«Sabes o que me lembra este céu? Mais ou menos: a guerra dos astros. Tal e qual. A guerra dos mundos. Um sol maléfico, que tenta destruir a maquete, e sete planetas menores que tentam defendê-la.» [Finisterra, Carlos de Oliveira]
sexta-feira, setembro 28, 2012
quinta-feira, setembro 27, 2012
É o dinheiro, estúpido!
“É o dinheiro, estúpido!”
por Licínio Nunes às 00:46
N.B. — Esta parte é, em boa medida, baseada em Teoria Relativista do Dinheiro. O autor publicou-o, de forma inédita, com base na licença GPL (Gnu Public License Agreement). De acordo com esses termos, qualquer um o pode modificar, traduzir, fazer o que muito bem entende, desde que dê o crédito devido ao original. Apetece-me ironizar, dizendo que Stéphane Laborde sentiu que precisava de auxílio para tornar o assunto compreensível pelo comum dos mortais.
Se dermos 100 euros ao proverbial Bill Gates e outros 100 euros a um proverbial sem-abrigo, criámos uma situação de simetria. Dum ponto de vista social — o mais importante — existe uma assimetria abismal entre aquelas duas condições. Contudo, dum ponto de vista monetário, ambos os montantes representam exactamente a mesma quantidade de bens e serviços, disponíveis numa qualquer sociedade. O dinheiro em si, não tem qualquer valor. É apenas uma promissória válida para os tangíveis e intangíveis que as sociedades produzem. E o dinheiro, todo o sistema monetário no seu conjunto, é suposto ser neutro e é suposto ser simétrico. Não é.
Mesmo para o proverbial Bill Gates, aqueles 100 euros representam 100 menos a taxa de juro associada à dívida que os criaram; para o banqueiro que os criou, representam 100 mais a taxa de juro que ele impôs. O actual sistema monetário foi criado pela Conferência da Jamaica, de 1973, convocada para responder ao "Grande Estrangulamento" imposto no início dessa década por Richard Nixon. Foi o fim do Sistema de Bretton Woods, que, para o bem e para o mal, orientou a notável recuperação do Mundo pós-guerra.
Muito raramente terá a expressão "O canto das sereias" sido tão adequada. Arquitectado por banqueiros, o "Sistema da Jamaica" pretende evitar os incómodos da Democracia, não se pode confiar nos eleitos para conduzirem o processo de criação monetária. Mais do que isso, tal poder tem que lhes ser retirado. Vamos a factos: a França foi um dos primeiros países a transporem o novo estado de coisas para a sua ordem jurídica interna, pela lei Pompidou, de 1973. Estamos a falar dum país muito razoavelmente bem administrado; o total de juros pagos pela República Francesa, desde então até ao presente, é de cerca de 1.5 TeraEuros (triliões, pela "notação latina clássica); o total da dívida pública francesa é de cerca de 1.6 TeraEuros. Será que neste ponto, alguém em seu perfeito juízo ainda tem dificuldades em responder à pergunta "Qual é a origem da dívida pública?". Não creio. E, no entanto, há algo de essencial que não é óbvio.
A economia real é substitutiva. O seu valor total pode aumentar, espera-se que aumente, mas um qualquer bem (ou serviço!) criado, não vai ser adicionado ao total existente. Olhem à vossa volta! Uma nova tonelada de aço produzido, não vai ser adicionada ao total existente. Pelo contrário, terá, em boa medida, sido fabricada a partir de aço previamente existente. E o mesmo pode ser dito dos serviços. O sistema monetário é aditivo. Há quem pense que a incompreensão do mecanismo subjacente seja uma das piores fraquezas do espírito humano. Uma velha história, muito provavelmente apócrifa, ilustra o problema.
Em tempos idos, havia um Imperador da Pérsia que se aborrecia mortalmente. Tudo tinha, e como tudo tinha, já nada desejava. O Grão-Vizir, preocupado com o estado de espírito do soberano, presenteou-o com um novo jogo: um tabuleiro, com 32 casas brancas e 32 casas negras, e 32 peças, metade de cada cor. Tinha sido inventado o xadrez.
