Os pobres serão mais pobres e os ricos ainda mais ricos. Portugal reforçará a sua liderança dos países mais desiguais da Europa e do mundo. No termo deste período, os trabalhadores e os reformados terão pago milhares de milhões de euros do buraco financeiros dos grandes bancos. Ficarão por pagar, pelos seus filhos e netos, os negócios, de mais de 60 mil milhões de euros, feitos com esses mesmos grupos financeiros, como as parcerias público-privadas e os swaps. Água e energia estarão totalmente nas mãos dos privados. Aos pobres poderá ser cortado o acesso à água para beber. Terão uma vida mais curta e difícil: os mais novos terão de emigrar, os mais velhos não vão conseguir sobreviver com as suas reformas e não terão acesso a nenhum emprego. A maioria da população fará ganchos para empresas lucrativas que pagarão muito abaixo do salário mínimo. Os sindicatos perderão grande parte da sua força. Ser sindicalizado é o primeiro passo para ser despedido. E como não há trabalhadores com emprego estável, e são residuais aqueles que têm estabilidade no sector público, os sindicatos vão desaparecendo. A nossa dívida, superior a 130% do PIB, é impagável. Vamos ser esmifrados durante mais de 50 anos para a pagar e no fim ainda não estará liquidada. Teremos gerações sacrificadas. Os actuais governantes e os próximos, que se propõem cumprir as políticas neoliberais da troika, terão empregos garantidos nos grandes grupos económicos e financeiros, como tiveram os anteriores ministros da Economia, das Finanças e das Obras Públicas.
Este é o cenário que está à vista. À esquerda, contra a política da troika, exige-se que resista, mas sobretudo que a derrote.
Parafraseando um político britânico, "quando o país esperava que a extrema-esquerda crescesse, ela engordou".
Precisamos de acções que dêem poder às pessoas e que recusem guerras sectárias e unam na acção todos aqueles que se opõem à política de austeridade sobre a população e de enriquecimento dos muito ricos. É preciso criar alternativas a este desastre. Visivelmente elas passam por uma democracia em que o poder está nos cidadãos e não nos poderosos, mas também por uma prática partidária que consiga ver para além dos umbigos dos dirigentes da extrema-esquerda.

Por Nuno Ramos de Almeida
publicado em 18 Fev 2014 

terça-feira, fevereiro 18, 2014

Miró para colorir



COISAS QUE AS TV(S) NÃO CONTAM

A Colecção Miró, um lote de 85 obras, composto por óleos, guaches e desenhos, foi adquirido pelo Banco Português de Negócios (BPN), gerido por José Oliveira Costa, a um coleccionador japonês em 2006.
Em 2007 a leiloeira Christie's avaliou a colecção em 81,2 milhões de euros e, algum tempo depois, a mesma leiloeira avaliou-a em 150 milhões.
Estas avaliações foram... feitas quando a colecção pertencia ao BPN, enquanto banco privado.
Em Novembro de 2008, o BPN foi "nacionalizado" -apenas o lixo tóxico- e, depois de todas as aventuras e desventuras que decorreram da sua nacionalização, a Parvalorem -veículo estatal criado para gerir os activos tóxicos do BPN- através da sua administração, tornou a venda da Colecção Miró, uma das suas principais prioridades tendo, no final de 2013, "fechado" o negócio com a Christie's.
A Parvalorem não cumpriu os prazos legais estabelecidos na Lei de Bases do Património Cultural para pedir a devida autorização para a saída das peças para o estrangeiro e, embora com o parecer negativo da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), a 21 de Janeiro de 2014, as obras já estavam expostas na leiloeira Christie’s, em Londres.
Agora vem a notícia mais interessante

:

Enquanto a Colecção Miró foi propriedade privada, foi avaliada pela Christie's por valores que ultrapassaram os 150 milhões de euros; agora que a mesma colecção é propriedade do Estado Português, a mesma leiloeira avaliou-a em apenas 36 milhões.
Para a palhaçada ser mais engraçada posso acrescentar que as condições da Christie's são estas: a licitação da venda da obra é de 36 milhões, sendo esta a importância a entregar ao Estado Português; tudo o que ultrapassar esse valor será propriedade da leiloeira.
Perceberam a jogada?
Uma providência cautelar "barrou" a concretização do negócio que, além de ilegal é um crime de lesa-pátria; entretanto, a Christie's já fez saber que continua interessada no negócio. Claro... tenho a certeza que sim...
Alguém tem dúvidas sobre a "transparência" destas negociatas?
Alguém, ainda, duvida de que esta gente, está UNICAMENTE ao serviço do capital explorador nem que tenhamos que ficar sem pele?

(via email)

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

O médico de boa-fé

O MÉDICO DE BOA-FÉ
Como o outro que curava de um espinho certo cavaleiro, e tinha-lhe metido em cabeça que era postema. Ausentou-se um dia e deixou um seu filho instruído, que continuasse com os emplastos do espinho, a que chamavam postema. Mas o filho na primeira cura, para se mostrar mais dextro, arrancou o espinho: cessaram as dores, e sarau o doente em menos de vinte e quatro horas. Veio o pai: pediu-lhe o filho alvissaras, que sarara o doente só com tirar o espinho. Respondeu-lhe o pai:
 - Pois daí comerás, pura besta. Não vias tu, selvagem, que enquanto se queixava das dores continuavam as visitas e se acrescentavam as pagas? Secaste o leite à cabra que ordenhávamos.
(Alexandre de Gusmão, Arte de Furtar)

quinta-feira, fevereiro 13, 2014

Cuidados e caldos de galinha




Algo a nível mundial que estará prestes a acontecer?
Ou são só coincidências?
O artigo do link ( http://www.infowars.com/jp-morgan-executive-becomes-5th-banker-to-die-in-last-2-weeks/ ) parece indicar que algo, nada de bom, estará para acontecer a nível mundial, que a todos nos irá afectar.
Cuidados e caldos de galinha nunca fizeram mal a alguém que os tenha tomado.

