sexta-feira, setembro 20, 2013

quando a tarde morria


quando a tarde morria

era no cais, quando a tarde morria, o velho cata

névoa de olhos espetados no céu, tinha a face

coada de rugas e os lábios de cor púrpura. era no

cais, quando a tarde morria. de cachimbo na

boca, acenando, o velho entreviu a sereia,

despejada das ondas, estendida na areia, da

maré. era no cais, quando a tarde morria. os

olhos do velho inundavam a sereia. e os ventos,

 escultores mareiros, moldavam-lhe o vestido ao

 esplendor dos seios…

 

António Canteiro

o silêncio solar das manhãs

Poema tirado da obra galardoada com o prémio nacional de poesia Sebastião da Gama 2013

quarta-feira, setembro 18, 2013

Eigenlob stinkt

Post em alemão
“Gemeinsam erfolgreich”.
“Juntos, vamos ter sucesso”.
Esta é a possível tradução do slogan merkeliano. Uma tradução tuga de quem mal consegue associar uns termos germânicos.
Os marqueteiros sabem do seu trabalho, que todos nós nos sentimos bem quando nos associam a um sucesso qualquer, apesar de eu não simpatizar coma senhora, mesmo após aturado fotoshop da fota, nem sequer a acho atraente, antes pelo contrário, e não comungar, nem co concordar com as suas principais linhas ideológicas.
Lá como cá, quem tem lugar na peanha do altar do poder, apresenta os seus cartazes de propaganda mais brilhantes, de melhor feitura de materiais, boa colocação e melhor localização.
“Gemeinsam erfolgreich” é um slogan que foi pago a peso de ouro. A equipa de marqueteiros fez um bom trabalho e senhora Merkel pagará bem, disso temos a certeza, pois até tem dinheiro para anunciar, ouvi hoje numa rádio alemã, que os assalariados temporários iriam ter 5% de aumento salarial. O excedente orçamental da Sra. Merkel assim o dá para usar a seu belo prazer eleitoral, e lá estou eu a lembrar que o dito excedente foi obtido à custa dos povos malandros do sul.
Volto agora ao slogan “Juntos, vamos ter sucesso”, repetindo os meus parabéns ao seu criador e sua equipa, pois quem tem dinheiro tem vício e é de aproveitar o cheque que há-de vir, estou a fazer a comparação possível com quem na nossa politiquice tuga e local, que apresentando um bom cartaz de propaganda de muitas centenas de euros, boa foto, bom tratamento de fotoshop, e auto definindo-se como pessoas de confiança, que acaba por replicar o velho ditado alemão “Eigenlob stinkt”.
O auto elogio cheira mal.

quarta-feira, setembro 11, 2013

A legalidade do tacho

A quantidade de panelas que por aí há já transformados em tachos como utensílios já considerados obsoletos dado que são muito baixos. É que é a fundura, logo quantidade ou capacidade que distingue um tacho de uma panela. Como sabemos dos "paneleiros" fazedores de boas panelas, devem ser estas as preferidas, pois só nestas se fazem as melhores cozedoras conservadoras do bom paladar dos alimentos. Experimentem fazer um cozido à portuguesa, com todos os devidos ingredientes numa panela, bem cardada, e depois num simples tacho. Que diferença de paladar.
E eu, que nunca fui sequer funileiro, apesar de saber deitar pingos, sei que nesta aldeia-jardim à beira-mar plantada de quem merecia bem uma boa recompensa pelo trabalho desempenhado no serviço da coisa, pois ainda não viram recompensados todos os seus esforços.
Só teve direito a um pote, também conhecido por panela, com três pernas, em certas regiões do país, em ferro bem forjado, como bem forjadas foram as saídas dos pobres que se abarbataram a pensões de reforma obscenas. E ela, quando de lá sair? Vai ter direito a uma como a do Gajo ou, pelo contrário, vai ver-se a mãos com uma simples pensão relativa a um salário mínimo? O Coiso disse ir mandar rever tais situações, aberrantes. Estaria a pensar na D. Marafona.
 

(texto subversivo e obsoleto de autor não identificado)

 

segunda-feira, setembro 09, 2013

quinta-feira, setembro 05, 2013

Confraria do porco assado

Anda tudo muito calado pela Praça do Marquês.
Tudo caladinho, como quem anda de mansinho, que não quer que se saiba que existe. A tal agregação de freguesias e a redução de cadeiras assusta a quem se vê empurrado para o mercado de trabalho, num excesso de caciques para tão poucas capelas. Depois, a guita para a obra feita não existe, foi em pão e circo levada, e o encosto cá fora já não é o que foi.
Não se definiu o papel das autarquias, em especial as juntas de freguesia, esse nível raso do Estado, nem se aproveita o reviralho que por aí anda para mudar este estado de coisas. Definha-se em obsolescência prevista de caciques excedentários, num poderzinho triste e pedincha, à espera que a coisa pingue da seca teta.
É que uma campanha com confraria do porco assado é outra fartura.

terça-feira, setembro 03, 2013

Não se fala a ninguém, tal nunca aconteceu.


A noite é no largo toda inundada de luz como um campo de futebol, daqueles do Euro 2004, da primeira divisão. Se estes luzeiros todos existissem quarenta anos atrás, até os treinos do União teriam sido aqui no largo e os miúdos, os tantos que havia na altura, jogariam à bola todas as noites, tal qual o faziam nas noites de luar de Agosto. Tudo vazio, e ela cheirosa convidava-o a entrar com naturalidade. Como não se conta, tal não aconteceu. Depois de um tempo de longas e ofegantes práticas olha o largo vazio, cheio de luz potente e branca a cegar o santuário. Ninguém para usufruir do fruto dos holofotes, fotões ali colocados pelo senhor presidente, a obra feita, enquanto ele olha as fotos de casamento ali colocadas sobre o móvel do quarto. Sai da casa, atravessa o largo iluminado naquela hora de luz que tudo ilumina e que não dá para ver se alguém passa. A fotografia sorridente do ausente marido lá está sobre o móvel a olhar para ela. Não se fala a ninguém, tal nunca aconteceu, nem poderia acontecer ou vir a acontecer, não é?
(Manuel Ribeiro)
Texto inédito e subversivo.

Vinho da mesma pipa, farinha do mesmo saco.

Tarde percebi que, se o desenvolvimento técnico serve para manobrar objectos, também serve para manipular pessoas.
Na aldeia global em que habitamos, não é f...ácil limpar a chusma de promotores da normalidade que gira em torno dos superiores interesses dos patrões do mundo; é ver pedagogos, terapeutas, psicólogos e professores, prosélitos de reciclagem de almas e esforçados politólogos - e mais o bocejo dos juízes, o traço dos burocratas e o bastão das policias -, tudo irmanado no controle da opinião pública.
É um exército de salvação, que transforma a politica na arte de vender ilusões na vida terrena, tal como a religião vende ilusões celestes. Que admiração, se ambas - politica e religião - são vinho da mesma pipa. (..)."

Autor: Cândido Ferreira "in" Setembro Vermelho

domingo, setembro 01, 2013