O Imperador ficou maravilhado com o novo jogo e disse ao Grão-Vizir "Pede o que quiseres, tudo te será dado". O Grão-Vizir respondeu: "Majestade, eu quero apenas um grão de trigo pelo primeiro quadrado do tabuleiro, depois o dobro pelo segundo quadrado, e assim sucessivamente, até o último". O Imperador riu-se como os seus botões "Pobre tolo! Poderia ter pedido todas as riquezas da Pérsia e todas lhe teriam sido dadas, e contenta-se com uns quantos grãos de trigo". Foi com grande risco pessoal que outros funcionários da corte tiveram que informar o Imperador que o pedido do Grão-Vizir não podia ser atendido. Não havia grãos de trigo que chegassem. Na realidade, não há partículas elementares no Universo suficientes para atingir aquele total.
O Grão-Vizir pagou com a vida por ter colocado o Imperador na posição de ter feito uma promessa que não podia ser cumprida. É sempre um risco enorme tentar ensinar Soberanos incapazes de aprender.
O sistema monetário é aditivo e produz um crescimento exponencial insustentável. Como toda a criação monetária é o produto duma dívida qualquer, o proverbial "poder do dinheiro" deixou de designar a posse da terra, das fábricas, dos meios de produção, em suma, para passar a designar o poder de criar massa monetária e impor as dívidas daí resultantes. O monopólio da violência, pretendido como atributo do Estado-Soberano, deixou de ter como função primordial a protecção da propriedade privada, para passar a impor a sacralidade da dívida e a repressão dos que se lhe opõem.
Somos continuamente bombardeados com a narrativa da inevitabilidade, com a imperiosa necessidade de "respeitar os compromissos", para que ninguém se atreva sequer a murmurar "Islândia". Para que não se saiba que os mesmos que nos ameaçam, batem hoje respeitosamente à porta daqueles orgulhos Vikings, boné na mão, para que eles se dignem a ponderar usar os seus serviços. Não é só o sistema monetário que tem uma natureza aditiva, a mentira também. A revolução deixou de ser uma bandeira, tornou-se inevitável.
sexta-feira, setembro 21, 2012
quarta-feira, setembro 19, 2012
terça-feira, setembro 18, 2012
domingo, setembro 16, 2012
Tomar medidas
Esta coisa que se chama TSU é uma afirmação de fé ideológica no novo neo liberalismo, de Ética duvidosa ou inexistente. Na prática muito pouco resolve para o tal tapar do deficit, e a argumentação que ouvi como hipotética vantagem já caiu por terra, primeiro porque nunca foi experimentada, e segundo a parte emocional coletiva a matou à nascença.
Mais, o Governo e os poucos que ainda o defendem sem grande entusiasmo, ainda tenta passar a ideia de que a redução da TSU era uma exigência da Troica, uma espécie de moeda de troca para a flexibilização das metas do défice. Uma aldrabice política destas cabeças pensadoras neoliberais que nos governam e que têm como objetivo empobrecer a chamada classe média. Aqui reside a ideologia do Coelho, do Gaspar e em especial do supre ministro Borges, quando afirma modelar a TSU. Em vez de solidariedade passaremos a assistencialismo.
Ora não foi isso que alguém da dita Troica afirmou. Esta coisa da TSU é uma afirmação de fé do Governo, do Gaspar que fala daquele jeito que é só seu. Não sei se se o rapaz raciocina devagar, se tem um problema de transmissão de sinal às cordas vocais, ou se está a gozar connosco, de tal maneira que até se confunde com o que afirma, pois deve esquecer no fim da frase o que disse no seu início.
Depois das manifestações de ontem nada vai ser como dantes. Os problemas não estão resolvidos, e as medidas que Coelho anunciou, morrerem antes de nascer. Estas manifestações exigiram Ética na política, na Economia e na Finança, e e aqui é que a porca terce o rabo: a Ética da Finança é a sua ausência.
