segunda-feira, dezembro 02, 2013

Casa

CASA
A luz de carbureto
que ferve no gasómetro do pátio
e envolve este soneto
num cheiro de laranjas com sulfato
(as asas pantanosas dos insectos
reflectidas nos olhos, no olfacto,
a febre a consumir o meu retrato,
a ameaçar os tectos
da casa que também adoecia
ao contágio da lama
e enfim morria
nos alicerces como numa cama)
a pedregosa luz da poesia
que reconstrói a casa, chama a chama.
Carlos de Oliveira, Sobre o lado esquerdo



1 comentário:

Manel disse...

Em Carlos de Oliveira, a terra chega a sobrepor-se às personagens, como propriedade. A força da acção nasce dos conflitos relativos à posse, ou à perda de terras, em geral por execução de hipotecas.