A muralha da China
….” O que eu quero é deixar contadas aqui as horas em que
todos vivíamos felizes, sem nada a impedir-nos de falarmos uns com os outros. Principalmente
os vizinhos de porta com porta, como sucedia comigo e o meu amigo compadre
Luzio. Mesmo assim, sabe-me bem voltar ao estribilho. Entoá-lo um pouco mais ou
menos é o meu desvelo, eis a questão. Ou o meu calvário, conforme. Lembro-me
bem, tão vizinhos que nós éramos todos, eu que o diga, que é difícil esquecer
esses pontos de verdade. Casas com casas, pinhais com pinhais, searas de pão
com searas de pão. O sol nascia sempre do mesmo lado, das bandas do castelo,
lembro-me como se fosse hoje, entre a casa da Maria Ferrita e o pinheiro do
Arménio. E o astro, a erguer-se na sua glória, floreava sobre as searas,
bafejava-as nas crescenças, poisava a sua luz nas folhas e nas espigas, até
aloirarem no tempo das colheitas.….”
[Idalécio Cação]
(Texto subversivo e inédito)
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