É uma questão de sobrevivência social mudar de ações políticas e económicas, que levem a apontar os responsáveis, quem efetivamente fez da Finança um jogo de casino. Na rua , nas redes sociais, muitos apontaram o dedo na direção certa.
Eu não acredito em amanhãs que cantam. Não existem pura e simplesmente. As soluções baseadas na fé são quase sempre as piores.
A austeridade vai estar aí.
Será bom que estejamos preparados e atentos.
Teremos que mudar de rumo e em especial, mudar de vida.
sexta-feira, setembro 14, 2012
quinta-feira, setembro 13, 2012
quarta-feira, setembro 12, 2012
Anoitece de manhã
Anoitece de manhã
Ontem, noite dos meus pinhais, apesar da teimosa poluição
luminosa que nos é imposta, brilhava do Norte a estrela que é ponto central do
eixo da Esfera. A cabeça da Ursa Maior estava nas sete horas e Cassiopeia nas duas
horas do relógio celeste. O Tempo dá estas rodas á volta, a indicar o fim do ciclo
e preparar o balanço de meia volta para se renovar. É o tempo de aguardar as
mais belas luzes de Oríon, mais tarde a estrela Sírius, agora olhando para Sul.
Para mim, o calendário muda de página no equinócio de
Setembro.
É que já anoitece de manhã.
domingo, setembro 09, 2012
quinta-feira, setembro 06, 2012
Os Verdes Anos (1963) #Intro
Os Verdes Anos (1963)
Director: Paulo Rocha
Verdes Anos é uma obra de mocidade, um filme confessional, contado com pudor, como que a pedir desculpa, o choque entre a aldeia pura e a cidade corrupta, ou, se quisermos, o choque entre o fim da adolescência e a entrada no tempo adulto.
Mas Paulo Rocha soube evitar a retórica e servir-se de uma história muito simples (...), retirando-lhe o melodrama e a retórica através da singeleza, da naturalidade, da sinceridade, do estado de graça dos jovens actores, mas insinuando-lhe o sangue e a morte por debaixo da ilusâo de um real agradável, descontraído, quotidiano.
Rodado numa zona mítica do novo cinema português - a zona em torno do Café-Restaurante Vává, no rés-de-chão do prédio onde vivia o realizador, com a sua população e os seus hábitos bem aos anos 60 -, Verdes Anos, é contado num cinema límpido, directo, como as melhores coisas da nouvelle vague (ou de Olmi...), em que a imagem domina sempre o diálogo, aqui coloquial e autêntico, escrito por Nuno Bragança (os versos da lindíssima canção-tema de Carlos Paredes - outro nome-símbolo do novo cinema - são de Pedro Tamen, colaborador activo do Centro Cultural de Cinema, a que Paulo Rocha está muito ligado), uma imagem devida ao francês Luc Mirot (o operador foi Elso Roque) e trabalhada no laboratório da Ulyssea Filme, do Engº José Gil, que terá participação de relevo no auxílio técnico à jovem produção portuguesa como já acontecera com Dom Roberto .
Director: Paulo Rocha
Verdes Anos é uma obra de mocidade, um filme confessional, contado com pudor, como que a pedir desculpa, o choque entre a aldeia pura e a cidade corrupta, ou, se quisermos, o choque entre o fim da adolescência e a entrada no tempo adulto.
Mas Paulo Rocha soube evitar a retórica e servir-se de uma história muito simples (...), retirando-lhe o melodrama e a retórica através da singeleza, da naturalidade, da sinceridade, do estado de graça dos jovens actores, mas insinuando-lhe o sangue e a morte por debaixo da ilusâo de um real agradável, descontraído, quotidiano.
