Sugeriram-me que escrevesse sobre o concelho onde moro, isto é, visto do meu lado. Penso-o fazer sem qualquer tipo de regularidade e sem qualquer garantia de continuidade, pois não sendo um cliente do agora não, aceito que hoje é o que é e que amanhã será de outra maneira, o que leva a fazer tal quando me der na vontade.
Não vejo o concelho de Cantanhede com as fronteiras físicas que nos querem mostrar com o “toque fronteiriço” da marca da rotunda, do tapete asfaltado ou a marcação e sinalização bem vincada, mas sim o vejo em transversal e pairando por fora e por cima dos seus limites administrativos. Vejo-o como um espaço sempre em mudança física e humana, com convivência de diversas épocas, vivências e Tempos, apesar dos desejos teimosos de alguns em persistirem no estaticismos cultural tipo santuário de uma moralidade hipócrita, decadente e bafienta, cuja manutenção é suportada no parece bem e faz de conta de fachada pintada e pseudo modernidade parola, suportada no desperdício que ao ser eliminado mostraria a nudez com que vai vestido o rei.
É que o nosso concelho, não passa de mais uma amostra, tal qual muitos outros, da continuação do espectáculo montado, isto é, “the show must go on”.
Um concelho que nestes mais de trinta anos de poder autárquico tem sofrido significativas mudanças, observo que uma boa parte da política local é suportada numa espécie de caciquismo moderno e subtil, uma subtil herança da ANP, em que existe uma dificuldade na desvinculação e convivência com passado. A democracia é mais uma opção que uma convicção.
Relativamente aos munícipes, estes continuam sempre à espera que se faça qualquer coisita em que de chapéu na mão lá pedem e recebem a palmadinha nas costas a quando dos agradecimentos. O aceitar de um crónico paternalismo herdado de um antigamente que teimosamente varre a Gândara e nem só, que também ajuda a não eliminação da falta de ambição, falta de competição, onde até as ilegalidades e possível corrupção são elogiadas se trouxerem algum, mesmo que só aparente, benefício para a localidade, apesar dos vários défices visíveis e conhecidos.
Claro que isto não é trágico, pois quanto mais baixa for a classificação do quadro actual, o implementar de melhorias com a diminuição do desperdício vivido e existente, mais rapidamente se notará a melhoria na classificação do quadro futuro.
«Sabes o que me lembra este céu? Mais ou menos: a guerra dos astros. Tal e qual. A guerra dos mundos. Um sol maléfico, que tenta destruir a maquete, e sete planetas menores que tentam defendê-la.» [Finisterra, Carlos de Oliveira]
quinta-feira, abril 26, 2007
quarta-feira, abril 25, 2007
terça-feira, abril 24, 2007
quinta-feira, abril 19, 2007
Ler os outros
Li no briteiros, que vivemos num mundo de aparências.
Joshua Bell tocou durante 43 minutos para as 1097 pessoas que passaram pela sua frente. Os que se detiveram para o ouvir contaram-se pelos dedos de uma só mão e o rendimento dos donativos não ultrapassou os 32 dólares e... alguns cêntimos.
Relembro Eugénio de Andrade:
Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
domingo, abril 15, 2007
As mãos
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967
Uma questão de Cultura (3)
Vive a Gândara com o teimoso enraizamento que tem sido bem adubado pelos autos intitulados guardiães “daquilo que deve ser”. Têm sido nestas estruturas de base o apoio do poder local e nem só, apesar de este às vezes se apresentar embrulhado com papel colorido dando aspecto de modernidade nas vestes e nas palavras.
Mas tudo isto não passa da manutenção da velha sociedade paroquial, com mania de fineza, opulência parola, com tiques de sinais exteriores de riqueza e outra manias afins, que ainda não perdeu os piores tiques do atraso, do rancor e pior ainda, o da inveja.
Todo este aspecto de modernidade que se tenta mostrar não é urbanidade, mas sim um cosmopolitismo não urbano e invejoso. Não passa do retrato da sociedade portuguesa, olhada aqui nesta Gândara, mesmo em frente do nosso nariz
terça-feira, abril 10, 2007
Olhando sobre as nuvens
Há vezes torna-se vantajoso olhar sobre as nuvens.
O que se ouviu só na prelecção inicial de uma missa da Confraria da Gândara (Tocha), II capítulo realizado a 31 de Março foi de tal forma nebuloso que aí se sentiu a vantagem de olhar sobre as nuvens.
Parafraseando Bocage, “era alçar e bater que até parecia f…… E o que parece, é!
Foi com cara de riso de muitos que se foi ouvindo a infeliz intervenção do padre, o senhor José Quitério, que tanto lustro passou no presidente da Câmara de Cantanhede que encontrava sentado em pleno altar, mais à sua acção política, que até o nosso homem se sentia mal na cadeira. Tanto elogio que até fedia. Mas ainda bem que o fez, pois fiquei a saber que o dinheiro da minha contribuição autárquica serviu para os toques de duvidoso gosto do sino que não deixa dormir as pessoas do largo da vila, onde felizmente não moro. Mais caricato foi a encenação do convite tardio, já com a cerimónia iniciada, efectuado pelo padre ao presidente da Junta de Freguesia da Tocha, promovendo o autarca a presidente da nossa paróquia. E fiquei também a saber mais umas coisas pró fundamentalismo religioso sobre a Constituição Europeia. Era de comentar, não havia necessidade.
