Descontinuado
Livraria de centro comercial,
daqueles de luzes em cuzes, tudo muito apelativo, organizado.
Os tops de vendas ali estão,
mesmo a entrar pelos olhos adentro, como arco triunfal editorial. Os temas em
letras garrafais indicam-nos que agora é que vai ser, que vamos todos saber de
informática, religião, psicologia e ler, ler muita, ficção. Todo o bicho careta
que leva com as luzes da televisão passou a ser escritor de nome na praça,
pergunto a mim mesmo como é que eles ainda têm tempo para escrever tampa letra
para tanta página de livro, aparecem nas estantes por detrás do balcão de
atendimento.
Já tem o nosso cartão? Não se
quer fidelizar? Os Dan Brown abafam a bancada com livros de capa dura, colorida e
de relevos, com anjos, anjinhos e anjolas.
Venho à procura do livro do autor
tal, com este título, disse eu quando chegou a minha vez de ser atendido. A
busca rápida no sistema informa-me que o nome do autor e do título
correspondem, que está correto, mas a edição está descontinuada. Descontinuada,
o palavrão para dizer que já não editam, que a gestão do stock livreiro não
está interessada.
Os Dan Brown não estão
descontinuados, assim como todos aqueles bichos caretas escritores da
televisão. Um sorriso desconfortável mostrou-me que quem está a ficar descontinuado
sou eu. Senti-me subversivo. Sou um candidato a preso político, ou melhor, em
regime dito democrático a ser mais um ostracizado.
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