A noite é no largo toda inundada de luz como um campo
de futebol, daqueles do Euro 2004, da primeira divisão. Se estes luzeiros todos
existissem quarenta anos atrás, até os treinos do União teriam
sido aqui no largo e os miúdos, os tantos que havia na altura, jogariam à bola
todas as noites, tal qual o faziam nas noites de luar de Agosto. Tudo vazio, e
ela cheirosa convidava-o a entrar com naturalidade. Como não se conta, tal não
aconteceu. Depois de um tempo de longas e ofegantes práticas olha o largo
vazio, cheio de luz potente e branca a cegar o santuário. Ninguém para usufruir
do fruto dos holofotes, fotões ali colocados pelo senhor presidente, a obra
feita, enquanto ele olha as fotos de casamento ali colocadas sobre o móvel do
quarto. Sai da casa, atravessa o largo iluminado naquela hora de luz que tudo
ilumina e que não dá para ver se alguém passa. A fotografia sorridente do
ausente marido lá está sobre o móvel a olhar para ela. Não se fala a ninguém,
tal nunca aconteceu, nem poderia acontecer ou vir a acontecer, não é?
(Manuel Ribeiro)
Texto inédito e subversivo.
1 comentário:
Já houve mais luz no largo do que agora, pois há cerca de um ano andaram a substituir as lâmpadas dos holofotes por outras menos potentes. Ainda cheguei a fazer umas experiências fotográficas com as originais:
http://visoesdagandara.blogspot.pt/2012_04_01_archive.html
Mas o contraste com a situação de há 20-30 anos é abismal. Na Tocha e em todo o país.
http://earthobservatory.nasa.gov/IOTD/view.php?id=76777
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