terça-feira, agosto 05, 2014

Novo Banco da casta do costume

Nuno Ramos de Almeidapublicado em 5 Ago 2014 - 05:00
http://www.ionline.pt/iopiniao/novo-banco-da-casta-costume/pag/-1
Novo Banco da casta do costume
 
Portugal tudo na mesma, continuamos a pagar os buracos e o roubo dos banqueiros. Está a chegar a hora de exigir o fim deste regime de políticos ligados a interesses privados 
O primeiro-ministro frisou que os contribuintes não vão ser prejudicados com os custos dessa medida tomada em relação ao Banco Espírito Santo.
"Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para valorizar os activos do Novo Banco e para diminuir os encargos para os contribuintes portugueses, que serão muito menores do que aqueles que seriam se não tivesse sido feito nada", disse o primeiro-ministro.
Estas declarações parecem-lhes familiares? Estão descansados? Agora façam o favor de substituir BES e Novo Banco por BPN. E fiquem cientes de que são declarações do primeiro-ministro Sócrates em 2009, transcritas em notícia do site da TSF em 11 de Fevereiro desse ano.
Recordemos então a sequência. O BPN tinha um buraco anunciado de 700 milhões de euros, o governo e o então governador do Banco de Portugal garantiram-nos que tudo estava sob controlo. No final, estamos ainda a descobrir o buraco do BPN. Está entre 5 mil e 8 mil milhões de euros pagos pelo contribuinte, e o banco foi vendido a um privado por 40 milhões de euros. Neste momento ninguém está preso, os inúmeros políticos e ministros que estiveram no BPN continuam a ser gente feliz e com dinheiro. Lembrem-se das simpáticas mais-valias das acções do SLN ganhas pelo actual ocupante de Belém. Em compensação, a maioria dos portugueses estão muito mais pobres. A crise portuguesa deu cabo da vida da população e continuou a enriquecer os muito ricos e os políticos que eles empregam.
Dizem-nos que o caso do BES é muito diferente dos casos BPN, BCP, BPP, Banif. O banco é sólido, dizem com voz poderosa. "O banco novo, Novo Banco, não vai custar um cêntimo aos contribuintes." O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, repetiu isso, várias vezes, na sua comunicação ao país na noite de domingo.
Voltem a recordar-se, foi o mesmo governador que garantiu ao longo deste ano a idoneidade bancária de Ricardo Salgado. Foi este mesmo governador que garantiu há menos de um mês que o BES era sólido. Foi o Presidente da República, Cavaco Silva, que disse, e Passos Coelho fez coro a 11 de Julho, que "os depositantes podem confiar no BES".
O que sabemos é que os contribuintes vão emprestar mais de 4400 milhões de euros, do empréstimo da troika que o Estado português garante com os nossos impostos, a um sindicato bancário que vai "sanear" o banco e vendê-lo a um privado. Pode garantir-se que não vamos pagar um centavo? Tanto como se podia garantir que o BPN não nos ia custar um cêntimo Se o BPN tivesse sido vendido por 8 mil milhões, em vez de 40 milhões, claro que os contribuintes não seriam penalizados. Mas pensem: na sexta feira o valor em bolsa do BES era 674 milhões de euros e agora querem convencer-nos que o vendem por mais de 4400 milhões de euros.
Por isso, é preciso apoiar as pessoas que não querem mais ser roubadas e que vão no próximo sábado às 15 horas para a frente do BES. Não há democracia com corrupção. É preciso acabar com este regime de banqueiros que usa quem trabalha e os reformados como porta- -moedas para salvar os amigos. Temos o direito a decidir que economia queremos: se para salvar os empregos se os banqueiros. E façam o favor de devolver o país - sequestrado por um regime de políticos que saltitam alegremente nos grupos financeiros privados - aos portugueses. Democracia significa o governo do povo, com o povo e para o povo, e não esta roubalheira.
Editor-executivo
Escreve à terça-feira
 

segunda-feira, agosto 04, 2014

Eis o cão

 

