Não é uma questão de mais ou menos chuva, de mais ou menos Inverno, pois só pelo facto do lavadouro da Ti Esquina Santa estar cheio de água em pleno Maio como este ano esteve, não foi o agravar da desertificação da Gandara adiado por mais um ano.
A desertificação da Gândara não se tem limitado à degradação dos solos com a destruição das dunas, que podemos ver nos mapas do Google, ao entulho espalhado a esmo que um dia de limpeza folclórica não resolve e só serviu de lavagem consciência do tipo ida á missinha, nem à degradação estritamente ambiental e geográfica, mas sim a grande parte do território gandarês e sua população activa que foi deixada ao abandono. Um mundo rural excluído da Política Agrícola Comum, definhado, resultado das negociações e gestões de ajuda comunitárias, a subsidio-dependência, tal qual todo o País Rural.
Para a Gândara rural, excluída da “agricultura moderna”, nem restou a criação de porco e galinha, ou a continuação do cultivo da horta. A floresta, parte integrante do processo agrícola gandarês, foi abandonada, estando em final de linha o seu conceito tradicional de propriedade. Galifões já estão a afiar o dente e o moto serra para abocanharem uma das poucas riquezas da Gândara, que é o uso da terra, pagando tuta-e-meia ao proprietário, sempre acenado com a bandeira de investidores e criadores de riqueza.
Existirão saídas minimamente airosas que venham a contrariar estas previsões tão negras?
Direi que sim, que são várias as saídas, mas muitos mais serão os caminhos que os gandareses terão de buscar.
Mas é preciso alertar para os cantos de sereia dos que se tem governado e se vão governando, e dos que se preparam para dar a golpada com o afunilar do quanto pior melhor que vai aplanando os caminhos dos salvadores, esses esfomeados sem Ética.
Hoje, apesar do sol, ando com nuvens negras!
5 comentários:
O país e as pessoas, a esmagadora maioria, estão a ficar desertas.
O país deserto do verde da esperança e as pessoas da alegria, consumida por um país que lhe vem roubando a esperança, mas que a não conserva, só rouba.
No país e na Gândara, no deserto da Gândara, voltamos aos "tubos ladrões".
Os "galifões" estão na linha da "politica do umbigo" que é o horizonte máximo que alcançam, o seu próprio umbigo.
Aplausos. É um tema do máximo interesse. O Manel tem os olhos abertos, vê o problema a crescer, e bem faz Carlos Rebola em apoiar. Mas perguntemos: vale muito, vale quanto, escrever bem, aplaudir bem? Não seremos poucos, e cada vez menos, os atentíssimos perante as distracções fáceis e distraidíssimos com o próximo futuro do planeta?
E o futuro do planeta, e até o nosso próprio, ou dos nossos filhos por nós, é o que temos de mais garantido!
Abraço.
É real que existe uma desertificação progressiva na Gândara! Pode ser constatada ao analisar dados das últimas décadas, tais como:
- Número de habitantes, dos Recenseamentos! Tenho curiosidade acerca do que o futuro Census 2011 irá revelar! Espero que não existam pressões externas futuras para alterar dados, sejam de que forças sociais ou políticas forem!
- Número de Nascimentos e de Matrículas em estabelecimentos escolares!
- Retorno recente da Emigração! Ainda não existem dados fiáveis, mas estima-se que os números nacionais actuais rondem os 60.000-75.000 por anos (próximos da década de 60)!
Contudo, aqui pela Gândara ainda existe muita vida e o cenário negro não se compara a outras regiões do país! Dou um exemplo pessoal: (próximo comentário)...
Muito recentemente, dei uma curta voltinha de um dia, acompanhado, por uma zona do Interior-Centro:
- Andei durante mais de uma hora a percorrer quase todas as ruas de uma aldeia serrana, com cerca de 70-90 casas, na sua maioria em bom/razoável estado de conservação e muitas delas restauradas! A aldeia era totalmente deserta e fantasma! Só vi uma pessoa ao longe numa encosta e um praticante de BTT a passar! Ao sair de lá à noite, havia luz em muitos postes de iluminação pública, mas nenhuma de dentro das casas! Nenhum automóvel! A vida na aldeia resumia-se a 4 gatos!
- Numa paragem para tirar fotografias em outro local isolado, apareceu um pastor que lá andava com o seu rebanho de quase 200 cabras! Estive meia-hora à conversa com o senhor, muito simpático e conversador! Notas de realce:
> Ele era o último pastor daquela zona!
> Quase ninguém por lá passa! Uns turistas ocasionais! Por vezes ladrões para roubar/saquear animais, centenas de kg de castanhas, ou outro dos poucos produtos da terra! Já teria sido ameaçado com armas!
> Já teriam ido lá uns académicos fazer uns estudos e teses! Algumas das conclusões e práticas recomendadas pela "Ciência", não coincidiriam com as conclusões e práticas empíricas do senhor, sustentadas por décadas de experiência pessoal!
> Uma das poucas pessoas com ideias e iniciativa lá da zona, seria uma cidadã estrangeira!
Já tive outras experiências similares, em outras rápidas incursões que fiz no passado pelo Interior! Aí sim, está o verdadeiro deserto humano de Portugal! Mais duas décadas e teremos zonas com dezenas de km's quadrados sem ninguém!
No caso de pessoas com boa capacidade económica, poderiam de vez em quando ir dar um saltinho de uns dias por essas zonas, ao invés de irem sempre para "resorts" de Sol & Praia no estrangeiro!
As zonas com poucos habitantes / eleitores, passam despercebidas nos mapas dos gabinetes do Poder Central! A Gândara ainda tem várias dezenas de milhares de habitantes / eleitores; logo ainda recebe alguma atenção, investimentos públicos, e a legislação das finanças locais transforma-os em Fundos para as Autarquias!
Já agora, para quem não conhece, recomendo uma leitura do livro (penso que existirão dois exemplares na Biblioteca Municipal de Cantanhede):
>>> CRAVIDÃO Fernanda Delgado. A população e Povoamento da Gândara. Génese e Evolução. Coimbra : CC da Região Centro, 1992.
Em termos de evolução histórica da População, a Gândara não é propriamente uma região estável! Leiam e tirem as vossas conclusões!
O "Prasidete dos Pretugueses" acha melhor apelar aos empresários portugheses" a investir em África...
Enviar um comentário