O peido que a nêga deu quase não passa no cu
A nêga tinha comido
Da panela de um cigano
Pimenta, sebo e tutano
Cebola e peba dormido
Foi tão grande o estampido
Que se ouviu no Pajeú
Toda praga de urubu
Da caixa prego desceu
O peido que a nêga deu
Quase não passa no cu
Na fazenda Gado Brabo
Num casamento que havia
Comeu tanto nesse dia
Mocotó, feijão, quiabo
Meia noite abriu do rabo
Defecando o que comeu
Toda prega se rompeu
Na porteira do baú
Quase não cabe no cu
O peido que a nêga deu
Quando o peido quis fugir
As tripas se revoltaram
E o cu do peido vedaram
Para o peido não sair
O peido não quis pedir
Mas o cu se arrependeu
O peido inchou e cresceu
Do jeito de um cururu
Quase não cabe no cu
O peido que a nêga deu
cu seboso e vagabundo
O peido tinha razão
Um fundo fazer questão
De um peido passar no fundo
Mais veloz como um segundo
Esse peido endoideceu
Fez finca-pé no "suru"
Quase não cabe no cu
O peido que a nêga deu
Depois da grande explosão
A nêga se aliviou
A meninada apanhou
"Caco" de cu pelo chão
Pano de fundo e botão
Caroço e casca de umbu
Uma chibata de angu
Do entre perna desceu
O peido que a nêga deu
Quase não passa no cu
Não foi brincadeira não
Quando o rabo estremeceu
O peido que a nêga deu
Ribombou como um trovão
Ela firmou-se no chão
No tronco de um mulungu
Levantou o mucumbu
Abriu a tripa gaiteira
Quando o peido fez carreira
Quase não passa nu cu
Ela não tem cerimonha
De peidar seja onde for
Me disse Joaquim, senhor
Que essa nêga senvergonha
Viciou-se na maconha
Mocotolina e pitu
Bebe mais do que timbu
No samba de Zé Bedeu
O peido que a nêga deu
Quase não passa no cu
Quase não pode passar
O chefe da caganeira
O peido encontrou barreira
Deu vontade de voltar
Pois quem quer se libertar
Enfrenta até canguçu
Depois do maracatu
A dona do cu gemeu
O peido que a nêga deu
Quase não passa no cu
Eu não conheço valente
Por muito brabo que seja
Que não peido na peleja
Vendo o perigo na frente
Com o medo que a gente sente
Mais ligeiro o peido vem
Empurrado por xerém
Cebola, feijão, quiabo
Dizer na porta do rabo
O valor que o peido tem
No mundo não há ninguém
Pra saber mais do que eu
O valor que o peido tem
E o peido que a nêga deu
A nêga peidou peidou num trem
Que ficou de bunda pensa
Um nêgo pediu licença
Soltou um peido também
A nêga disse meu bem
peido grande só o meu
Vale por trinta do teu
Peidei melhor do que tu
Quase não cabe no cu
O peido que a nêga deu
Assim que o peido passou
Fez a nêga uma careta
A bunda ficou mais preta
O cu abriu-se e fechou
Um chifrudo perguntou
O que foi que aconteceu?
Um veado respondeu:
Ainda não sabes tu!
Quase não cabe no cu
O peido que a nêga deu
O peido é coisa comum
Chega para todo mundo
Mas de não passar no fundo
Talvez não haja nenhum
Quando a nêga soltou um
Fedendo a defunto nu
Não escapou urubu
Quem tinha venta perdeu
O peido que a nêga deu
Quase não passa no cu
peido não sabe o que faz
É comum cego sem guia
Quase o peido não saía
O volume era demais
Para passar por detrás
Foi tão grande o sururu
Entre castanha e caju
O caju foi quem venceu
O peido que a nêga deu
Quase não passa no cu
Assim que o peido gritou
Na chapeleta do fundo
Na quadratura do mundo
A voz do peido estrondeou
Velho Amazonas deixou
De lutar contra o Xingu
A preta cor do muçu
Disse ao peido o mundo é teu
O peido que a nêga deu
Quase não passa no cu
Se famoso quis ficar
Dante sofreu na comédia
Shakespeare, na tragédia
Camões em gôa a nadar
Teve Homero de cantar
Os feitos da raça grega
A que ponto o mundo chega
Um peido eterno ficou
Depois que imortalizou
Uma nêga e o cu da nêga
(Otacílio Batista Patriota )
Poeta repentista, nasceu a 26 de setembro de 1923, na Vila Umburanas, São José do Egito, sertão pernambucano do Alto Pajeú.