Eis o cão

por Sérgio Lavos

E assim se consumou a fornicação. Em directo para o país, um governador de um banco (ainda que de Portugal) anunciou ao povo a solução milagrosa. O acontecimento é extraordinário por várias razões.
Primeiro, a mentira: que não é uma nacionalização, que nenhum dinheiro público irá ser gasto no BES. Claro que os 4 500 milhões (para começar) são um empréstimo da troika pelo qual estamos a pagar juros e claro que esse dinheiro, doravante emprestado ao fundo de resolução, nunca irá ser devolvido. E porquê? Quem não tiver memória curta e não papar a converseta dos comentadólogos televisivos lembra-se do exemplo do BPN, com um buraco que começou por ser de 800 milhões e já vai nos 6 000 milhões de euros.
Segundo, a sensação de que a bullshit atingiu níveis nunca antes vistos. Depois de várias semanas em que vários agentes (políticos, o PM, o PR, o governador) nos garantiram que o BES era um banco sólido, anuncia-se a falência e o nascimento de uma nova instituição financeira e todos os comentadores aplaudem, como se não estivesse a acontecer o maior escândalo financeiro da História recente. Tudo passa por normal. A newspeak faz o resto: não há "nacionalização", mas sim "resolução", não há falência de um banco, mas um simples nascimento, como se o antigo BES nunca tivesse existido. A absoluta anormalidade de uma falência monstruosa passada para o público sob uma capa de normalidade inevitável. É tanta a aparência de normalidade que até a excitação dos comentadores de economia nos canais de notícias serve o propósito propagandístico: com sorrisos rasgados elogiam o discernimento da solução encontrada, como se esta pudesse apenas trazer um radioso futuro ao país.
Terceiro, o mais incrível de tudo: parece que deixámos de ter primeiro-ministro e que o líder da gloriosa pátria passou a ser Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal. Passos Coelho, a banhos no Algarve (com metade da população), lava as mãos como Pilatos e não dá a cara pela solução, escondendo-se na casa alugada de Manta Rota como o cão cobarde que é. Quando estão em causa a falência e a capitalização com dinheiros públicos do maior banco privado português, Passos mostra mais uma faceta da sua absoluta mediocridade, e por puro calculismo político não assume a tomada de decisão, como se fosse Carlos Costa o responsável pelo destino a dar aos 4 500 milhões emprestados pela troika. Não há memória de tal demonstração de cobardia política, de tanta cobardia pessoal. A imagem de Passos Coelho em trajes menores passeando pelo areal de Manta Rota enquanto fala para as câmaras sobre a falência do BES com a leviandade de um inimputável ficará como corolário de uma governação marcada por uma trágica sucessão de actos e acontecimentos indignos. E sim, estamos todos de parabéns.

http://365forte.blogs.sapo.pt/eis-o-cao-249553
 

sexta-feira, agosto 01, 2014

Espírito Santo — Uma força que você precisa em sua vida

 
 
Espírito Santo Uma força que você precisa em sua vida

Construtores do caos

Construtores do caos

por VIRIATO SOROMENHO MARQUES29 julho 2014
 
O caso GES-BES tem suscitado uma pergunta simples: como foi possível que gravíssimas práticas fraudulentas tivessem escapado durante anos à vigilância das autoridades de regulação, incluindo à vigilância da troika sobre o setor bancário? A resposta é tão dura quanto simples: nos últimos 30 anos muitos governos (de direita e de esquerda) foram responsáveis pela criação dos alçapões e das opacidades que transformaram o sistema financeiro europeu (e mundial) num campo minado onde aventureiros põem em perigo a segurança de milhões de pessoas. Em 1933, em plena Grande Depressão, o Congresso dos EUA produziu uma lei (Glass-Steagall Act) que restaurou a confiança no sistema financeiro: separou e protegeu os bancos comerciais, face aos bancos de investimento. Por outras palavras: os bancos que recebiam as poupanças dos depositantes e que emprestavam às empresas na economia real não podiam fazer operações especulativas com produtos financeiros. Durante décadas essa higiénica distância permitiu prosperidade económica, a par de visibilidade e eficácia no trabalho dos reguladores. Contudo, o lóbi financista, embalado pelo mantra do neoliberalismo, não descansou enquanto não meteu no bolso os governos e os parlamentos necessários para misturar tudo de novo. Em 1999, o Congresso americano revogou a lei de 1933, regressando à promiscuidade especulativa. Por todo o lado, incluindo a UE, as leis "liberalizaram-se", no sentido de criar obscuridade, onde antes havia transparência. Criaram-se condições para mascarar a exposição da poupança das famílias, no labirinto arriscado das ações, das obrigações e de uma miríade de derivados toxicamente imaginativos. Os políticos que se queixam dos banqueiros deveriam ter vergonha. O caos habita nas leis que eles próprios assinaram. Seria interessante saber como e porquê...
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=4051730&seccao=Viriato+Soromenho+Marques&tag=Opini%E3o+-+Em+Foco#.U9fDT5DAcQA.facebook