Rodado numa zona mítica do novo cinema português - a zona em torno do Café-Restaurante Vává, no rés-de-chão do prédio onde vivia o realizador, com a sua população e os seus hábitos bem aos anos 60 -, Verdes Anos, é contado num cinema límpido, directo, como as melhores coisas da nouvelle vague (ou de Olmi...), em que a imagem domina sempre o diálogo, aqui coloquial e autêntico, escrito por Nuno Bragança (os versos da lindíssima canção-tema de Carlos Paredes - outro nome-símbolo do novo cinema - são de Pedro Tamen, colaborador activo do Centro Cultural de Cinema, a que Paulo Rocha está muito ligado), uma imagem devida ao francês Luc Mirot (o operador foi Elso Roque) e trabalhada no laboratório da Ulyssea Filme, do Engº José Gil, que terá participação de relevo no auxílio técnico à jovem produção portuguesa como já acontecera com Dom Roberto .
quarta-feira, setembro 05, 2012
terça-feira, setembro 04, 2012
Negócios de fogo
Quinta-feira, 11 de Agosto de 2005
A Industria dos incêndios Por José Gomes Ferreira
A evidência salta aos olhos: o país está a arder porque alguém quer que ele arda. Ou melhor, porque muita gente quer que ele arda. Há uma verdadeira indústria dos incêndios em Portugal. Há muita gente a beneficiar, directa ou indirectamente, da terra queimada.
Oficialmente, continua a correr a versão de que não há motivações económicas para a maioria dos incêndios. Oficialmente continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao simples prazer de ver o fogo. A maioria dos incendiários seriam pessoas mentalmente diminuídas.
Mas a tragédia não acontece por acaso. Vejamos:
1 - Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros países europeus da orla mediterrânica?
Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação após tantos anos de ocorrências?
Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair?
Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão desocupados nos quartéis?
Porque é que as Forças Armadas encomendaram novos helicópteros sem estarem adaptados ao combate a incêndios? Pode o país dar-se a esse luxo?
2 - A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade. No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais. Quem ganha com o negócio? Há poucas semanas foi detido mais um madeireiro intermediário na Zona Centro, por suspeita de fogo posto. Estranhamente, as autoridades continuam a dizer que não há motivações económicas nos incêndios...
3 - Se as autoridades não conhecem casos, muitos jornalistas deste país, sobretudo os que se especializaram na área do ambiente, podem indicar terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei.
4 - À redacção da SIC e de outros órgãos de informação chegaram cartas e telefonemas anónimos do seguinte teor: "enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder". Uma clara vingança de quem não quer pagar para caçar nestes espaços e pretende o regresso ao regime livre.
5 - Infelizmente, no Norte e Centro do país ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os rebanhos. Os comandantes de bombeiros destas zonas conhecem bem esta realidade.
Há cerca de um ano e meio, o então ministro da Agricultura quis fazer um acordo com as direcções das três televisões generalistas em Portugal, no sentido de ser evitada a transmissão de muitas imagens de incêndios durante o Verão. O argumento era que, quanto mais fogo viam no ecrã, mais os incendiários se sentiam motivados a praticar o crime...
Participei nessa reunião. Claro que o acordo não foi aceite, mas pessoalmente senti-me indignado. Como era possível que houvesse tantos cidadãos deste país a perder o rendimento da floresta - e até as habitações - e o poder político estivesse preocupado apenas com um aspecto perfeitamente marginal?
Estranhamente, voltamos a ser confrontados com sugestões de responsáveis da administração pública no sentido de se evitar a exibição de imagens de todos os incêndios que assolam o país.
Há uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não obedecem a uma organização comum mas têm o mesmo objectivo - destruir floresta porque beneficiam com este tipo de crime.
Estranhamente, o Estado não faz o que poderia e deveria fazer:
1 - Assumir directamente o combate aéreo aos incêndios o mais rapidamente possível. Comprar os meios, suspendendo, se necessário, outros contratos de aquisição de equipamento militar.
2 - Distribuir as forças militares pela floresta, durante todo o Verão, em acções de vigilância permanente. (Pelo contrário, o que tem acontecido são acções pontuais de vigilância e combate às chamas).
3 - Alterar a moldura penal dos crimes de fogo posto, agravando substancialmente as penas, e investigar e punir efectivamente os infractores
4 - Proibir rigorosamente todas as construções em zona ardida durante os anos previstos na lei.
5 - Incentivar a limpeza de matas, promovendo o valor dos resíduos, mato e lenha, criando centrais térmicas adaptadas ao uso deste tipo de combustível.
