quinta-feira, janeiro 04, 2007

Estive a pensar…

Noto que na maioria das pessoas em Portugal que sejam ouvintes da rádio ou espectadores de televisão, estão confrontadas com produções estrangeiras ou de matriz formatada nomeadamente em televisão, pois em todos os países da Europa que conheço, os programas televisivos são de formato idêntico, com a sua panóplia de artifícios comerciais com objectivo de controlar as tendências de gosto nomeadamente o musical. Como, de um modo geral, não se faz a mínima ideia do que se passa e se faz por detrás do pano, assim como dos interesses comerciais que nos forçam a assumir de forma a diminuir o gosto pelo que é português, pelo afunilamento das opções do pronto a ouvir e deseducando a opção do diferente, para não falar de questões de abuso e atentado à identidade cultural (se é que ainda se pode já tal afirmar) deste País. Cada geração tem referências culturais que enraízam numa infância e se tornam universais com o amadurecimento da vida. Quais serão as actuais referências que nós estamos a mostrar às nossas crianças? Esta pergunta talvez prove que estou a ficar um velho. No pouco que posso, tento inverter as tendências do espírito anti português que se vive não só na música portuguesa, assim como na cultura portuguesa em geral. Sei que muito pouco posso fazer. Sei que é uma tarefa gigantesca e é um trabalho de gerações, pois ainda não assumimos uma posição de auto estima que herdamos na vivência colectiva de um provincianismo teimoso. Passamos o tempo a dizer mal deste país, que no estrageiro, leia-se Europa, é que é, que isto aqui é uma bosta, etc. Mas quando me desloco ao estrangeiro, mal o avião começa a levantar sinto-me a aprender, reconheço, mas passado pouco tempo sinto uma necessidade em regressar urgentemente à bosta e beber do vinho das minhas referências culturais.

10 comentários:

Anónimo disse...

Não me digas que não gostas daquela zurrapa feita lá para os lados de Bordéus.
Agora, o sucesso dessa dita "cultura", vêm do formato mesmo, e tem o efeito desejado.
Não estamos cá para reflectir ou nos cultivarmos. Sim para engolir a papa já preparada.
O pessoal é como as moscas.
Quanto à nossa cultura passada, de facto, os meus pais também me diziam que a cultura deles é que era certa. E eu nunca concordei muito com esse ver (dos meus pais). Peço desculpa mas ainda hoje tenho umas pequenas críticas a fazer sobre folclore, fado, etc.
Talvez não musicalmente, mas os textos eram e ainda serão assim-assim.

Manel disse...

Caro anymous
Claro que gosto do bom, e não é nada pouco, dessa Europa que começo a conhecer.
Concordo contigo que o sucesso comercial dessa cultura que tu bem colocas entre aspas, é devido à sua formatação. Essa é a grande realidade, apesar de ter ouvido, nomeadamente em França, vozes e tendências contra essa formatação, nomeadamente aos vinhos que referes. Há mais de 10 anos que bebo Chinon sempre com o mesmo sabor, independentemente do produtor.
Quanto à "cultura passada", e nomeadamente ao folclore e ao fado, tenho críticas a fazer e não são pequenas como as tuas. O folclore está doente pois foi servil e é servil do subsídio. Se calar existem muitos grupos de baixa qualidade e sem capacidades de estudo e interpretação e reanálise. O fado na vertente regional de Lisboa sofre da maleita de um passado submisso associado a estereótipos duvidosos, apesar de algumas tentativas de inovação que são de aplaudir. Relativamente ao chamado fado de Coimbra, o que se vê e ouve é de um passado que se repete, quando a realidade da Academia de Coimbra é outra, e neste caso inovar passará, também, pela participação efectiva do género feminino, pois tal como é apresentado para turista ver actualmente não passa de folclore urbano, uma mostra dos anos 40 e 50.
Mas quero afirmar-te que estes dois géneros, não passam de duas gotas na chamada cultura portuguesa. O problema é mais complicado que complexo.

AC disse...

Como sabem, a abrangência do termo cultura é enorme, quase cabendo o que se lhe quiser associar. Não poderá ser dissociado das raízes de um povo, do seu passado, dos seus usos e costumes. Assim, poderemos ou não gostar do nosso folclore ou do nosso fado, mas, não negaremos que fazem parte da nossa forma de ser.

Eu, não rejeito o que somos. Não gosto particularmente de fado, abrindo duas excepções para Ti Alfredo Marceneiro e João Braga. Gosto da generalidade do nosso folclore e particularmente das canções mais tradicionais, excelsamente tratadas nas mãos e vozes da Brigada Vítor Jara ou da Ronda dos Quatro Caminhos.

Tal como o Manel e presumivelmente, o comentador anónimo, também conheço alguma coisa do mundo, do que se passa para lá das nossas fronteiras e, quanto a vinhos, convicção minha, fazemos dos melhores do mundo. Consumi vinhos Franceses, Alemães, Gregos, Italianos, Chilenos e Americanos e não troco nenhum deles por um Duas Quintas, um Cartuxa, ou um Quinta da Bacalhoa.

Cpt

Manel disse...

caro Abel,
Concordo em pleno com o meu amigo em relação à abrangência do termo cultura.
Mas para informação do meu amigo e de todos, tal não é aceite pelos instalados da Gandara. Imagine o meu amigo que a Câmara Municipal de Cantanhede a quando do negócio da Cobai, afirmou e o Diário As Beiras foi arauto, que tal espaço seria dedicado para , pasme-se, CULTURA MAIOIR!
Imagine o meu amigo o que é a cultura maior.
Não me perguntem quem foi o autor de tal bojarda, senão eu digo.
Um abraço
Manel

Tiago Cação disse...

Meu Caro Manel... quanto a isso ando a escrever um artigo sobre a minha trip pelos states. O poder de comprar aqui é fantastico. Ganha-se muito dinheiro. Mas....
o dinheiro, graças a deus, não compra tudo.

Estou farto de ver programas televisivos em Plasmas Gigantes de má qualidade de imagem e do ar condicionado. Prefiro ver televisão, na Minha velhinha ITT (Imagem Fantastica), à Lareira.

Assim que chegar a portugal vou-me arrepender mil vezes de não ficar por cá (pensar que vou demorar mais uns anos a pagar um carro, uma casa, etc ec). Mas enquanto houver cavacas para a lareira... seja o que deus quiser.

Good Bless Portugal...e se não for pedir muito... a mim tambem.

Tiago Cação disse...

Quarta Feira, depois de um café em Amesterdão, Já Estou nas gandaras...

Manel disse...

caro Tiago,
O dinheiro não é tudo, mas faz cá um jeito!
Boa viagem e um abraço.

Cristina disse...

por alguma razão inventámos a saudade!:)))

é neste cantinho que nos sentimos bem ;)e há coisas que de facto não podemos negar...

beijinhos

Anónimo disse...

"pasme-se, CULTURA MAIOR!"
"Não me perguntem quem foi o autor de tal bojarda, senão eu digo."

Atão Manel tás à spera de quê, home??

Manel disse...

Á espera que o sr. presi dente préguntasse, claro.
Não me diga que oibiu o feijão catrino coltural!!?