O que ficou, ou pareceu ficar, foi a entrega de uma encomenda mal embrulhada. Não sei quem encomendou tal discurso ao senhor José Quitério, mas sei que a intervenção inicial da missa do senhor José Quitério, se não era, parecia ser uma autêntica mostra da promiscuidade existente entre púlpito e politiquice de discurso mal elaborado.
Sorte teve a girafa!
Assine aqui Sr. Presidente
domingo, abril 08, 2007
Procissão
Encontro esta notícia (Clicar aqui ) e percebo a importância do negócio das religiões em permanecerem estáticas e em se afirmarem infalíveis.
Eu que quando erro, aprendo, evoluo e compreendo o negócio, mesmo até quase duvidando do meu próprio cepticismo. Mas dar 6.000 euros, em leilão, só par ir na procissão como figurante de Maria Madalena é obra! Um puro exibicionismo que se torna urgente em importar para colmatar os deficits dos nossos municípios.
Depois de investir em festas só cá faltava o investimento em procissões! É só uma sugestão.
sábado, abril 07, 2007
Favas à gandaresa
quinta-feira, abril 05, 2007
Uma questão de Cultura (2)
A questão cultural local que está relacionada com as autarquias, é neste momento a actual solução da continuidade, na repetição da fórmula “panis et circus”, em que os números apresentados ao espectáculo na tenda do circo, mesmo mudando o cabeça de cartaz, apontam na política assente no gasto e na redistribuição, números estes que têm sido aplaudidos no passado conforme as circunstancias em função dos diversos públicos presentes ao espectáculo, isto é, mais do mesmo.
Partindo do ingénuo princípio que o número do gasto deixa de ser levado à pista, ficando assim o número circense da redistribuição. A pergunta que coloco é se existe riqueza para distribuir. Ora como a riqueza não aumenta e o passo dado tem sido maior que a perna, a fórmula apresenta-se como estafada, em que as autarquias (Câmaras e Juntas de Freguesia) se têm apresentado mais como redistribuidoras e gastadoras de uma parte dos impostos arrecadados pelo Estado, isto apesar dos enfeites, laços e fitas e aspecto lavadinho para acompanhar a moda. Alegremente vamos empobrecendo, enquanto o dinheiro para pagar ao gaiteiro tem que aparecer de qualquer jeito.
quarta-feira, abril 04, 2007
Uma questão de Cultura (1)
As condições económicas locais estão ligadas, mais do que muitos possam imaginar, à globalização que vivemos.
Foi também com o contínuo crescimento desta dita globalização, e graças também a esta, que vimos surgir um aumento de uma “classe média” que consume e comercializa uma grande gama de produtos, que com o esbatimento das fronteiras europeias relativamente aos mercados e produção orientais tão ávidos de matérias primas e energia, nos colocam à nossa frente produtos que nos tornam a nós, europeus, receosos em relação a esta nova situação de concorrência internacional.
Ora assim, a economia local vai empobrecendo, pois os ganhos que tinha-mos com o dito comércio internacional desapareceu faz tempo, e a Europa já não tem subsídios para nos dar.
Mas o circo autárquico continua com festas e mais festas, desperdício e mais desperdício. É só dar uma volta e ver com olhos de ver, pois ter um olho bem no meio da testa não será condição necessária.
terça-feira, abril 03, 2007
Modernidade
Os sapatos de Mia Couto
"Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos. À porta da modernidade precisamos de nos descalçar. Eu contei Sete Sapatos Sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher e sete é um número mágico:
. Primeiro Sapato - A ideia de que os culpados são sempre os outros.
. Segundo Sapato - A ideia de que o sucesso não nasce do trabalho.
. Terceiro Sapato - O preconceito de que quem critica é um inimigo.
. Quarto Sapato - A ideia de que mudar as palavras muda a realidade.
. Quinto Sapato - A vergonha de ser pobre e o culto das aparências.
. Sexto Sapato - A passividade perante a injustiça.
. Sétimo Sapato - A ideia de que, para sermos modernos, temos de imitar os outros.
domingo, abril 01, 2007
O supositório
A azia continua a arder nas mentes mais retrógradas da nossa sociedade. (clicar ) (clicar tb aqui)
Se quiserem ter centros de aconselhamento, tudo bem, que os organizem! Mas lembro que a uma mulher que opte pelo aborto, passar por esses centros nunca deverá ser obrigatório. Centros de aconselhamento sim, centros de desaconselhando é que não.
Agora aconselho a esses moralistas a passar, também, atestados de virgindade. Se a azia continua a apertar, este meu centro de aconselhamento aconselha a toma de um supositório.
Subscrever:
Mensagens (Atom)