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Obrigado por partilhar


“Nueve cuestiones que deberías plantearte ante una noticia para que no te manipulen” es un resumen de una parte del libro de Pascual Serrano, Desinformación, cómo los medios ocultan el mundo. Es a él a quien hay que agradecerle los consejos y pautas a seguir ante el incumplimiento de la obligación del Estado de garantizarnos una información plural y veraz (en este sentido consultad artículo 20 de la Constitución). Se trata de analizar los mecanismos desinformativos que puedan estar presentes en las noticias de los medios de comunicación convencionales (y yo añadiría también a los medios alternativos de contrainformación…), con el objetivo de evitar ser manipulados por los mismos. Ahí van las cuestiones (tomad buena nota…y si se os ocurre alguna más, no os cortéis y compartidlas…) :
- Conocer quién es la propiedad de un medio de comunicación (empresa privada, estatal, ONG…) es básico para intuir por dónde va a ir la línea editorial. Si se trata de una entidad privada, lo más habitual es que opere en otros sectores económicos. Pero cuidado…no sólo hay que saber la composición del accionariado del medio en cuestión…tb interesa echar un ojo a las empresas e instituciones que compran publicidad en el mismo. Si comprobamos que los principales anunciantes de un periódico son Telefónica y BBVA (por ejemplo), con fuertes intereses económicos en América Latina, tendremos que mirar con cuidado (desconfiando incluso) la información que aparezca sobre dicha región.
- Si la información es promovida por alguna parte interesada (ejemplo : encuestas, informes universitarios, estudios de expertos…difundidos por algún gobierno por razones de política internacional) o es generada por el propio medio.
- Si la noticia tiene la importancia que le dan (para ello compararemos con acontecimientos similares en otros países o con otros sucesos recientes del mismo lugar). Un ejemplo ilustrativo lo da Pascual Serrano al recordar cómo en octubre de 2008 abrían un noticiario de TV con la fuga de un secuestrado en poder de la guerrilla colombiana, mientras que el día anterior no se había informado de la muerte de varios manifestantes a manos del ejército.
- Identificar fuentes y analistas…el uso de fuentes indefinidas es ya demasiado habitual (la típica expresión “según diversos expertos”, p.e, que camufla sutilmente opiniones editoriales). También nos fijaremos en si nos intentan hacer pasar una postura como si fuese mayoritaria entre la ciudadanía de un país.
- Si la información se presenta como hecho constatado o como versión de una parte. Si informan que el ejército estadounidense ha matado a 40 talibanes, habría que confirmar por otras fuentes (de haberlas) si eran efectivamente guerrilleros islámicos y no civiles.
- Si se han recogido todas las diferentes posiciones respecto a la noticia o si todas las reacciones coinciden en la valoración de la misma (lo cual olería muy mal…en este caso buscaríamos en internet otras interpretaciones de diferentes actores…).
- Si estamos ante un mensaje audiovisual habría que ver posibles dramatizaciones (representaciones teatrales con imágenes, sonido, o ambos) de algo que supuestamente ha sucedido (ejemplo típico es el de la dramatización de una violación de una mujer en un ascensor, en casos judiciales donde la culpabilidad del acusado está pendiente de demostrarse…).
- Comprobar si las emociones ante las imágenes o sonidos son racionales (ejemplo : una entrevista a la madre de un militar muerto en Irak podría provocar una falta de empatía con el pueblo iraquí, cuya población civil ha sufrido muchísimas más bajas que los soldados estadounidenses).
- Intentar preguntarnos si conocemos todos los elementos que rodean la noticia y qué no nos han contado (ejemplo : en una huelga de transporte donde únicamente nos cuelan imágenes de usuari@s indignados, deberíamos conocer tb las reivindicaciones de l@s huelguistas).

sábado, fevereiro 08, 2014

Conto actual


O LOBO E O CORDEIRO

Conta-se que o lobo bebia uma vez em um ribeiro, da parte de cima, e o cordeiro bebia em aquele mesmo ribeiro, da parte do fundo. Disse o lobo ao cordeiro:

- Porque me luchas a água e danas este ribeiro?

E o cordeiro respondeu e disse humildosamente:

- Eu não te faço injúria, nem lucho o rio, porque a água corre contra mim, e água é muito clara; e pero se a quisesse abolver, não poderia.

Outra vez o lobo brada forte e diz:

- Não te avonda que tu me fazes injúria e dano, e ainda me ameaças?

E o cordeiro outra vez humildosamente responde:

- Não te ameaço, mais eu me escuso com boa razão.

E o lobo respondeu outra vez:

- Ainda me ameaças? Já semelhante injúria me fizeste tu e o teu padre, já são mais de seis meses.

O cordeiro disse:

- Ó ladrão, eu não hei tanto tempo!

E o lobo iroso disse:

- Ó mau rapaz, ainda ousas de falar?

E foi-se a ele e matou-o e comeu-o

 

(Fabulário Português)

Chove no Escoural, chove no mundo inteiro


O vento esteve horas e horas a puxar a chuva e ela volta a cair lentamente, teimosamente húmida e fria, de céu forrado até aos quatro cantos, desabando ritmada do lado dela, empoçando água no alto do Cabeço. Uma friagem roe os ossos e torna a lenta chuva em muita água, tanta que não há grão de areia seco até ao quinto inferno. Chove há muito no monte do Cabeço e em redor dele. Chove no mundo todo quando o céu e a terra se fundem em água.