6 - E, é claro, continuar a apoiar as corporações de bombeiros por todos os meios.
Com uma noção clara das causas da tragédia e com medidas simples mas eficazes, será possível acreditar que dentro de 20 anos a paisagem portuguesa ainda não será igual à do Norte de África. Se tudo continuar como está, as semelhanças físicas com Marrocos serão inevitáveis a breve prazo.
José Gomes Ferreira
Oficialmente, continua a correr a versão de que não há motivações económicas para a maioria dos incêndios. Oficialmente continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao simples prazer de ver o fogo. A maioria dos incendiários seriam pessoas mentalmente diminuídas.
Mas a tragédia não acontece por acaso. Vejamos:
1 - Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros países europeus da orla mediterrânica?
Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação após tantos anos de ocorrências?
Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair?
Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão desocupados nos quartéis?
Porque é que as Forças Armadas encomendaram novos helicópteros sem estarem adaptados ao combate a incêndios? Pode o país dar-se a esse luxo?
2 - A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade. No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais. Quem ganha com o negócio? Há poucas semanas foi detido mais um madeireiro intermediário na Zona Centro, por suspeita de fogo posto. Estranhamente, as autoridades continuam a dizer que não há motivações económicas nos incêndios...
3 - Se as autoridades não conhecem casos, muitos jornalistas deste país, sobretudo os que se especializaram na área do ambiente, podem indicar terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei.
4 - À redacção da SIC e de outros órgãos de informação chegaram cartas e telefonemas anónimos do seguinte teor: "enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder". Uma clara vingança de quem não quer pagar para caçar nestes espaços e pretende o regresso ao regime livre.
5 - Infelizmente, no Norte e Centro do país ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os rebanhos. Os comandantes de bombeiros destas zonas conhecem bem esta realidade.
Há cerca de um ano e meio, o então ministro da Agricultura quis fazer um acordo com as direcções das três televisões generalistas em Portugal, no sentido de ser evitada a transmissão de muitas imagens de incêndios durante o Verão. O argumento era que, quanto mais fogo viam no ecrã, mais os incendiários se sentiam motivados a praticar o crime...
Participei nessa reunião. Claro que o acordo não foi aceite, mas pessoalmente senti-me indignado. Como era possível que houvesse tantos cidadãos deste país a perder o rendimento da floresta - e até as habitações - e o poder político estivesse preocupado apenas com um aspecto perfeitamente marginal?
Estranhamente, voltamos a ser confrontados com sugestões de responsáveis da administração pública no sentido de se evitar a exibição de imagens de todos os incêndios que assolam o país.
Há uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não obedecem a uma organização comum mas têm o mesmo objectivo - destruir floresta porque beneficiam com este tipo de crime.
Estranhamente, o Estado não faz o que poderia e deveria fazer:
1 - Assumir directamente o combate aéreo aos incêndios o mais rapidamente possível. Comprar os meios, suspendendo, se necessário, outros contratos de aquisição de equipamento militar.
2 - Distribuir as forças militares pela floresta, durante todo o Verão, em acções de vigilância permanente. (Pelo contrário, o que tem acontecido são acções pontuais de vigilância e combate às chamas).
3 - Alterar a moldura penal dos crimes de fogo posto, agravando substancialmente as penas, e investigar e punir efectivamente os infractores
4 - Proibir rigorosamente todas as construções em zona ardida durante os anos previstos na lei.
5 - Incentivar a limpeza de matas, promovendo o valor dos resíduos, mato e lenha, criando centrais térmicas adaptadas ao uso deste tipo de combustível.
6 - E, é claro, continuar a apoiar as corporações de bombeiros por todos os meios.
Com uma noção clara das causas da tragédia e com medidas simples mas eficazes, será possível acreditar que dentro de 20 anos a paisagem portuguesa ainda não será igual à do Norte de África. Se tudo continuar como está, as semelhanças físicas com Marrocos serão inevitáveis a breve prazo.
José Gomes Ferreira
segunda-feira, setembro 03, 2012
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